Mais de 2000 mortos. O que tornou o sismo em Marrocos tão devastador?

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Jalal Morchidi / EPA

O balanço provisório do terramoto que atingiu Marrocos na sexta-feira à noite subiu para 2012 mortos e 2059 feridos, dos quais 1404 em estado grave, anunciou o Ministério do Interior marroquino.

O anterior balanço dava conta de 1305 mortos e 1832 feridos. No total, 1293 pessoas morreram na província de Al Haouz e 452 na província de Taroudant, ambas a sul de Marraquexe, informou o ministério, num comunicado.

O tremor de terra, cujo epicentro se registou na localidade de Ighil, 63 quilómetros a sudoeste da cidade de Marraquexe, foi sentido em Portugal e Espanha, tendo atingido uma magnitude de 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos.

O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) registou a magnitude do sismo em 6,8. O reino de Marrocos decretou três dias de luto nacional.

Em declarações hoje à imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, estimou que na altura do sismo estariam em Marrocos 300 portugueses, tendo revelado que dois deles ficaram feridos, um pai e uma criança.

Na mesma ocasião, o ministro adiantou que um avião da Força Aérea Portuguesa partiria hoje para o país para repatriar 75 cidadãos portugueses.

Numa breve nota informativa entretanto divulgada, o ministério tutelado por Cravinho informou que o voo militar da Força Aérea Portuguesa já tinha saído de Portugal em direção a Marraquexe de onde deverá voltar ainda esta noite, “se todas as condições estiverem reunidas”, com um primeiro grupo de portugueses que pediram apoio para serem retirados do território.

“O Governo continua a acompanhar a situação no terreno, estando o Embaixador de Portugal em Rabat já na cidade de Marraquexe, para um apoio de maior proximidade aos cidadãos que permanecem em território marroquino”, acrescentou a nota informativa.

O que tornou o sismo tão devastador?

O sismo principal deu-se por volta das 23h11 (hora local e em Lisboa) e, cerca de 19 minutos depois, um segundo abalo de magnitude 4,9 voltou a ser sentido.

De acordo com o US Geological Survey (USGS), o epicentro estava cerca de 18,5 km abaixo da superfície da Terra, embora a própria agência sísmica de Marrocos tenha estimado a profundidade em 11 km. Qualquer que seja o valor verdadeiro, sabe-se que o sismo não foi muito profundo.

De acordo com os especialistas, estes abalos superficiais são geralmente mais perigosos, mesmo quando têm pouca magnitude, porque a sua energia é mais sentida na superfície. Como contraste, à medida que os sismos mais profundos se propagam e as ondas sísmicas se movem radialmente para a superfície, vão perdendo energia devido às distâncias maiores que têm de percorrer.

Um outro fator que pode explicar o elevado número de mortos é a falta de preparação. Os terramotos não são muito comuns no Norte de África, com taxas de sismicidade comparativamente baixas ao longo da margem norte do continente africano, segundo o USGS, o que leva a que os edifícios não sejam construídos tendo o risco de sismos em mente.

Lahcen Mhanni, Chefe do Departamento de Monitorização e Alerta Sísmico do Instituto Nacional de Geofísica, disse à 2M TV que o sismo foi o mais forte já registado na região montanhosa, cita a Associated Press.

O enorme terramoto que abalou o país em 1960, que terá matado entre 12 mil e 15 mil pessoas, trouxe mudanças às regras de construção, mas a maioria dos edifícios marroquinos, especialmente nas zonas rurais e cidades mais antigas, não foram construídos para resistir aos sismos.

Em Marraquexe, muitas casas na antiga cidade e partes da famosa muralha medieval, que é Património da Humanidade, ruíram ou ficaram com grandes fissuras. Há ainda inúmeras pessoas que dormiram ao relento devido ao receio de ficarem soterradas na eventualidade de um novo abalo.

Nas aldeias perto do epicentro, a situação foi ainda pior. “Os nossos vizinhos estão sob os escombros e as pessoas estão a trabalhar arduamente para os resgatar usando os meios disponíveis na aldeia,” disse Montasir Itri, um residente da aldeia montanhosa de Asni, perto do epicentro, à Reuters.

Falha oblíqua-inversa em Marrocos

Embora a frequência dos sismos no Norte de África seja baixa, há vários casos de “grandes terramotos destrutivos registados e relatados a partir de Marrocos no Mediterrâneo ocidental”, explica o USGS.

Tais sismos ocorrem devido à “convergência norte da placa africana em relação à placa eurasiática ao longo de uma fronteira tectónica complexa”. Este novo sismo terá assim sido causado pela “falha oblíqua-inversa a uma profundidade superficial dentro da cadeia montanhosa Atlas de Marrocos”.

Uma falha é uma fratura ou zona de fraturas entre dois blocos de rocha. As falhas permitem que os blocos se movam relativamente um ao outro, causando terramotos se o movimento ocorrer rapidamente. Durante um sismo, a rocha de um lado da falha desliza subitamente e choca com o outro lado, causando os tremores.

Os cientistas usam o ângulo da falha em relação à superfície (conhecido como inclinação) e a direção do deslize ao longo da falha para classificar as falhas. As falhas inversas referem-se a uma situação em que o bloco superior, acima do plano de falha, se move para cima e sobre o bloco inferior. Este tipo de falha é comum em áreas de compressão — quando uma placa tectónica está a convergir com outra.

Enquanto Marrocos continua a lidar com as consequências deste evento sem precedentes, a comunidade global permanece firme no apoio e no envio de recursos para ajudar nos esforços de resgate e reabilitação.

ZAP // Lusa

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