O Pentágono está a preparar uma “cortina infernal” de drones para defender Taiwan

ZAP // Dall-E-2

A estratégia global do Departamento de Defesa dos EUA para proteger Taiwan de uma potencial ofensiva militar maciça da China envolve inundar a região com milhares de drones.

Tornou-se uma crença comum nos corredores do governo dos EUA que a China irá lançar uma invasão em grande escala de Taiwan nos próximos anos.

Quando isso acontecer, as forças armadas americanas têm em mente uma resposta relativamente simples: desencadear o caos.

Numa entrevista ao The Washington Post, em junho, o comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA, almirante Samuel Paparo, descreveu o plano de contingência dos militares para uma invasão chinesa de Taiwan.

Esse plano envolve inundar o Estreito de Taiwan com enxames de drones por terra, mar e ar, para atrasar um ataque chinês durante o tempo suficiente para que os EUA e seus aliados mobilizem recursos militares adicionais para a região.

“Quero transformar o Estreito de Taiwan numa paisagem infernal não tripulada“, disse Paparo. O objetivo é tornar a vida miserável para os invasores durante pelo menos um mês, ganhando tempo para que o resto das forças armadas dos EUA e os seus aliados possam responder.

Os drones, que se tornaram elementos-chave em campos de batalha desde a Ucrânia até ao Médio Oriente, tornaram-se rapidamente um ponto crucial para os planos futuros das forças armadas dos EUA.

Embora Paparo não seja o primeiro a sugerir uma “barreira infernal” de drones em relação a Taiwan, os seus comentários oferecem a descrição mais clara até agora tornada pública do plano do Pentágono para combater um eventual ataque chinês contra o aliado dos EUA.

A China tem estado a expandir significativamente as suas forças militares, em preparação para o que os líderes da defesa americana acreditam ser uma tentativa iminente de anexar Taiwan — que Pequim vê como uma província separatista.

A Marinha do Exército de Libertação Popular da China (ELPC) tem já atualmente a maior força naval do mundo, com 234 navios de guerra, em comparação com os 219 da Marinha dos EUA. Até 2035, prevê-se que a China tenha até 475 navios.

Além disso, a Força Aérea do ELPC tem o maior número de aviões de combate de toda a região.

Embora seja difícil estimar a dimensão exacta do arsenal de veículos não tripulados da China, o país tornou-se o principal exportador mundial de drones de combate armados na última década.

A gigante chinesa de drones comerciais DJI / Da-Jiang Innovations domina o mercado de drones de consumo, fornecendo muitos dos drones que são convertidos em armas nas linhas da frente. Este domínio dá já à China uma vantagem significativa na guerra de drones.

O plano “hellscape” do Pentágono propõe a criação de uma cortina maciça de enxames de drones autónomos concebidos para confundir os aviões inimigos, guiar mísseis e perturbar navios de guerra de superfície e de desembarque.

Estes drones não só atacarão os adversários, como fornecerão informações críticas e reconhecimento para preencher as lacunas entre as imagens de satélite e os voos tripulados, oferecendo aos EUA e seus aliados uma imagem completa do campo de batalha à medida que os acontecimentos se desenrolam.

Um relatório de 2020 da Rand Corporation, citado pela Wired, concluiu que centenas de drones de baixo custo ligados em rede poderiam guiar mísseis anti-navio americanos de longo alcance em direção a uma frota de invasão chinesa e seriam cruciais para defender Taiwan com sucesso.

O plano do Pentágono é baseado na ideia de que usar um grande número de armas mais pequenas e mais baratas, de forma distribuída, impediria a China de ganhar superioridade aérea.

Os EUA estão a trabalhar para transformar esta visão em realidade.

Recentemente, a Secretária Adjunta da Defesa, Kathleen Hicks, apresentou a nova Iniciativa Replicator do Pentágono, concebida para construir e colocar em campo um enxame de sistemas autónomos descartáveis com IA, numa escala maciça, dentro de 18 a 24 meses — para o que atribuiu uma dotação de mil milhões de dólares, cerca de 900 milhões de euros, nos orçamentos de 2024 e 2025.

Além de expandir o seu arsenal de drones, os EUA também estão a ajudar Taiwan a reforçar as suas próprias capacidades de drones.

Em junho, o Departamento de Estado norte-americano aprovou a venda a Taipei de armas no valor de 360 milhões de dólares, cerca de 325 milhões de euros, incluindo centenas de drones kamikaze. Taiwan planeia adquirir cerca de 1.000 drones de ataque adicionais equipados com IA no próximo ano.

Ainda assim, a indústria de defesa dos EUA pode ter dificuldades em dar resposta às necessidades de produção de drones no caso de um conflito prolongado com a China.

Segundo um estudo de 2023 da Rand Corporation, a crescente procura por drones armados poderia “sobrecarregar” a base industrial de defesa dos EUA. O desafio é agravado pela capacidade da China de acelerar rapidamente as capacidades de pesquisa, desenvolvimento e produção de sua indústria de defesa.

O sucesso das estratégias de defesa dos EUA e de Taiwan depende fortemente de financiamento adequado e preparação atempada. Se o plano for executado com eficácia, o Pentágono talvez consiga atrasar ou mesmo impedir uma invasão chinesa, inundando o Estreito de Taiwan com drones letais.

Mas a essência do plano é na prática transmitir a ideia de que o próximo grande conflito no Indo-Pacífico pode ser um pesadelo para os militares chineses, e fazê-los pensar duas vezes antes de decidirem que está na hora de reclamar Taiwan — uma espécie de Guerra Fria numa versão com exames de drones.

Armando Batista, ZAP //

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