Os microplásticos estão a contaminar sítios arqueológicos ancestrais

Stéphane Rottier / Department of Archaeology, Ghent University

Um novo estudo sugere que partículas de plástico podem representar uma ameaça à preservação de vestígios históricos.

Os microplásticos encontram-se atualmente praticamente em todo o lado: oceanos, alimentos, a atmosfera e até mesmo nos pulmões, cérebro, fezes e placentas humanas.

Mas, embora sejam consideradas um problema contemporâneo, estas partículas de plástico estão agora a aparecer onde menos se esperaria: em sítios arqueológicos antigos.

Num novo estudo, publicado este mês na revista Science of the Total Environment, uma equipa de investigadores da Universidade de York, no Reino Unido, encontrou microplásticos em depósitos de solo a 7,35 metros abaixo do solo.

As amostras de solo analisadas datam do primeiro ou início do século II e foram obtidas de dois sítios arqueológicos em York, Inglaterra. Algumas, explica a Smithsonian, foram escavadas no final dos anos 1980, enquanto outras eram amostras contemporâneas.

Os cientistas usaram então uma técnica de imagem chamada μFTIR, que deteta quantidades, tamanho e composição de microplásticos. Nas amostras analisadas encontraram 66 partículas consistindo de 16 tipos de polímeros.

“Este é um momento importante, confirmando o que deveríamos ter esperado: que o que se pensava serem depósitos arqueológicos pristinos estão de facto contaminados com plásticos,” afirma John Schofield, arqueólogo na Universidade de York e autor principal do estudo, em comunicado da universidade.

Os microplásticos, fragmentos de plástico com tamanho inferior a 5 milímetros de comprimento, têm origem numa variedade de fontes, incluindo lavandarias, aterros, produtos de beleza e lodo de esgoto.

“Nos últimos 100 anos, principalmente desde os anos 1950, nós, humanos, produzimos oito mil milhões de toneladas de plástico, e estima-se que apenas cerca de 10% tenha sido reciclado”, afirmou em 2020 à Yale Sustainability a presidente do grupo de educação climática SoundWater, Leigh Shemitz.

Os microplásticos já foram antes encontrados em amostras de solo. De facto, quase um terço de todo o resíduo plástico acaba no solo ou em água doce, segundo dados da Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação.

Mas o novo estudo fornece “a primeira evidência de contaminação por microplásticos em amostras de sedimento ou solo arqueológico”, escrevem os autores do estudo. Estes achados podem alterar a forma como os arqueólogos protegem sítios históricos.

“Embora a preservação de vestígios arqueológicos in situ tenha sido a abordagem preferida nos últimos anos, os novos achados podem desencadear uma mudança de abordagem, pois a contaminação por microplásticos pode comprometer o valor científico dos vestígios”, antecipa o jornalista Jack Guy num artigo na CNN.

In situ, do latim para “no lugar,” é o termo usado para descrever objetos arqueológicos que não foram movidos dos seus locais originais. Deixar os vestígios in situ ajuda a prevenir danos ao sítio e aos artefactos, preserva o contexto e permite que futuros investigadores recolham informações.

“A presença de microplásticos pode e irá alterar a química do solo, potencialmente introduzindo elementos que farão com que os vestígios orgânicos se decomponham,” afirma David Jennings, diretor executivo da York Archaeology, na declaração. “Se esse for o caso, preservar a arqueologia in situ pode já não ser apropriado“.

ZAP //

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