Partidos de extrema-direita avançam sobre Estrasburgo mas aliança será difícil

Pietro Naj-Oleari / European Parliament

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A extrema-direita poderá obter ganhos significativos nas eleições europeias deste mês mas terá dificuldade em construir compromissos no Parlamento Europeu, de acordo com especialistas em movimentos políticos extremistas.

“Creio que estes partidos têm uma ligação em termos de nacionalismo, populismo, oposição à imigração, mas também têm muitas diferenças entre si, e trabalhar em conjunto será para eles difícil”, disse à Lusa Ruth Wodak, diretora para a Áustria do Observatório Europeu do Racismo, da Xenofobia e do Anti-semitismo.

No final do ano passado, o jornal Der Standard noticiou uma reunião em Viena de membros seis partidos da extrema-direita europeia: o FPÖ (Áustria), a Frente Nacional (França), a Liga Norte (Itália), o Vlaams Belang (Bélgica), o Partido Nacional (Eslováquia) e os Democratas (Suécia). O líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache disse ao jornal que “há muitos partidos patrióticos importantes na Europa”, e que a reunião se destinava a criar entre eles “uma parceria para ter um grupo parlamentar forte” no europarlamento.

Os partidos de extrema-direita estão atualmente distribuídos por vários grupos ou isolados em Estrasburgo. O maior grupo da extrema-direita é o Europa da Liberdade, que tem apenas 33 eurodeputados (contra 274 do Partido Popular Europeu e 195 do grupo socialista). As sondagens sugerem que este ano os partidos populistas poderão aumentar muito a sua votação face a 2011, dando nova importância à “parceria” a que Strache se referiu.

Mais o que os separa do que o que os une

Um entendimento entre os vários partido populistas poderá, contudo, ser difícil de atingir.

“É verdade que são todos partidos de extrema-direita, mas há uma diferença entre partidos extremistas, como o Aurora Dourada [Grécia], que são antidemocráticos, e partidos radicais, como a Frente Nacional [França], que não o são”, disse à Lusa Cas Mudde, investigador holandês que estuda a extrema-direita europeia.

Ruth Wodak encontra vários pontos em comum entre os vários movimentos da extrema-direita: “Todos estão orientados para uma fantasia de uma nação homogénea, que nega a diversidade das nossas sociedades”, diz a investigadora austríaca. “Todos desejam um estado-nação homogéneo composto por autênticos austríacos ou verdadeiros finlandeses ou coisas do género. É basicamente a consanguinidade, um conceito muito tradicional, nativista, da nação.”

No entanto, “para lá destas semelhanças há muitas diferenças”, que explicam a dificuldade em “encontrar um quadro de referências comum”.

“Por exemplo, o Jobbik [Hungria] tem uma espécie de organização paramilitar, tal como o Aurora Dourada [Grécia], e também têm um programa fascizante – o Aurora Dourada é essencialmente neonazi”, acrescenta Wodak.

“Não se pode comparar [o holandês] Geert Wilders com isso, nem o partido dinamarquês ou os Democratas da Suécia. Não são fascistas. O UKIP [Reino Unido] é anti-imigração e anti-UE, mas não tem nada a ver com o Jobbik.”

Outro obstáculo a um entendimento entre as extremas-direitas europeias é que “todos estes partidos são muito orientados para o poder, e são dirigidos por figuras autoritárias, como Marine Le Pen ou Strache“, afirma ainda Wodak. “Será difícil que encontrem compromissos num programa conjunto, e se esse programa for só ‘somos céticos quanto à UE‘, então ao primeiro pormenor começará a haver grandes diferenças”, conclui a investigadora austríaca.

/Lusa

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