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PCP fez manifestação à porta do Ministério da Saúde (e atirou culpas ao PS e à direita)

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Miguel A. Lopes/ Lusa

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa

Esta terça-feira, o PCP voltou às manifestações em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Jerónimo de Sousa culpou o PS e a direita pelo “saque dos grupos de saúde” no setor.

Já era noite quando uma centena de manifestantes, vindos do largo do Saldanha, dobraram a avenida da República para a rua João Crisóstomo num desfile que parou em frente ao ministério para ouvir, em dez minutos, Jerónimo de Sousa criticar PS, PSD e CDS por deixarem os “interesses instalados” parasitarem o SNS.

“Parasitando-o e utilizando-o como instrumento na transferência de centenas de milhões de euros de recursos públicos para a acumulação privada”, afirmou o secretário-geral do PCP numa tribuna improvisada em frente do Ministério da Saúde.

Jerónimo aproveitou a ocasião para realçar que “o SNS atravessa dificuldades, por exemplo o desinvestimento” e que a culpa é dos sucessivos governos, do PS e da direita. Acusou ainda “os privados” de pouco ou nada terem ajudado na resposta à pandemia de covid-19 desde março.

Só o Serviço Nacional de Saúde “provou ser a solução para garantir em pleno o direito à saúde e na resposta ao surto epidémico”, concluiu, antes de defender que tipo de resposta o país deve dar.

Numa frase, o secretário-geral do PCP esclareceu o que deve ser feito: “Reforçar o SNS, garantir a proteção individual, dinamizar as atividades económicas, sociais, culturais, desportivas e exercer os direitos políticos e sociais e combater o medo e os seus propagandistas.”

A manifestação em frente ao Ministério da Saúde foi uma das “cerca de três dezenas” organizadas noutros pontos do país pelo PCP que culminou uma ação nacional, iniciada há um mês, com o lema “combater a covid-19, recuperar atrasos, garantir o acesso aos cuidados de saúde”.

Entre sair pela “lei da vida” ou ficar “mais um bocadinho”

Jerónimo de Sousa admitiu sair em 2019 porque “é da lei da vida”, mas desde setembro que tem alimentado o cenário de “ficar mais um bocadinho”.

A menos de duas semanas do XXI congresso nacional de 27 a 29 de novembro, em Loures, distrito de Lisboa, ainda não se sabe se o operário metalúrgico natural de Pirescoxe (Loures) que foi deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, vai ou não continuar à frente do PCP.

Jerónimo de Sousa admitiu pela primeira vez não se recandidatar à liderança do partido porque “é da lei da vida“, embora frisando não ir “calçar as pantufas” até porque que se manteria como militante comunista, numa entrevista à Lusa em março de 2019. “Toda a gente acaba por envelhecer, é lei da vida”, admitiu.

Nos meses seguintes não repetiu a afirmação, mas manteve-se a dúvida. Uma e outra vez, Jerónimo insistiu que a questão do secretário-geral do partido “não será um problema no congresso”.

Em 20 de setembro, Jerónimo pôs de novo tudo em aberto, no final da reunião de um comité central. Foi a primeira vez que admitiu, implicitamente, continuar à frente do PCP. O secretário-geral aconselhou quem quisesse apostar no que vai fazer a optar por uma “tripla” – “sair, ficar ou ficar mais um bocadinho”.

Nem um mês depois, o próprio alimentou a ideia de continuar ao dizer, em 12 de outubro, numa entrevista ao programa Polígrafo, da SIC Notícias, ao dizer sobre a sua sucessão: “O meu partido precisa ainda da minha contribuição.”

“É o congresso que elege o comité central e o comité central que elege o secretário-geral. Tenho muita confiança no acerto da decisão do comité central, sempre com este sentimento que tenho: o meu partido precisa ainda da minha contribuição. E, sejam quais forem as circunstâncias, há uma coisa que posso garantir: continuarei a ser comunista, continuarei a dar ao meu partido o melhor que puder dar, na medida em que ele deu-me muito a mim também, na minha formação e na forma de estar na vida”, afirmou.

Disse ainda confiar na decisão que os seus camaradas tomarem, antes de ser questionado sobre se esperava vir a ter a confiança do partido: “Não espero nem desespero. Tenho este sentimento de confiança de que haverá um acerto na decisão em relação a essa responsabilidade.”

Passados 12 dias, em 24 de outubro, o Público fez manchete da notícia de que Jerónimo de Sousa continuaria mais algum tempo na liderança, semanas depois de o semanário Expresso admitir que a sucessão de Jerónimo se faça como na década de 1990, em que Carlos Carvalhas foi número dois de Álvaro Cunhal, para, em 1992, assumir a liderança.

O nome para potencial “número dois”, oficial ou informal, segundo o Expresso, é o eurodeputado e candidato presidencial João Ferreira que nada disse ainda sobre esse cenário. Nenhuma das notícias foi desmentida ou corrigida pelo PCP.

O Público escreveu que as regras sanitárias de combate à pandemia de covid-19 têm dificultado as reuniões e o debate interno prévio ao congresso do PCP. Daí que dirigentes comunistas tenham afirmado ao jornal que, segundo as normas e a prática do PCP, uma decisão deste tipo, uma mudança de líder, “teria de ter mais envolvimento da militância” e “não se pode tomar com tão pouco espaço de discussão interna.”

Na sexta-feira, numa entrevista ao Observador, Jerónimo de Sousa voltou a não dizer o que vai fazer, remetendo a decisão para o comité central, apesar de deixar também esta frase: “Não posso admitir que seja o escolhido.”

ZAP // Lusa

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