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“Paciente zero” em Nova Iorque recorda primeiros dias da doença

Justin Lane / EPA

Nova Iorque é o epicentro da pandemia de covid-19 nos EUA

O “paciente zero” do novo coronavírus em Nova Iorque e iniciador de uma forte transmissão comunitária, inclusive na própria família, disse numa entrevista que não se lembra nada das três semanas em que lutou contra a doença.

Lawrence Garbuz, de 50 anos, advogado, considerou, em entrevista ao canal NBC, que a família residente de New Rochelle passou por “uma caminhada e tanto” desde fevereiro, quando ele, a mulher e dois filhos ficaram infetados com a covid-19.

O homem foi o caso mais grave da família, tendo sido hospitalizado e tendo ficado três semanas em coma induzido. A 2 de março, a família viria a receber o diagnóstico positivo. Até agora, a família ainda não conseguiu descobrir qual foi a fonte de infeção de Lawrence Garbuz, que não tinha nenhuma condição de saúde pré-existente.

“Depois de entrarmos na sala de emergência, não tenho memória absolutamente nenhuma daquilo que aconteceu até que acordei do coma. É como se três semanas da minha vida tivessem desaparecido e eu estive adormecido durante tudo isso”, disse.

O advogado foi declarado “paciente zero” em Nova Iorque e responsável pela transmissão comunitária forte que se observou em New Rochelle, primeira localidade deste estado a registar a transmissão comunitária do vírus.

New Rochelle foi considerada um cluster, um aglomerado de casos do novo coronavírus. Faz parte do condado de Westchester, que atualmente conta mais de 31 mil casos confirmados e 1200 mortes, e do estado de Nova Iorque, com mais de 184 mil casos de coronavírus e 27 mil mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.

Lawrence Garbuz não se enquadrava nos parâmetros que os Estados Unidos consideravam de risco em fevereiro: ter viajado para a China ou para outro país nas semanas anteriores. O “paciente zero” recordou que se sentiu doente e pensou tratar-se de uma gripe, devido à tosse e febre que o acordaram numa noite.

Tive uma tosse ligeira e, numa noite, antes do diagnóstico, acordei com febre. Não tinha intenções de ir ao trabalho e fui ao médico. O médico examinou-me e disse que tinha de ir imediatamente para a sala de urgências”, recordou Garbuz.

Na consulta com o médico, que o encaminhou para as urgências, “não houve de todo” qualquer suspeita de covid-19, considerou. “O [novo coronavírus] não estava na minha mente, pensava que era só tosse”, acrescentou.

Sublinhando que é advogado, normalmente fechado num escritório, Lawrence Garbuz acrescentou que não tinha nenhuma característica das pessoas consideradas de risco de serem contagiadas com o novo coronavírus.

“Sento-me na secretária o dia todo. Acho que naquela altura estávamos a focar-nos em pessoas que podiam ter viajado internacionalmente, algo que eu não tinha feito. E, certamente, que não estive na China”, afirmou.

A família pensou que se tratava de uma pneumonia, disse a mulher, Adina Garbuz.

“Nós pensámos ‘ok, estás com pneumonia, vamos comprar medicamentos e voltas para casa’. Mas no final de semana piorou cada vez mais”, relatou Adina Garbuz, lembrando a preocupação e o susto, enquanto o marido lutava para respirar.

“Uma pessoa saudável e vibrante, de repente, durante a noite, fica tão doente tão rapidamente. Eu sei que, neste momento, já não nos surpreende tanto, mas naquela altura foi chocante”, disse Adina Garbuz.

Na noite em que recebeu o diagnóstico que confirmava a doença do marido, a mulher esteve horas ao telefone “com diversos departamentos de saúde, para decidir o que fazer e explicar todos os sítios” por onde passaram.

No espaço onde estava a ser tratado, os cuidadores trouxeram fotografias da família de Lawrence Garbuz, nas quais o doente se inspirou para determinar que “o objetivo era ir para casa”.

Tentando conter as lágrimas, a mulher recordou a primeira conversa que tiveram quando o homem acordou do coma: “As primeiras palavras que ele me disse foram ‘amo-te’”, disse Adina Garbuz, emocionada, acrescentando que “tudo o que importava para ele era a família”.

Na opinião de Lawrence Garbuz, os médicos e enfermeiros que o trataram “fizeram um trabalho esplêndido” e demonstraram “muita compaixão”. O advogado confessou que agora está focado na recuperação total e não se interessa pelo frenesim nos media sobre o seu caso.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (79.894) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,3 milhões).

// Lusa

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