Os EUA estão (outra vez) de regresso à UNESCO. A China deu uma “ajuda”

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay

A UNESCO anunciou esta segunda-feira que os Estados Unidos planeiam regressar à agência científica e cultural das Nações Unidas, e pagar os mais de 550 milhões de euros de contribuições devidas, após uma década de disputa originada pela decisão de incluir a Palestina como membro.

Os Estados Unidos solicitaram à readmissão como membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, anunciou a agência da ONU esta segunda-feira.

Para o efeitos, os EUA irão regularizar os mais de 550 milhões de euros devidos em contribuições desde a saída do país, num processo desencadeado por Donald Trump em 2017 e que se tornou efetivo em 2019.

Na altura, os EUA invocaram “preocupações com os atrasos crescentes na UNESCO, a necessidade de uma reforma fundamental da organização e o permanente preconceito anti-Israel”.

A organização com sede em Paris foi acusada de criticar a ocupação israelita de Jerusalém Oriental, além de ter aprovado a adesão da Palestina à organização, em 2011, que levou os EUA a suspender, desde então, as contribuições financeiras.

Segundo a ABC, a decisão dos EUA de regressar foi principalmente motivada pela preocupação de que a China esteja a preencher a lacuna deixada pelos norte-americanos na formulação de políticas, nomeadamente na definição de normas para a inteligência artificial e educação tecnológica em todo o mundo.

A reentrada dos EUA terá que passar por uma votação dos estados membros da UNESCO nas próximas semanas. Mas a aprovação parece uma formalidade, após os aplausos retumbantes que esta segunda-feira saudaram o anúncio, na sede da UNESCO, em Paris.

Na realidade, nenhum país levantou objeções ao regresso de um país que já foi o principal financiador da agência.

Os EUA e Israel pararam de financiar a UNESCO após a sua votação para incluir a Palestina como um estado membro em 2011. A administração Trump decidiu em 2017 retirar-se completamente da agência no ano seguinte, citando um longo viés anti-Israel e problemas de gestão.

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, trabalhou para abordar essas preocupações desde a sua eleição em 2017, e isso parece ter dado resultado. “É um momento histórico para a UNESCO“, disse Azoulay esta segunda-feira. “Também é um dia importante para o multilateralismo.”

Relação turbulenta

O Departamento de Estado norte-americano revelou entretanto que entregou uma carta solicitando a readmissão ao órgão, com sede em Paris, no final da semana passada.

Na carta, datada de 8 de junho, o secretário de Estado Adjunto para a Gestão, Richard Verma, propôs “um plano para os Estados Unidos voltarem a aderir à organização”, disse o Departamento de Estado em comunicado.

“Qualquer ação deste tipo exigirá a concordância dos atuais membros da UNESCO, e é nosso entendimento que a liderança da UNESCO irá transmitir a nossa proposta aos membros nos próximos dias”, afirma-se no comunicado.

Os pormenores da proposta não foram revelados. Os EUA devem uma quantia significativa de dinheiro à organização devido a atrasos no pagamento das quotas. Mas no início deste ano, a administração reservou 140 milhões de euros no seu atual plano orçamental para pagar o regresso à UNESCO.

Os Estados Unidos e a UNESCO têm tido uma relação turbulenta ao longo das últimas quatro décadas, depois de terem discutido sobretudo questões ideológicas durante a Guerra Fria e, mais recentemente, o conflito israelo-palestiniano.

O antigo presidente Ronald Reagan retirou os Estados Unidos da UNESCO em 1983, mas o presidente George W. Bush voltou a aderir em 2002.

Em 2017, Donald Trump retirou novamente o país da agência em 2017, citando o seu alegado preconceito anti-Israel. Telavive anunciou a sua retirada ao mesmo tempo e as saídas entraram em vigor em janeiro de 2018.

O atual Presidente, Joe Biden, afirmou, quando tomou posse, que tencionava voltar a integrar a UNESCO.

Em março, quando o orçamento para o próximo ano fiscal foi apresentado, o subsecretário de Estado para a Gestão, John Bass, disse que a administração acreditava que a adesão à UNESCO ajudaria os Estados Unidos na sua rivalidade global com a China, que investiu grandes somas em organizações da ONU.

“Ajudar-nos-á a resolver um custo de oportunidade fundamental que a nossa ausência está a criar na nossa competição global com a China“, disse.

“Se levarmos realmente a sério a concorrência com a China na era digital, do meu ponto de vista, com um conjunto de interesses bem definidos, não nos podemos dar ao luxo de continuar ausentes de um dos principais fóruns em que são definidas as normas relativas à educação científica e tecnológica”, acrescentou.

Guterres saúda decisão

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou hoje a decisão dos Estados Unidos de voltar a integrar a UNESCO, após uma ausência de cinco anos que começou quando Donald Trump era Presidente.

“Saudamos muito a decisão dos Estados Unidos de voltar a integrar a UNESCO”, disse hoje o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.

“É claro para nós que as organizações multilaterais só são mais fortes com mais Estados-membros a participar ativamente no seu trabalho”, acrescentou, no seu ‘briefing’ diário à imprensa, em Nova Iorque.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi criada em 1945.

ZAP // Lusa

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