Principais consequências registam-se ao nível da saúde mental, com muitos idosos a admitirem que se sentiram mais sós e com mais mostras de ansiedade.
Os idosos, a quem foi pedida especial cautela durante a pandemia por serem o maior grupo de risco, sofreram um “impacto significativo” motivado pela crise sanitária e pelas medidas implementadas tendo em vista a limitação da circulação do vírus. Esta é uma das conclusões de um estudo feito por investigadores portugueses que contou com a participação de 1080 pessoas, com idades superiores aos 60 anos, e que decorreu entre junho e agosto de 2020. De facto, 16% dos inquiridos afirmou não ter saído de casa e 80% disse não ter visitado os seus familiares pelo menos com a regularidade com que faziam anteriormente.
O estudo resultou num artigo científico intitulado Impacto da covid-19 na População Idosa em Portugal: Resultados do Survey of Health, Ageing and Retirement que foi publicado na revista Acta Médica Portuguesa. Nele é possível ler que houve uma “diminuição da socialização e na deterioração de hábitos de vida” das pessoas mais velhas, com impacto na saúde mental.
Como referido anteriormente, os investigadores do Centro Hospitalar Lisboa Norte, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho destacam que “aos mais velhos foi pedida especial cautela, muitas vezes com os bens essenciais levados a suas casas”, o que resultou “num confinamento importante e grande alteração das suas rotinas, com um pano de fundo de incerteza“.
De acordo com os dados divulgados, dois 1080 participantes, 55% tinham entre 60 e 69% anos, 27% tinham entre 70 e os 79 anos, 15% tinham entre 80 e 89 anos e 3% tinham mais de 90 anos. No que concerne aos resultados, 16% dos inquiridos disse não ter saído de casa desde o início da pandemia e só 23% revelaram ter mantido “os mesmos hábitos de sair de casa para fazer uma caminhada, tal como antes da pandemia”. Na mesma linha, 29% dos participantes afirmou que não voltaram a fazer caminhadas e 35% reduziram estes hábitos, cita o jornal Público. “Apenas 8% dos inquiridos mantiveram as visitas a familiares com a mesma regularidade e mais de 80% deixaram de visitar ou visitaram familiares com menos regularidade“, pode ler-se no artigo.
No que respeita à saúde mental, 31% dos participantes admitiram sentir-se mais sós desde o início da pandemia, ao passo que 80% referiram ter mais ansiedade ou nervosismo desde o início da pandemia e 73% afirmaram sentir-se mais tristes ou deprimidos. Em 30% dos inquiridos, houve perturbações no sono. “Sabe-se que existe uma associação importante entre o sedentarismo e a depressão nos mais velhos, sendo a atividade física uma estratégia preventiva e também curativa da depressão nos idosos“, especificam os investigadores.
Num outro campo, o dos cuidados de saúde, o estudo revela que 12% dos inquiridos “desistiram de algum cuidado médico por medo de serem infetados”, enquanto 56% revelaram que “houve um atraso nos seus tratamentos devido à pandemia”. Em 8% dos casos, esses tratamentos terão sido “negados“. Ainda assim, mais de 80% das pessoas consideraram que o seu estado de saúde não se alterou como consequência da pandemia.