Atacado pelos EUA: o que fará o Irão?

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Senior Airman Joel Pfiester/US Air Force

Dois B-2 Spirit como este bombardearam o Irão esta madrugada. Os EUA entraram na guerra.

Irão “isolado”, mas já disse que “reserva-se o direito de resistir com toda a força”. Passado recente pode dar-nos algumas pistas sobre como reagirá o regime iraniano.

“Ninguém sabe o que eu vou fazer”. Incerteza é a palavra do momento, depois de Trump fazer jus às suas declarações desta semana e atacar o Irão de surpresa na madrugada deste sábado: os EUA entraram oficialmente na guerra ao lado de Israel. E na manhã da ressaca dos ataques, é impossível saber ao certo no que a escalada de conflitos vai dar.

Como reagirá o Irão?

O regime iraniano já deu a entender que vai responder aos norte-americanos com força.

“A guerra começa agora”, assegurou o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), o principal braço do exército de Teerão; a República Islâmica do Irão “reserva-se o direito de resistir com toda a força” à agressão dos EUA, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano em resposta aos ataques desta madrugada.

“Os danos que os EUA sofrerão serão definitivamente irreparáveis ​​se entrarem militarmente neste conflito”, tinha prometido antes o líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, que se encontra escondido num bunker desde o início das hostilidades, na semana passada, e já está a escolher os seus sucessores caso venha a morrer.

Qualquer ataque norte-americano “quase certamente” desencadeia ataques iranianos contra civis norte-americanos, o que força os EUA a responder e aumenta o risco de uma guerra em grande escala, admite Daniel C. Kurtzer, antigo embaixador dos EUA em Israel, citado pelo The Guardian.

Mas se Trump diz a verdade e realmente deixou as três centrais nucleares iranianas “completamente destruídas”, o Irão já está numa situação muito difícil, e nunca conseguirá competir militarmente com os seus inimigos, acreditam os analistas.

O Irão não tem aliados na região. Os que tem, Huthis, Hamas, Hezbollah, estarão enfraquecidos. A Rússia não quer ser empurrada para o conflito, a China também não estará interessada. O apoio de países árabes e muçulmanos e das duas potências é visto como simbólico.

Qualquer resposta iraniana pode, até certo ponto, afetar os EUA, mas prejudica o próprio Irão. Lançar ataques contra bases americanas no Iraque, no Bahrein ou outros locais da região, efetuar ataques cibernéticos, atacar embaixadas americanas são todas possibilidades, e há analistas a falar na ameaça de ataques terroristas.

Fechar portas é outra opção que estará em cima da mesa para os iranianos. Falamos do Estreito de Ormuz, que o Irão pode minar como resposta a Trump. Já aconteceu, em 1988, quando uma mina iraniana danificou uma fragata da Marinha norte-americana.

E um acontecimento com 5 anos de idade também nos pode dar uma pista.  Quando os Estados Unidos assassinaram Qasem Soleimani, importante general iraniano, em 2020, o Irão ameaçou ir com tudo, mas limitou-se a lançar mísseis contra bases americanas no Iraque não ferindo ninguém dos EUA nesta vingança simbólica. Embora nisto, um jato de passageiros ucraniano foi atingido acidentalmente, matando todas as 176 pessoas que seguiam a bordo.

Também não é claro durante quanto tempo o Irão conseguiria dar continuidade a esta guerra. Depende de quantos mísseis balísticos e outras armas ainda tem na sua posse. Acreditava-se que o país tinha cerca de 2.000 mísseis capazes de atingir Israel no início da guerra. Mas o Irão disparou 700 deles, segundo a CNN.

Há também a hipótese de um cenário em que Israel anuncie um cessar-fogo e o Irão e os EUA concordem em retomar as negociações sobre o programa nuclear de Teerão, pondo um ponto final às hostilidades. Mas neste momento, essa é a mais improvável das hipóteses.

E perante contestação interna, mesmo entre os republicanos, Trump pode optar por ficar por aqui caso o Irão não responda de forma hostil.

De acordo com sondagem da The Economist e da YouGov, divulgada a 17 de junho, 60% dos norte-americanos opuseram-se à adesão ao conflito entre Israel e o Irão, com apenas 16% a favor. Entre os republicanos, 53% opuseram-se à ação militar. Mas se este for um ataque preciso e isolado, Trump pode vir a ser aplaudido pela intervenção cirúrgica.

O Irão vai desistir do programa nuclear?

Outra dúvida persiste: quão eficazes foram os ataques dos EUA, juntamente com os bombardeamentos israelitas, na destruição do programa nuclear do Irão?

Trump disse que Fordow, Natanz e Esfahan, com recurso a seis bombas e 30 mísseis tomahawk, foram “total e completamente destruídas”, mas o Irão, apesar de admitir o ataque, falou em danos “substanciais”, admitindo que as centrais estavam desativadas.

Com isso por apurar, também não ficou claro se as bombas americanas de 13.600 quilos seriam suficientes para destruir o local de enriquecimento de urânio de Fordow, “embutido” numa montanha. Os 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60% do Irão foram destruídos no ataque americano? E também não sabemos se o Irão possui outras centrifugadoras noutro local desconhecido.

Tomás Guimarães, ZAP //

8 Comments

  1. Se eu fosse o comandante chefe das forças armadas iranianas, o meu alvo para uma retaliação seriam os dois porta aviões americanos que se aproximam do Golfo Pérsico. Afundar dois porta aviões americanos seria um golpe substancial na capacidade americana para projetar o seu poderio militar para qualquer região do globo. E até não seria muito difícil. Tanto a Rússia como a China têm misseis anti navio que poderiam ceder ao Irão…

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    • Mas não cederam tal como nenhum pais arabe na pratica apoia Irão ou Hamas, vejam já desfeita “marcha sobre Gaza”

    • Cá está o comunista Cardoso da Silva com mais uma ideia patética. O Irão é um mosquito à beira dos Estados Unidos. Se tentar retaliar então ainda leva mais. Aí a América irá mais longe e varrerá toda a seita fanática que comanda o Irão.

  2. A Rússia e a China são os dois únicos países que têm capacidade para responder a um ataque dos Estados Unidos. Coisa que os EUA e os seus lacaios querem mudar. A partir de aí, o Presidente dos Estados Unidos converte-se no Presidente do mundo, com capacidade para bombardear quem quiser.
    Quanto à resposta do Irão. Talvez uns atentados terroristas … São a única resposta que qualquer país pode dar aos EUA.

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