Segundo um relatório divulgado a semana passada na Alemanha, o impacto das mudanças climáticas contribui para o surgimento e crescimento de grupos terroristas como Boko Haram e o Estado Islâmico.
Elaborado pelo think-tank alemão Adelphi, o estudo Insurreição, Terrorismo e Crime Organizado num Mundo em Aquecimento concluiu que as alterações do clima multiplicam e interagem com ameaças, riscos e pressões já existentes, como a escassez de recursos, o crescimento populacional e a urbanização.
Segundo Lukas Rüttinger, autor do relatório, a conjugação destes fatores leva à fragilidade e conflitos violentos nos quais esses grupos podem prosperar.
Cada vez mais os grupos terroristas estão a usar os recursos naturais – como a água – como arma de guerra, controlando o acesso a eles e agravando a sua escassez.
Quanto mais escassos os recursos se tornam, maior poder é dado a quem os controla, especialmente em regiões onde as pessoas dependem particularmente dos recursos naturais para sua subsistência.
Por exemplo, na região do Lago Chade, as alterações climáticas contribuem para a escassez de recursos que aumentam a concorrência local por terra e água. Esta competição, por sua vez, alimenta tensões sociais e até conflitos violentos.
Ao mesmo tempo, essa escassez de recursos provoca uma erosão dos meios de subsistência de muitas pessoas, agravando a pobreza e o desemprego e levando ao deslocamento das populações. Grupos terroristas como o Boko Haram ganham poder neste ambiente frágil.
À medida que as alterações climáticas vão afectando a segurança alimentar e a disponibilidade de água e de terra, as pessoas tornam-se mais vulneráveis não só aos impactos negativos do clima mas também ao recrutamento por grupos terroristas que oferecem meios de subsistência e incentivos económicos alternativos.
“As áreas já vulneráveis podem ser colocadas num ciclo vicioso, que torna mais fácil a acção do terrorismo, o que, por sua vez, leva ao surgimento destes grupos, com consequências para todos”, resume Rüttinger.
Lacunas do Estado
Por vezes, os grupos terroristas tentam preencher as lacunas deixada pelo Estado, fornecendo serviços básicos para ganhar o apoio da população local. À medida que o impacto do clima se agrava, alguns Estados terão que lutar cada vez mais para conseguir fornecer serviços e manter a sua legitimidade.
Este relatório coincide com a ameaça da fome, da seca e da guerra sobre milhões de pessoas na região do Lago Chade, na África.
“Uma perspectiva mais ampla ajudará a enfrentar melhor as causas do surgimento e o crescimento de grupos armados não estatais”, disse Rüttinger.
A 31 de março, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução sobre a região onde o Boko Haram actua, na qual se destaca a preocupação com a interacção dos factores que levam à crise e se pede uma melhor colaboração entre os membros das Nações Unidas para lidar com a situação.
A resolução, que também solicita ao Secretário Geral da ONU, António Guterres, que emita um relatório sobre a crise, surge depois de os embaixadores do Conselho de Segurança terem recentemente visitado a região.
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Será piada?