Com Ventura na plateia, Passos defende entendimentos AD-Chega. É “assustador”

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Manuel de Almeida / LUSA

André Ventura e Pedro Passos Coelho durante o lançamento do livro “Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade”

Passos Coelho contra o “teatro” político e a “sovietização” do ensino. Houve uma amostra de manifestação a meio da apresentação.

O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho pediu que se dê um “sinal muito forte” para responder aos que expressaram desilusão nas últimas eleições e que não se criem desentendimentos teatrais no espaço político.

Na apresentação do livro “Identidade e Família”, em que marcaram presença os líderes do Chega, André Ventura, e do CDS-PP, Nuno Melo, Passos Coelho defendeu que tem de haver uma capacidade de as pessoas “se entenderem coletivamente” e avisou que não se pode dizer aos eleitores que se tem “muito respeito pelas suas preocupações”, mas não pela escolha que fizeram nas urnas.

“Isso é um bocadinho um insulto às pessoas, não podemos dizer ‘estou muito preocupado com os seus anseios, mas se fizer esta escolha, daqui não leva nada, se fizer aquela escolha, comigo não fala’”, afirmou, nesta segunda-feira.

Sem explicitar os destinatários, mas numa aparente referência a PSD e Chega, o antigo primeiro-ministro disse que “quando há identidades firmadas” não há que ter medo de os espaços políticos “se diluírem ou confundirem entre si”.

“É fundamental olhar para as pessoas que ficaram desiludidas nestes anos (…) e que deram um sinal muito claro nas últimas eleições que estão cansadas disso. É bom que todos aqueles que receberam um sinal de confiança muito forte para pôr fim a isso que ponham realmente fim a isso e que deem às pessoas razões para acreditar que vale a pena fazer um jogo diferente”, disse.

E insistiu: “Temos de salvaguardar esta capacidade de nos podermos entender. Eu sei que, por vezes, no plano da política há uma intenção grandemente simbólica de usar uma certa linguagem deliberadamente para nos desentendermos ou nos fazermos desentendidos”.

“Eu acho que era preferível que oferecêssemos às pessoas uma imagem diferente. Há muitas pessoas que se começam a maçar desse teatro, trata-se de uma teatralização que não é genuína, não é autentica, é tática”, disse, avisando que as pessoas não gostam de ser tratadas “como figurantes ou meros pretextos para outros realinhamentos”.

O antigo presidente do PSD defendeu que “a política só ganha” se as pessoas forem tratadas “com inteligência”: “Deixá-las decidir e, quando decidem, devemos respeitar as suas escolhas e decisões, sabendo que cada um tem a sua fatia, o seu argumento”, disse.

Voltando ao assunto complexo da imigração, uma explicação: “A imigração não se resume apenas a questões de segurança, mas há matérias de segurança que têm de ser acauteladas”.

Sobre o ensino e as famílias, Passos Coelho disse que o Estado precisa de ajudar “as famílias”, mas avisa que as escolas não devem transmitir “ideologia” e “ideias e valores que são muitas vezes opostos àqueles que os pais querem transmitir aos seus filhos”.

“As famílias precisam de ser ajudadas na educação dos filhos, mas dificilmente o conseguiremos com uma espécie de sovietização do ensino”, justificou.

O “brilhante” Passos a presidente?

À entrada, Passos Coelho tinha sido questionado se ficava satisfeito com a presença de André Ventura na apresentação do livro, respondendo afirmativamente: “Fico satisfeito com essa e com a presença de muitas outras pessoas”.

Questionado como responde a quem o acusa de se estar a aproximar do Chega, deixou uma garantia: “Não me diga! Eu sou do PSD, julgo que não há ninguém que tenha dúvidas sobre isso”.

No final, o líder do Chega fez questão de cumprimentar Passos Coelho e elogiou a sua intervenção: “Foi brilhante, como sempre”.

“Já nos cumprimentámos e já o felicitei pela sua eleição e pela prestação que tem tido no parlamento, temos de reconhecer o mérito dos outros. Bom mandato, os meus amigos mantenham uma certa…”, respondeu Passos Coelho, com Ventura a completar a frase com a palavra “cortesia”, tendo o social democrata esclarecido que queria dizer “capacidade de diálogo”.

Aos jornalistas, à saída, Ventura considerou que a intervenção de Passos Coelho tocou mais “em bandeiras do Chega, como a ideologia de género, a família ou a imigração”.

“É justo dizer que há um caminho de convergência na lógica do dr. Pedro Passos Coelho, mas apenas isso. Essa convergência talvez permita um candidato presidencial, porque não Pedro Passos Coelho?”, sugeriu.

A apresentação do livro “Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade” decorreu numa livraria totalmente sobrelotada em Lisboa e, a meio, no exterior, houve um pequeno protesto de cerca de uma dezena de jovens, alguns de máscara, outros com bandeiras arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQI+, que gritavam palavras de ordem, mas que dispersaram antes da saída dos participantes.

“Assustador”

O que Passos Coelho assusta, reagiu Pedro Nuno Santos.

O secretário-geral do PS acha que é “assustador” que o antigo primeiro-ministro “tenha alinhado no discurso da extrema-direita”. E pediu aos jovens que se juntem ao combate a este “regresso ao passado”.

Em entrevista à TVI, Pedro Nuno Santos disse que é preocupante que “a direita clássica, a direita tradicional, Pedro Passos Coelho” assumam “bandeiras que são da extrema-direita“.

O deputado do PS lamentou que “a direita esteja a querer impor uma visão da sociedade e da família“.

“Não há nenhuma imposição sobre uma determinada visão da família, é exatamente o contrário. Vejo muito a direita falar de família natural. Não sei o que isso de família natural, sei que há muitas famílias”, analisou.

E salientou que o Chega “não hesitou em elogiar” as palavras de Pedro Passos Coelho.

ZAP // Lusa

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11 Comments

  1. ” Assustador”, o que é que o homem disse que pode ser considerado assustador? A hipocrisia da esquerda é de bradar os céus, nunca em circunstância alguma ele atacou quem quer que fosse, apenas disse que a família é o pilar da sociedade, e é de facto, implicitamente falou nos vários tipos de famílias e respeita a posição de todos, não vi nada de polémico sinceramente!! Agora é óbvio que também criticou a falta de bom senso e os exageros ideológicos ISSO SIM! Portanto Passos demonstrou uma posição sensata e equilibrada, é verdade que a sua governação foi dolorosa para os portugueses e que cometeu erros, mas demonstra ser sensato!

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  2. “O antigo presidente do PSD defendeu que “a política só ganha” se as pessoas forem tratadas “com inteligência”: “Deixá-las decidir e, quando decidem, devemos respeitar as suas escolhas e decisões, sabendo que cada um tem a sua fatia, o seu argumento”O antigo presidente do PSD defendeu que “a política só ganha” se as pessoas forem tratadas “com inteligência”: “Deixá-las decidir e, quando decidem, devemos respeitar as suas escolhas e decisões, sabendo que cada um tem a sua fatia, o seu argumento””

    Parece-me que ele próprio é que está a tratar as pessoas como se fossem idiotas… o que dizer da vontade de 82% de pessoas que não querem (algumas até odeiam) o chega nem andré ventura e as que votaram na AD, confiando na promessa do Montenegro do “não é não”!?…

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  3. … “Assim se faz um canalha.
    Se a memória me não falha, já te mandei pró
    Caetano.”.
    Zeca Afonso, in memoriam.

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  4. E o dr. Luís Montenegro, como fica, no meio deste idílio amoroso entre Ventura e Coelho?
    Ficará com fúria ou ficará com ciúmes?
    Alguém arrisca adivinhar?

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  5. Com estes dois retrógrados , ao dar-lhes importância e pior (Votos) , é para uma Ditadura do tempo da antiga Sra. , que para lá iremos . A Democracia atual tem os seus defeitos , mas prefiro a minha liberdade de opinião e de expressão , a un Salazarismo requentado e repressivo !

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  6. Tudo o que não for o que a esquerda diz, é Salazarismo.
    “Ou pensas como eu, ou és fascista”.
    Se defenderes que não devem ser impostos ideais de qualquer tipo nas escolas, és retrógrado, porque moderno é ser LGBTQ+
    Se o povo votar à esquerda, é democrático, mas se votar à direita, é tonto e a favor da ditadura!
    Isto sim, é “liberdade de expressão”! Isto sim, é “democracia”! Isto sim é “liberdade de pensamento”!

    Ficaram parados no tempo e sem qualquer capacidade de crítica. Ou propositadamente sem capacidade de crítica.

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  7. O “politicamento correcto”, hoje, é uma OBRIGAÇÃO cumprir. Não há diálogo, não há discussão.
    Valores… já eram.

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  8. Na minha mais humilde opinião, não seria de esperar que esta niva governação se preocupasse mais em resolver as questões relacionadas com o viver dos Portugues no que a habitação diz respeito, aos salários, aos impostos, a corrupção activa e passiva, a imigração (muito importante para o nosso desenvolvimento) controlada, em ajudar as famílias (sejam elas quais forem…) a conseguir por alimentos na mesa, a balizar os preços dos alimentos e das energias, na verdade, preocuparem-se com aquilo que nos aflige a todos, e não andarem a dar tretas como, porem-nos preocupados e a pensar com quem, quando e como o meu vizinho faz sexo?! Hummm…. manobras de distração, lá vem mais do mesmo e nós a engulir…
    Vai que agora vamos adoptar um consciência colectiva de que a falta de qualudade de vida em Portugal é culpa das mulheres que abortam, os homossexuais ou os que não se identificam com género nenhum ou com todos ao mesmo tempo… haja paciência… eu é que começo a não me identificar com nada desta treta, eu quero é poder ter acesso a uma casa condigna, a um ordenado condigno e a dar à minha família uma boa condição de vida, alimentar-me com dignidade, isso sim, penso ser prioridade de todos os Portugueses.

    Bem hajam

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