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OMS retoma ensaios clínicos com hidroxicloroquina. Estudo que os suspendeu tem “inconsistências alarmantes”

unisgeneva / Flickr

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS)

Os ensaios clínicos, suspensos há mais de uma semana por preocupações com a segurança da hidroxicloroquina, vão agora ser retomados.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou, esta quarta-feira, que vai retomar os ensaios clínicos com hidroxicloroquina para doentes com covid-19, suspensos há mais de uma semana por preocupações com a segurança do medicamento.

Tedros Ghebreyesus, director-geral da OMS, anunciou que o painel que analisa a segurança de medicamentos concluiu que “não há razão para alterar o protocolo dos ensaios clínicos solidários e recomendou que continuem em todas as vertentes”.

Os ensaios clínicos com hidroxicloroquina vão continuar no grupo de mais de 3.500 pacientes voluntários de 35 países.

Ghebreysus afirmou ainda que a OMS vai continuar a “controlar a segurança” do uso do medicamento em doentes com covid-19.

A OMS anunciou a suspensão temporária dos ensaios clínicos com hidroxicloroquina no dia 25 de maio, por causa de estudos científicos que associam maior mortalidade ao uso daquele medicamento. Na altura, o responsável afirmou que a decisão do Comité Executivo da organização surgiu depois de revista científica The Lancet ter divulgado um estudo em que se observou mortalidade acrescida em doentes tratados com aquele medicamento.

Especialistas denunciam “inconsistências alarmantes”

Mas, entretanto, a The Lancet já veio demarcar-se desse estudo, emitindo uma “expressão de preocupação” com as conclusões divulgadas. Trata-se de uma postura muito rara no campo científico e que costuma “preceder, muitas vezes, a retirada definitiva do artigo em questão”, como aponta o jornal francês Le Monde.

“Importantes questões científicas foram levantadas no que concerne aos dados reportados”, avança a revista britânica em comunicado, anunciando que já foi pedida uma auditoria independente ao estudo.

Embora os resultados dessa auditoria ainda não sejam conhecidos, a publicação aponta a sua “inquietação”, notando que teve acesso a “informações mais amplas” depois da divulgação do estudo.

Mais de 100 especialistas estão também a questionar a pesquisa, falando em “inconsistências alarmantes”, como refere o responsável pelo programa de malária da OMS, Pedro Alonso, citado pelo El País.

“Há enormes dúvidas sobre a qualidade desse trabalho e tanto os seus autores como a revista que o publicou vão ter de prestar contas”, aponta Alonso no jornal espanhol.

Sobre a hidroxicloroquina, o responsável da OMS destaca que ainda não sabemos se funciona ou não contra a covid-19, “mas a solução não é interromper os ensaios”. Alonso defende que devem continuar a investigar “para saber se oferece algum benefício, principalmente para a segunda onda da doença“.

Um grupo de 120 médicos, especialistas de estatísticas e de bio-medicina enviaram uma carta aberta à direcção da The Lancet a questionar o tratamento dos dados do estudo.

A investigação foi assinada por Mandeep Mehra, do Hospital Brigham de Mulheres de Boston, nos EUA,, Frank Ruschitzka, do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, Amit Patel, do Departamento de Bio-Engenharia da Universidade de Utah, nos EUA, e Sapan Desai, da empresa Surgisphere que contribuiu com os dados anónimos dos 96 mil pacientes do estudo.

Os especialistas que o contestam referem, nomeadamente, o facto de não incluir informações detalhadas sobre os hospitais de onde procedem os dados analisados. Também frisam que a pesquisa utiliza doses de cloroquina e de hidroxicloroquina que são superiores às recomendadas pela Agência do Medicamento dos EUA.

O investigador principal do estudo, o cardiologista Mandeep Mehra, defende que “os resultados e conclusões do trabalho continuam a ser os mesmos”, conforme declarações ao El País, apesar de assumir que está a decorrer uma “revisão independente dos dados”.

ZAP // Lusa

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