Filho de Marcelo no Parlamento: “Foi pago”? Dinheiro é novo foco, PSD brinca (e nem faz perguntas)

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António Pedro Santos/LUSA

Nuno Rebelo de Sousa (por vídeo) na CPI, com André Ventura e António Rodrigues

Nuno Rebelo de Sousa repetiu diversas vezes a frase: “Pelas razões referidas, não respondo”. Há ameaça de crime.

Nuno Rebelo de Sousa esteve na Comissão Parlamentar de Inquérito para responder a perguntas dos deputados sobre o caso das gémeas – mas não respondeu a nenhuma.

A “conversa” com os deputados decorreu por vídeochamada e, como já se esperava, o filho do presidente da República refugiou-se no seu direito ao silêncio. Durante toda a sessão.

Ainda houve duas rondas de perguntas, por insistência de João Paulo Correia, deputado do PS; mas Nuno nunca respondeu. Só deu nome completo, profissão e disse que está há 15 anos no Brasil (até deixou a sua morada completa), após uma intervenção de João Almeida (CDS), que pediu para o interrogado dizer “o que faz da vida”.

Quando o mesmo deputado perguntou a Nuno se tinha relação com outras pessoas envolvidas na investigação, não houve resposta; João Almeida avisou que “não pode não responder”, alegando que a resposta seria parte da identificação da testemunha, prevista no Código de Processo Penal. O deputado pediu para que a falta de resposta fique em acta: “Desobedeceu a uma obrigação de qualquer testemunha”.

O mesmo João Almeida avisou que esta postura pode originar uma “participação de crime de desobediência qualificada porque esta recusa de resposta não se enquadra na exclusão prevista na lei dos inquéritos parlamentares”.

João Paulo Correia seguiu o mesmo rumo, falando num possível crime de desobediência “que pode ter enquadramento legal, criminal, além de ser um desrespeito enorme ao inquérito parlamentar”.

Recebeu dinheiro?

Entre as perguntas e comentários que ficaram sem resposta, houve uma dúvida que se destacou e que não tem sido tão comentado: Nuno Rebelo de Sousa recebeu dinheiro para acelerar o processo das gémeas?

Recebeu, foi pago, directa ou indirectamente, agora ou num futuro próximo, por ter actuado neste papel de lobista e de facilitador de negócios?”, questionou João Paulo Correia.

Joana Mortágua (BE) ainda tentou que o empresário respondesse a perguntas não relacionadas com o caso. Sem sucesso. E também lançou a questão central: “Considera-se lobista? Recebe ou não contrapartidas?“.

Inês Sousa Real, além de falar sobre as contradições no caso, disse que a actuação do filho de Marcelo Receblo de Sousa pode ser vista como “um gesto altruísta” ou um gesto que promoveu “um beneficio económico para alguém”.

Também surgiu o verbo “aproveitar” no discurso de Inês, sugerindo que Nuno entrou num “negócio feito à conta” do sofrimento de duas crianças.

A história e o trocadilho do PSD

A primeira falar foi Joana Cordeiro (IL), que destacou as contradições no caso, acrescentando que é “óbvio” que, ou Nuno Rebelo de Sousa, ou Lacerda Sales, estão a mentir. A deputada liberal classificou o silêncio do interrogado como um gesto de “cobardia” e salientou que “há algo obviamente que se quer esconder”.

Depois, Alfredo Maia (PCP) ainda fez uma pergunta sobre os preços dos medicamentos, sem falar do caso. Como também não houve resposta, o deputado comunista nem fez mais perguntas.

O próximo deputado a fazer perguntas seria Paulo Muacho, mas o representante do Livre nem questionou nada. Foi o primeiro deputado a não fazer perguntas.

Mas não seria o único. Quando chegou a vez do PSD, António Rodrigues não fez perguntas. Contou uma história: ‘Robin dos bosques da solidariedade’. Falou sobre uma história de ficção “que nunca aconteceu” cheia de “altruísmo e bondade”, a rondar o tom de “comédia”. E salientou que nada do que foi visto até agora nos documentos constitui um crime por parte do interrogado.

Numa “teia que cresce” todos os dias, este processo “é um best-seller em crescimento, porque vamos acrescentando capítulos, e podia estar no top-5 dos livros mais vendidos em Portugal: ninguém se envolveu, aqueles que se envolveram calaram-se, os que podiam ter ajudado esqueceram, os que podiam ter ajudado de forma direta e clara negaram“. E acrescentou que castava que Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa tivessem assumido que ajudaram as crianças por “humanidade”.

O mesmo deputado do PSD, quando chegou à segunda ronda de perguntas a “sua excelência”, voltou à ironia: “Pelas razões referidas, não pergunto”.

Do Chega, André Ventura, que ao falar sobre contradições avisou que não queria que os deputados passem por “tontos” ou “parvos”, acrescentou que Nuno Rebelo de Sousa “criou um dos maiores problemas que a República alguma vez viveu em relação a um presidente”, que fica sob suspeita. Cristina Rodrigues centrou-se na aparente mistura de relações institucionais e profissionais com relações pessoais, para poder interferir no caso.

Quase a fechar, João Paulo Correia (PS) avisou que Nuno Rebelo de Sousa poderá voltar a esta comissão.

Marcelo (não) falou

Enquanto decorria esta audição, Marcelo Rebelo de Sousa falou à CNN Portugal.

O presidente da República repetiu o… silêncio: “Nunca comento o que se passa no Parlamento, nas intervenções em plenário e em comissões. Entendo que a separação de poderes leva o presidente da República a não comentar o que se passa lá”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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1 Comment

  1. Todos os protagonistas deste opaco caso , remetem-se a un silencio ensurdecedor , cada un sacudindo a água do capote como pode . En termos de apurar verdade(s) e Investigação Criminal , vai ser como inúmeros outros casos que envolvem certas Personalidades , ou seja acaba no esquecimento coletivo ! . Como acreditar na dita “Justiça” ?

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