Biometano, IA, canhões e o mar. O que é que Macron vem fazer a Portugal

Gonçalo Borges Dias/GPM)

O Presidente de França Emmanuel Macron e o primeiro-ministro Luís Montenegro em Paris.

O Presidente de França Emmanuel Macron e o primeiro-ministro Luís Montenegro em Paris.

Pela primeira vez em 26 anos, um Presidente francês visita Portugal. Emmanuel Macron estará em Lisboa e no Porto, esta quinta-feira e sexta-feira, para reforçar as relações entre os dois países.

A última visita de Estado de um Presidente francês a Portugal tinha acontecido há 26 anos, em 1999, com Jacques Chirac.

Agora, Macron vai passar 48 horas em Lisboa e no Porto, acompanhado pela esposa Brigitte Macron, e pelo ministro dos Transportes, Philippe Tabarot, pelo ministro Delegado para a Europa, Benjamin Haddad, e pelo ministro Delegado para o Comércio Externo e os Franceses no Estrangeiro, Laurent Saint-Martin.

Portugal e França devem assinar vários acordos bilaterais nas áreas da defesa, da Inteligência Artificial e da preservação dos oceanos.

Depois do encontro com Donald Trump na Casa Branca, com o fim da guerra na Ucrânia como tema principal, Macron deverá discutir com o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, a questão essencial da segurança na Europa.

Macron vai também querer confirmar o compromisso de Portugal em adquirir até 36 canhões CAESAR (Camião Equipado de um Sistema de Artilharia) até 2034.

Portugal é o terceiro parceiro comercial de França, representando “um volume de trocas de 15 mil milhões de euros” para os gauleses, segundo contas da Rádio BFMTV.

França é também um dos principais empregadores estrangeiros em Portugal, “com mais de 100.000 salários em 1.200 filiais de empresas tricolores” , sublinha a mesma Rádio.

Portugal e França fecham acordo para o biometano

Um dos acordos bilaterais que Portugal e França vão assinar, no âmbito da visita de Macron, prende-se com a produção de biometano.

A Floene e a GRDF, as maiores operadoras da rede de distribuição de gás em Portugal e em França, vão reforçar a parceria estratégica para o desenvolvimento de gases renováveis, um passo que pode acelerar a produção de biometano em Portugal.

O presidente executivo da Floene, Gabriel Sousa, explica à Lusa que o acordo prevê a continuação da “partilha de experiências legislativas e regulatórias”, bem como de soluções para a adaptação das infraestruturas para integrar gases renováveis na rede de distribuição de gás natural.

França é considerado um dos mercados com melhores resultados na implementação do biometano, com a Gaz Réseau Distribution France (GRDF) a ligar cerca de três novas unidades de biometano por semana à sua rede de distribuição.

O responsável da Floene considera que na base destes resultados não está apenas a “tecnologia”. “O sucesso passa muito pelas soluções regulatórias que acabam por ser favoráveis a este tipo de projectos”, nota, lamentando que em Portugal não aconteça o mesmo.

A roda está inventada, deveríamos ser capazes de aproveitar e fazer em pouco tempo aquilo que outros países demoraram sete a oito anos”, alerta Gabriel Sousa.

O aluno e o professor

Apesar de admitirem que França acaba por assumir mais o papel de professor e Portugal o de aluno, os responsáveis das duas empresas defendem que o grupo francês também acaba por vir beber conhecimento das experiências que estão a ser desenvolvidas em território nacional, nomeadamente na área do hidrogénio.

O Plano de Acção para o Biometano estabelece o objectivo de substituir quase 10% do gás natural por biometano até 2030 em Portugal, uma meta que o CEO da Floene diz “não ser impossível de alcançar”.

Aliás, segundo Gabriel Sousa, o país “tem um potencial que pode ir para além de 60% do consumo de gás ser substituído por biometano”.

Como o biometano é uma molécula igual à do gás natural, a actual rede está apta para este gás renovável, e o mesmo se aplica ao hidrogénio se for consumido em mistura e não a 100%, explica o CEO, dando como exemplo o projecto-piloto que estão a desenvolver no Seixal, com uma mistura de cerca de 15%.

Actualmente, Portugal tem uma unidade piloto de produção de biometano em Mirandela. Já a GRDF tem mais de 600 centrais a injectar na rede.

ZAP // Lusa

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