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Património da Lua e de Alcobaça em risco

// Unesco World Heritage Site / Wikipedia; bazil / Depositphotos

Mosteiro de Alcobaça. Ao fundo, a Lua (montagem)

Esporadicamente, surgem golpes de génio. Para alertar para a salvaguarda e proteção do património, a World Monuments Fund divulgou no passado dia 15 de janeiro, a lista de locais selecionados para o seu programa World Monuments Watch.

Esta lista, cuja última atualização tinha sido realizada em 2022, integra 25 locais em risco, a sua maioria localizados em zonas de conflito, como a Ucrânia ou a Faixa de Gaza, ou zonas danificadas por sismos, como a Turquia ou o Japão. Inclui ainda, pasme-se (ou não), o Mosteiro de Alcobaça e a Lua.

Honestamente, não sei com que sentimento fico, ao verificar que esta lista composta por monumentos e locais em franco risco de perda e destruição, devido a catástrofes e guerras, inclui um retábulo que se encontra num monumento português, classificado como Património Mundial pela UNESCO: o Mosteiro de Alcobaça.

Trata-se do retábulo do Trânsito de São Bernardo, uma obra maior da Arte Portuguesa, datada do século XVII. Mas essa análise poderá ficar para um outro artigo.

A World Monuments Fund (WMF) é uma organização internacional que dedica o seu trabalho à sensibilização e preservação do património cultural mundial.

A organização inclui um programa bienal, designado World Monuments Watch (WMW), que prevê o apoio à salvaguarda – incluindo a realização de campanhas de sensibilização, investigação, educação e trabalhos de conservação – de bens em risco, cuja degradação ou perda possa estar relacionada com alguns fatores específicos: as alterações climáticas, o turismo, as guerras e os desastres naturais.

Desde a sua criação, o projeto já investiu mais de 400 milhões de euros, recuperando 350 locais em risco.

Segundo a organização, a Lua integra esta lista de 2025devido ao crescente interesse de grupos privados e aos riscos decorrentes das atividades lunares realizadas sem protocolos adequados para a sua preservação”.

“O reconhecimento é fundamental para proteger artefactos históricos, como a câmara que capturou a alunagem, o disco com memórias deixado pelos astronautas Armstrong e Aldrin e centenas de outros objetos emblemáticos”, diz a organização.

Mas como se processaria essa proteção e salvaguarda? Os artefactos serão recolhidos? Será colocado um chip? Estão previstos trabalhos no local? E quanto custará um missão para ir à Lua resgatar e intervencionar os artefactos aí existentes?

Segundo a NASA, uma expedição à Lua — em 2024 — teria um custo de 1,5 biliões de euros. Numa regra de três simples, este valor daria para recuperar — com os pés bem assentes na terra — cerca de 1300 locais em risco. Estou certo que a ideia não passará por realizar uma expedição propositada para este fim.

Possivelmente, na missão dos futuros astronautas, incluir-se-á algum tipo de medida e tarefa, que preveja a proteção e a salvaguarda dos referidos artefactos. Pouco mais será necessário fazer em termos práticos, até porque segundo a WMF, os artefactos e marcas deixados nos vários locais de alunagem, estão preservados, devido à ausência de vento e água corrente.

Seria também curioso verificar como se iriam reunir as condições para que um técnico pudesse fazer estas intervenções. Não seria fácil encontrar um astronauta com curso de Conservação e Restauro, ou vice-versa. Tudo está regulamentado, com regras específicas para a formação e experiência profissional na área do património.

Mais ainda, quando olhamos para os requisitos para se viajar no espaço: na Europa são apenas 16 os membros que constituem o Corpo Europeu de Astronautas, e desconheço que algum tenha formação em Conservação e Restauro.

Eu até faria esses trabalhos, mas não reuniria as condições para ser astronauta.

Obviamente a ideia de integrar este património nesta lista terá como principal objetivo o alerta para a especial proteção destes bens, evitando futuros saques ou danos nas visitas exploratórias e turísticas, que a curto prazo se iniciarão. É ainda, uma excelente forma de alerta à sociedade, para os riscos e a necessidade de salvaguarda do nosso património.

Por vezes, é necessário olhar mais além — para a Lua — para podermos dar valor ao que está à nossa porta – o Mosteiro de Alcobaça.

Carlos Costa, ZAP //

Carlos Costa
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