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O que Zelenskyy quis dizer na Assembleia: “Isto podia ser convosco”

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Twitter / ZelenskyyUa

Poesia e pragmatismo no discurso do presidente da Ucrânia: horror, pedidos, comparações e África nas palavras de Zelenskyy.

Volodymyr Zelenskyy falou nesta quinta-feira, por vídeo-conferência, para a Assembleia da República portuguesa e apresentou um discurso muito equilibrado entre uma “certa poesia” e um “certo pragmatismo”.

No final, não conseguiu fugir ao cliché e cumpriu o que já se esperava: fechar o discurso com “saudade”.

Antes pediu a Portugal para estender a mão à Ucrânia e para colaborar no caminho de a Ucrânia se tornar “um de nós”.

Iniciou o seu discurso, tal como tem feito noutros exemplos, com uma descrição muito crua e muito detalhada dos horrores que vai observando no seu país.

Desta vez falou dos corpos que os russos deixaram nas ruas, sobre os familiares e vizinhos proibidos de enterrar as pessoas, descrevendo um “cenário de verdadeiro horror, mas na vida real”.

Porto e Lisboa

Pedro Raínho, editor-adjunto no jornal Observador, analisou o discurso e centrou-se nas comparações com cidades portuguesas mencionadas nesse momento.

E há uma intenção por detrás dessas referências: a referência ao Porto surgiu quando disse que as forças russas já deportaram 500 mil ucranianos – é o dobro da população da cidade portuense.

A capital Lisboa foi referida quando descreveu a destruição provocada em Mariupol, onde agora não há um único edifício de pé por causa dos bombardeamentos russos.

Mariupol é uma cidade no litoral e com número de habitantes (antes da guerra) semelhante ao de Lisboa: “Isto diz-nos alguma coisa. Isto não é por acaso. Há aqui uma intenção de criar empatia. É quase como se nos puséssemos a pensar: isto podia ser connosco”, comentou Pedro, na rádio Observador.

Aliás, tal como destacámos no artigo sobre o discurso, Zelenskyy sublinhou: “Milhões de pessoas tiveram de fugir. É como se Portugal inteiro fosse obrigado a fugir do país”.

Pedidos a Portugal

O presidente da Ucrânia pediu ajuda militar a Portugal – que já enviou armamento para a Ucrânia logo no início do conflito e, pouco depois, o ministro João Gomes Cravinho disse que ia enviar mais armas e mais munições.

Dando exemplos, Zelenskyy pediu tanques, veículos blindados de transporte pessoa, mísseis anti-navio: “Portugal tem estes equipamentos mas não pode puxar a manta para tapar a cabeça porque rapidamente os pés vão ficar destapados”.

O que Portugal pode fazer é apoiar a União Europeia e dar o aval para que outros países europeus com maior capacidade bélica enviem mais ajuda para a Ucrânia”, continuou Pedro Raínho

A palavra “sanções” foi dita quatro vezes durante o discurso: “Tem um peso. É uma espécie via paralela ao combate no terreno. Focou-se nas sanções energéticas, no bloqueio à compra do petróleo russo, mas nesse contexto a posição de Portugal será simbólica porque a quantidade de petróleo que costumamos comprar proveniente da Rússia é muito baixa”.

Em relação ao gás, já há uma “certa unanimidade de fechar a torneira da importação vinda da Rússia”.

África e Lisboa-Kiev

O presidente ucraniano também deixou a ideia de Portugal usar a sua influência junto dos países de língua portuguesa – Angola e Moçambique abstiveram-se na Organização das Nações Unidas, quando foi votada a condenação à invasão russa.

“Quer que Portugal influencie os países africanos, para serem mais favoráveis à causa ucraniana, e também no contexto da influência económica que a Rússia tem na defesa militar desses países”. Mas Marcelo Rebelo de Sousa, quando esteve em Moçambique, já sublinhou que Portugal respeita as decisões dos outros países, por isso não deverá interferir.

Volodymyr Zelenskyy também falou sobre os extremos da Europa, continente que vai desde Lisboa até Kiev – contrariando a ideia de Vladimir Putin, que “sonha” com uma Eurásia entre Lisboa e Vladivostok.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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16 Comments

  1. Alguém lhe preparou o script, e ele como ator, melhor o desempenhou! Custa-me a dizer, mas os comunistas têm alguma razão!

    Note-se que tudo isto podia ter sido evitado, se não houvesse a incapacidade, de por vias diplomáticas, chegar a um acordo. Valeu a pena morrer tanta gente?

    Há tanta coisa mal contada.. mas tanta.. veja-se a imprensa internacional! Antes de 24 de fevereiro a imprensa internacional dizia uma coisa sobre a Ucrânia.. agora diz o oposto! São legítimas as geopolíticas da NATO… ou são mais um instrumento bélico nas mãos do EUA?

    Os relatórios da ONU sobre os crimes do Batalhão Azov, SNA, Ultra-Nacionalistas, Sektor Privat, etc.. deixaram de ter relevo.. (sim, os relatórios existem e os crimes contra minorias também)

    Sigam o dinheiro.. e pensem por vocês! A quem é que interessa esta guerra?

    Isto é uma proxy war / hibrida desde o início.. só não vê quem não quer! O envio de armamento em massa para lá.. vai resultar em quê? Em uma nova Al Qaeda ou ISIS (eles também era rebeldes moderados gentilmente armados pelos EUA) ?

    A face de Europa vai-se modificar de forma irreparável, não haja ilusões disso… mas aqui.. não há santos (já agora… tirem essa ilusão também)!

    • Concordo em absoluto com a sua curta analise. Digo, curta, porque , como bem refere, há muitas historias cruzadas de que até temos medo de falar pois, se o fizermos, mesmo que com bom senso, como foi o seu comentario, somos logo apelidados de ” comunistas” ou “pro-Putin”. Continuar a armar é aumentar a escalada da guerra…enfim, que percebo eu disto, a não ser que varios grupos economicos particularmente a banca, já se devem estar a alinhar para ir reconstruir um país, a troco de boas benesses deles, mas usando também o que é nosso. POBRES DOS DESALOJADOS E POBRES DE NÓS…também!

    • Independentemente de qualquer justificação ou motivo que se possa inventar a Ucrânia é um país livre, logo ninguém externo ao país tem o direito de querer governar sem ser eleito pelo povo. O que diz é tão absurdo que mais parece que a Ucrânia é que quis invadir ou manipular a Rússia. Pela mesma ordem de ideia porque razão a Rússia não invade a Polónia que também tem xenofobia e tendências nazis, já sei porque pertence a NATO, pois é cuspir para o ar dizendo mal da NATO e EUA é fácil mas quando loucos como Putin tentam dominar o mundo agradecemos a existência destes.

  2. Muito bem, Chaos AD! Bem dito!

    Exactamente na linha daquilo que eu disse aqui há uns tempos atrás e fui acusado de ser cobarde.
    Repito o que disse na altura – esta guerra poderia ter sido evitada e o que irá trazer de bom para os ucranianos, para além de morte, sofrimento e a destruição do país?
    Um líder que obriga o seu povo a ser chacinado não é um bom líder nem pode ser considerado um herói! Nacionalismo não é patriotismo!
    Sabia-se à partida que a guerra iria durar muito tempo e que Putin não iria desistir. E não foi por falta de avisos/ameaças da parte da Rússia!
    Zelensky é um actor e está a representar o maior papel da sua vida, mas não é nem santo nem herói! Espero que o tempo o venha a provar. Alguma coragem e ousadia ele tem, certamente. Basta ouvir os seus discursos, em que não se coíbe de criticar quem o está a ajudar e quem está a ser prejudicado pelas decisões que ele tomou. E ainda tem o desplante de dizer que está a lutar por todos nós! Talvez seja um “puppet”, mas não deixa de ser responsável.
    Sou apartidário e isto nada tem a ver com o comunismo nem com o fascismo. Tanto um extremo como o outro são igualmente condenáveis. A responsabilidade desta guerra é das duas partes (Russa e Ucrânia). Não nos podemos esquecer que são dois países irmãos, que partilham uma herança cultural muito próxima. Não se trata de uma questão de partidos ou ideologias! É uma questão Humanitária e de humanidade!
    O Putin todos sabem criticar (na sua maior parte com razão), mas Zelensky consideram um herói??!! Como o Chaos AD refere, outros líderes mundiais têm igualmente culpa e interesses nesta guerra, certamente. Mas, em última análise, será Zelensky que poderá ser acusado e julgado como culpado. A última palavra é sempre a dele! E a imprensa internacional cada vez mais parece fazer o jogo de fechar os olhos e ver tudo a preto e branco. Quando é quase tudo cinzento! E, sim, antes da Guerra corriam as críticas a Zelensky e ao seu Governo e assim que ele encaminhou o seu país para uma guerra, transformou-se num herói internacional. Muito catastrófico o destino que nos espera, se todos continuarmos de olhos fechados e de costas voltadas!

    • Pelo vosso discurso, imagino que se a España (já me vou habituando a escrever bem o nome) decidir invadir Portugal porque temos neo-nazis (e até os libertamos para irem integrar forças estrangeiras ou muitos pertencerem á terceira força política do país), os senhores cobardemente depõem as armas e entregam-se alegremente. Enviam as vossas mulheres e filhas para serem violadas … mas com jeitinho, porque existe forma de se salvar vidas, baixasse a cabeça, mostrasse o dito e la vai disto.
      O que vocês chamam de maneira de evitar a guerra, eu chamo de cobardia.

      Quanto a esses discursos de justificação da invasão ou tentativa de fazer a Ucrânia a culpada pela a invasão, os factos e a realidade estão á vista, a Rússia, sem qualquer apoio internacional ou provas decidi-o acusar e invadir outro país. (facto)
      A guerra é na Ucrânia e não na Rússia (facto)
      Os ucranianos não se rendem e não querem lá os russos (facto)

  3. O Putin e um assassino em serie e tenho vergonha dos Comunistas Portugueses que fazem tudo para não contrariarem a politica de Putin, mesmo sabendo que ele esta errado em atacar um Estado de Direito e um Pais Independente, só para acabar com o seu Povo. ** Putin Assassino!!!!!!!!!

  4. As geopolíticas são dos EUA, a NATO é o seu braço armado e a UE sem lideranças credíveis segue
    sem reservas as ordens estado unidenses. Os relatórios da ONU sobre os crimes do Batalhão Azov, existem. assim como os massacres em Donetsk e Luhansk contra as populações maioritariamente russas e também na Casa Sindical em Odessa onde foram queimados vivos dezenas de sindicalistas.
    O presidenta da Ucrânia está a desempenhar talvez o último acto da sua vida de comediante como líder de um povo condenado a ser carne para canhão numa guerra entre Rússia e EUA/UE/NATO, pois foi com leviandade que se deixou enredar na ideia de pertencer à NATO, depois dos EUA apoiarem o
    golpe de estado em 2014 que arredou um governo eleito democraticamente. As consequências estão à vista, por muito que a comunicação social tome partido por uma das partes, contrariando assim a sua missão deontológica de informar com isenção. Não por mero acaso, o PCP criticado como Partido que não fez parte do coro na AR para ouvir o presidente ucraniano, foi também o único que ao longo dos anos alertou na AR para os perigos que adviriam com o desaparecimento da URSS e nessa altura nos outros partidos houve sorrisos de chacota por parte dos mesmos que hoje se mostram apoiantes fieis e incondicionais da Ucrânia. A hipocrisia infelizmente a fazer caminho.

    • O único perigo que eu vejo em relação ao desaparecimento da URSS é sermos ultrapassados no PIB por grande parte dos países que a constituíam, o que demonstra bem o que eles ganharam em fugir da ditadura comunista.

  5. De facto, os artistas dos textos anteriores só têm palavras de de condenação para o Zelenskyy, mas não perdem sequer uma linha de condenação do Putin, Hitler do século XXI.
    Parece que a razão está do lado do Putin, que é o invasor, o agressor, que procura arrasar tudo para reescrever a história. O regime de Putin é criminoso. Mal será que venha a ter um fim feliz. Gostaria que estes senhores que louvam Putin que pensassem o que é ver um filho a morrer na guerra, sejam ucranianos, que defendem o que é deles, seja russo, que chegam ao ponto de esconder o que aconteceu ao navio que se afundou. Isto é a democracia na Rússia do ditador Putin.
    Em pleno século XXI e na Europa haver invasões a qualquer título é próprio de ditadores. Ainda veem o regime da Rússia como poder democrático, em que o ditador Putin muda a Constituição para umas vezes ser Presidente da República e outras primeiro-ministro para se instalar no poder, quando está no poder há mais de 20 anos? Isto é democracia em que os órgãos de comunicação social não podem fazer sequer uma crítica, porque senão são logo silenciados, no mínimo? Pensemos no que andamos a fazer e a dizer. O que diriam os senhores que acabam por louvar o Putin ditador e sanguinário se agora Espanha invadisse Portugal, reclamando o nosso retângulo? Talvez um dia sejamos reclamados por outros povos que por aqui passaram… Não faltará muito!

  6. Continuam a existir grandes confusões nas cabeças de alguns que parecem estar mais de acordo em seguir o pensamento único agora na moda. Mais uma vez para esclarecimento das almas inquietas
    ou ingénuas: o PCP não louvou ou apoiou o presidente russo, não vimos, ouvimos e lemos nada, mesmo nada, que possa ser considerado como tal. O PCP, pela última vez afirmo para não alimentar este debate sem nexo, desde sempre foi e é contra a guerra na Ucrânia, assim como foi e é contra as guerras da Jugoslávia, Iraque, Líbia, Afeganistão, Síria, Iémen, Somália, Sudão, Palestina, aliás, no XV Congresso em 1996 alertava para a possibilidade de violentos conflitos étnicos, em 1998 foi o único
    a opor-se à expansão da NATO e em debate parlamentar colocava a questão sobre a Paz que deveria assentar no respeito mútuo, na irradicação das hegemonias e relações de domínio, em 2004 no Parlamento Europeu considerou essencial um empenhamento na estabilidade na Ucrânia face ao intervencionismo externo já existente, em 2014 condenou na AR o golpe de estado apoiado por EUA/NATO/UE que originou a subida ao poder na Ucrânia de um governo com representação de figuras neo nazis e xenófobas que durante oito anos massacraram em Donetsk e Luhansk as populações maioritariamente de etnia russa, queimaram vivos dezenas de sindicalistas na Casa Sindical em Odessa, ilegalizaram partidos entre os quais o PCU e possuem um presidente que levianamente se preparava para integrar o seu País na NATO, ignorando os Acordos de Minsk, realizados sob a égide da França e Alemanha, a Carta da ONU e o Tratado de Helsínquia. O resultado está à vista e, para não cometermos excessos de entusiasmo, precisamos de identificar claramente as causas, para não sermos rotulados de artistas de comédias de mau gosto. Enquanto existir a tentativa de hegemonia geoestratégica dos EUA e do seu braço armado NATO, o mundo está em sério perigo de colapso e a nossa missão como habitantes deste planeta deverá centrar-se na promoção e procura da Paz e não lançar lenha para a fogueira existente.

  7. No séc XXI uma guerra destas é um nojo. Ameaçar com a bomba nuclear! Se isso acontecesse muitas bombas lhe iriam cair em cima. O resultado disto seria a destruição mundial. Os que que não morrem logo serão atingidos por cancros e depois as radiações disseminam-se sobre o nosso planeta que fazem com que fiquemos com temperaturas inferiores a 150 graus . Estes governantes praticam uma ditadura de loucos que se consideram inatingíveis e segundo eles podem fazer tudo o que querem. A determinação de Putin está a provocar uma desconfiança total. Em face disto a corrida ao armamento será muito maior para efeitos de precaução e proteção face ao agressor. Os ditadores demostram uma teimosia e agressividade sem limites . Praticam muita destruição , mas acabam sempre por ser derrotados. Todas as sansões que possam ser impostas à Rússia são absolutamente necessárias , mesmo se alguns desses efeitos que ninguém quer nos caem em cima. Os loucos são sempre imprevisíveis .

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