As alianças encontradas pela ONG espanhola pertencem a um casal de migrantes argelinos que sobreviveu, em outubro, a um naufrágio ao largo da costa de Lampedusa, em Itália.
De acordo com o jornal The Guardian, foi no passado dia 9 de novembro que um barco de resgate de migrantes encontrou uma mochila vermelha a flutuar no Mediterrâneo, juntamente com outros objetos de um naufrágio ocorrido semanas antes. No seu interior estavam duas alianças, com os nomes Ahmed e Doudou.
“Pensámos que se tratava da prova de mais uma história de amor que tinha acabado no fundo do mar. Infelizmente, encontramos muitos casos destes. A maior parte das vezes, malas e sacos a flutuar no mar não são mais do que símbolos de uma jornada que começou na Líbia e acabou em tragédia”, disse ao jornal britânico Riccardo Gatti, presidente da ONG Open Arms em Itália.
Como habitual, a organização não governamental ativou os procedimentos para tentar localizar os donos dos pertences, tendo partilhando fotografias nas suas redes sociais e entre as suas redes de contactos.
Segundo Gatti, “o que aconteceu a seguir foi emocionante”. Graças a um artigo publicado no jornal italiano La Repubblica, alguns voluntários dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) descobriram que as alianças pertenciam a um casal argelino recém-casado.
O casal, que se encontrava num centro de acolhimento na Sicília, estava entre os 15 sobreviventes de um naufrágio ocorrido, no dia 21 de outubro, ao largo da costa da ilha de Lampedusa, no qual cinco pessoas perderam a vida.
“Assim que nos mostraram as fotografias das alianças, não consegui acreditar. Tínhamos perdido tudo e, agora, as poucas coisas que tínhamos levado na viagem tinham sido encontradas. É incrível”, disse Ahmed, numa mensagem transmitida pela MSF.
“Os anéis estavam na mochila porque estavam danificadas e queríamos repará-las assim que chegássemos à Europa. Nenhum dos meus companheiros de viagem conseguiu recuperar alguma coisa. Estamos muito felizes, mas ainda de luto pelos nossos amigos que não conseguiram sobreviver”, acrescentou o argelino.
Segundo o jornal inglês, o casal disse aos trabalhadores humanitários que deixou Zawiya, na Líbia, a 19 de outubro, num pequeno barco de madeira com outras 20 pessoas. Depois de 48 horas de travessia, o combustível acabou e o barco foi deixado à mercê do mar, com as condições meteorológicas a ficarem cada vez piores.
Ester Russo, psicóloga da MSF, disse que os sobreviventes deste naufrágio falaram de uma grande onda que atingiu o barco a cerca de 60 quilómetros de Lampedusa.
“As 15 pessoas a bordo foram salvas por um barco de pesca siciliano. Cinco pessoas morreram, incluindo uma menina de dois anos. A mãe ficou em choque. Na mesma viagem, uma criança, de nove anos, perdeu a mãe e agora está sozinha em Itália”.
Ahmad Al Rousan, mediador cultural da MSF na Sicília, disse que Doudou ainda está a recuperar do trauma da viagem. “Ainda está em choque com o que aconteceu. Viu cinco companheiros de viagem a morrerem diante dos seus olhos, incluindo uma criança. Mas ela e Ahmed estão bem.”
Gatti diz que os membros da ONG mal podem esperar por entregar os pertences ao casal. “Também foi uma emoção forte para nós. Não se tratam apenas de objetos. Estes sacos que encontrámos com frequência são tudo o que estas pessoas têm. Tal como estes anéis, símbolo de um amor que felizmente, pelo menos desta vez, o Mediterrâneo poupou.”