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Os norte-americanos têm dois “pés”. Os topógrafos estão prestes a cortar-lhes um

 

Durante décadas o famoso foot do sistema métrico dos EUA designava duas medidas oficiais ligeiramente diferentes, cujo uso dependia do contexto. Agora, os metrologistas questionam qual dos “pés” deve ser usado para fazer medições. E um deles está prestes a desaparecer.

O sistema métrico norte-americano usa duas unidades designadas foot. Ambas as unidades medem aparentemente o mesmo — 12.672 polegadas, ou, no sistema métrico internacional, 30.48 cm.

Mas as duas unidades diferem em cerca de um centésimo de por milha, ou seja, duas partes por milhão — uma diferença tão pequena que só tem significado quando se trata de medir longas distâncias.

O primeiro destes pés é o antigo foot de pesquisa dos EUA, de 1893. O segundo, o foot do sistema métrico internacional mais recente, de 1959, é mais curto, um pouco mais exato.

Segundo o New York Times, o novo foot é usado por quase todas as pessoas, exceto os topógrafos, que nas últimas seis décadas têm feito alternadamente medições com as duas unidades, dependendo da distância que estão a medir, e onde.

Mas a alternância nem sempre funciona. O topógrafo Michael L. Dennis, do Arizona, explica que há anos que assiste a confusões com os dois pés, e corrige muitos erros que vão surgindo. “Sempre tive problemas com as diferentes versões do , e acho ridículo que essa dualidade dure tanto tempo. Tenho o desejo de acabar com o de pesquisa dos EUA”, diz Dennis. “É uma receita para o desastre“.

A maioria dos estados exige o uso do antigo pé de levantamento dos EUA para os seus sistemas de coordenadas estaduais, o que permite que os topógrafos levem em consideração a curvatura da Terra nas medições. Alguns determinam o uso do novo internacional. Ainda assim, muitos não especificam qual dos dois pés deve ser usado.

Porém, estas diferenças podem ter consequências vitais, e caras. Alguns topógrafos fazem medições de um estado para o outro, sem saber que pés é que os dois estados usam. Um deve ser usado para medições horizontais, e outro para elevações.

Mesmo a National Geodetic Survey já confundiu os dois pés, ao dizer que 2000 metros correspondiam a 6561,67 pés internacionais e 6561,68 pés norte-americanos, invertendo as conversões corretas.

Este tipo de problemas levou Dennis a abordar com Juliana P. Blackwell, diretora do National Geodetic Survey, a possibilidade de acabar com o de pesquisa dos EUA. “Esta é uma daquelas coisas que está iminente há tanto tempo que até nos esquecemos que há uma oportunidade de tornar as coisas mais precisas“, reagiu Blackwell.

Em abril, Dennis viajou para Arlington, na Virgínia, e explicou, durante uma reunião de agrimensores do país, que o “velho” estava prestes a sair de cena. Para sua surpresa, os diretores da National Society of Professional Surveyors apoiaram a mudança.

Timothy W. Burch, presidente da sociedade, é a favor de retirar o pé “velho”, e lamenta que “uma parte do país diga Não, isto é nosso, vamos manter“.

Para Robert P. Crease, filósofo e historiador de ciência da Universidade Estadual de Nova York, não é uma surpresa que alguns americanos não concordem com o fim do “velho”, pois percebe que “mudar a maneira como se faz medições requer mudar a imaginação, e isso é difícil”.

Um passo atrás no tempo

A escolha das unidades de medida está carregada de história. Quando começou a colonização na América, foram trazidas medidas dos países ocupantes. Em 1790, George Washington sensibilizou os legisladores para a importância de estabelecer um sistema padrão de pesos e medidas. A solução encontrada foi adotar partes do sistema imperial britânico.

Em 1866, o Congresso legalizou o uso de unidades métricas nos EUA, fixando o valor do metro em 39,37 polegadas de comprimento, e em 1875, a América estava entre os 17 signatários originais do Tratado do Metro, que visava estabelecer padrões métricos em todo o mundo. As medições que parecem imperiais são, na verdade, derivadas de unidades métricas. Nesse ponto, o tornou-se uma fração de metro.

Contudo, o século XX exigiu maior exatidão nas medições. Em 1959, os EUA redefiniram o para se alinhar aos padrões internacionais, tornando-o 0,3048 de metro.

O novo pé ficou assim conhecido como internacional. Ainda assim, o governo permitiu que topógrafos continuassem a usar o pé de 1893, que ficou conhecido como o pé de levantamento dos EUA.

Um em frente

O antigo vai, finalmente, sair de cena a partir de 1 de janeiro de 2023. O objetivo é “desencorajar o uso do de pesquisa”, explica Elizabeth Benham, coordenadora do programa de métrica do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia, a agência do Departamento de Comércio com autoridade para fixar pesos e medidas.

Este pode ser um passo na evolução do único pé americano e pode torná-lo mais preciso. Michael L. Dennis garante que esta conquista também é pessoal, e classifica-a como “uma vitória”.

O único será assim o internacional — ou simplesmente, o .

ZAP //

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