A irmã empurrou-a pela Europa, numa travessia de quase seis mil quilómetros, para fugir ao conflito na sua terra natal. Agora vive na Alemanha e sonha ser astronauta.
Tal como a grande maioria dos refugiados, Nujeen Mustafa e a família fugiram da Síria no ano passado para fugir aos extremistas e aos bombardeamentos na sua terra natal.
Em busca de uma vida melhor, a jovem síria aventurou-se numa travessia com destino à Europa, que por si só já é difícil, mas com um pequeno grande detalhe atrás: uma cadeira de rodas.
A adolescente de 17 anos, que agora vive em Wesseling, na Alemanha, sofre de paralisia cerebral e percorreu 5.782 quilómetros a ser empurrada pela irmã Nasrine.
A “odisseia”, como lhe chama o jornal ABC, durou 13 meses, custou mais de cinco mil euros por cabeça e passou por países como a Turquia, Grécia, Macedónia, Sérvia, Croácia, Eslovénia e Áustria.
Ainda na Síria, Nujeen via horas a fio televisão por satélite: desenhos animados da Disney, documentários, telenovelas ou jogos de futebol.
Foi assim que, de uma forma autodidata, começou a aprender inglês, uma ajuda valiosa durante o percurso, feito por mar e por terra, até à Alemanha.
Agora, na localidade de 35 mil habitantes onde vive, entre Bonn e Colónia, a adolescente vai à escola (algo que nunca tinha feito) e está a ser acompanhada por especialistas.
“Nada é igual agora”, diz a jovem que, no futuro, sonha ir para a universidade e ser astronauta. Caso não consiga, tem um plano B na manga: ser escritora.
“Se esse plano não resultar, tenho sempre a minha imaginação”, afirmou em entrevista ao The Guardian, acrescentando que também gosta de áreas como a geografia e a biologia.
Os primeiros passos na escrita já começaram, com a publicação de um livro, que teve a ajuda de Christina Lamb, a biógrafa de Malala, e no qual dá rosto a esta crise dos refugiados.
“Foi uma forma de me expressar e uma grande oportunidade para tentar mudar a forma como muitas pessoas olham para os refugiados”, explicou numa entrevista à agência Efe.
“As pessoas esquecem-se que os refugiados são pessoas que sofrem e não são apenas números“, denuncia ainda a jovem, que está separada dos pais (que estão na Turquia) há mais de um ano.
O seu objetivo é fazer com que os pais consigam também chegar ao país, no entanto, sabe que até conseguir isso é um “longo caminho”.
Quando lhe perguntam se pensa algum dia voltar ao seu país, Nujeen não perde a esperança e diz que a guerra terá de acabar.
“Mantenho a esperança de que a guerra acabe. Nada dura para sempre não é? As coisas têm de melhorar. Se a guerra acabar, é claro que voltarei”, assegura.
FM, ZAP