Os advogados portugueses estão a ficar doentes. 35% não voltaria a escolher a profissão

“A vulnerabilidade é quase proibida na nossa profissão”. Mais de um terço dos advogados evidenciam níveis elevados de problemas de saúde mental. Se fosse agora, 35% não escolheria esta profissão.

Um estudo da Associação de Direito Mental revelou que 35% dos advogados portugueses não voltariam a escolher aquela profissão, evidenciando níveis mais elevados de sintomas de depressão, ansiedade e burnout.

O estudo “Impacto da cultura organizacional na saúde mental e bem-estar dos profissionais de Direito” incidiu sobre 823 profissionais da área do Direito, dos quais 15% admitiram já terem pensado em cometer suicídio.

“É uma situação grave”, admitiu, ao Expresso, Raquel Sampaio, diretora executiva da Associação Direito Mental.

“Já tínhamos alguma perceção do estado da comunidade, mas não estávamos à espera que a situação fosse tão grave e que os níveis de burnout, por exemplo, fossem superiores aos registados, em média, na população portuguesa”, lamentou.

De acordo com o estudo, cerca de 40% dos advogados portugueses têm níveis de ansiedade moderados a severos; e 34% evidenciam sintomas clinicamente significativos de depressão.

De acordo com – a também advogada – Raquel Sampaio as mulheres e os profissionais com menos anos de carreira são os que apresentam índices mais elevados de mal-estar psicológico.

O estudo indicou ainda que cerca de 55% veem as exigências da sua profissão limitar-lhes significativamente a qualidade e o tempo dedicado às atividades familiares, acabando mesmo por não conseguir conciliar as “duas vidas”.

Só que o mal-estar e os problemas raramente são partilhados com o patrão. Há ainda um grande estigma do tema da saúde mental relacionado com a profissão.

“Um estudo internacional revelou que 41% dos advogados inquiridos nunca partilharia o seu mal-estar psicológico com o seu superior. Porque, a partir do momento em que se admite uma vulnerabilidade, ela cola-se à pessoa e fica para sempre associada a ela. A vulnerabilidade é quase proibida na nossa profissão“, explicou Raquel Sampaio.

À Líder, a advogada diz que o estigma deve ser quebrado, “através da educação e da consciencialização sobre a saúde mental. Depois, a promoção de ambientes de trabalho saudáveis, o incentivo à gestão adequada do stress e a criação de uma cultura organizacional que valorize esta temática”.

Miguel Esteves, ZAP //

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