Um grupo de peritos constituído em dezembro pelo Ministério da Educação quer que o ensino da Matemática assente num novo currículo, deixando para trás documentos que considera contraditórios entre si.
Coordenado pelo professor Jaime Carvalho e Silva, da Universidade de Coimbra, o grupo fez um total de 24 recomendações ao longo de quase 300 páginas, que estarão em consulta pública nos próximos três meses, segundo avança o Público esta terça-feira.
Em causa está “a elaboração urgente de um currículo de Matemática para todos os ciclos de escolaridade (do 1.º ciclo do ensino básico até ao final do ensino secundário)”, que “deverá substituir todos os programas de Matemática, em particular o programa e as metas curriculares em vigor” — aprovadas pelo anterior ministro Nuno Crato —, “e as aprendizagens essenciais que deles decorreram” — aprovadas pelo atual ministro Tiago Brandão Rodrigues.
Isto significa que os especialistas consideram que se deve eliminar “a profusão de documentos curriculares nacionais díspares, que atualmente coexistem dirigidos ao ensino da Matemática.”
Os especialistas defendem que o novo currículo deve ser desenhado tendo em conta vários aspetos como as orientações curriculares de países “cujos alunos apresentam elevado sucesso em Matemática”.
Primeiro desenha-se um currículo de Matemática a nível nacional, que definirá o “núcleo comum para todos os alunos”, no qual ficam estabelecidos objetivos, conteúdos matemáticos que todos deverão aprender, orientações metodológicas, recursos a usar e avaliação a praticar.
Depois, a nível local, as escolas ou agrupamentos de escolas podem detalhar e complementar o currículo nacional “atendendo às especificidades dos seus contextos” desenhando os seus próprios “documentos curriculares locais”, lê-se no documento. O GMT acredita que os documentos curriculares locais pensados pelos professores vão permitir adequar o ensino “à diversidade dos alunos e às especificidades dos contextos”.
O novo currículo nacional, defende ainda o grupo de peritos, “deve ser pensado por ciclos e não por anos de escolaridade” e “os conhecimentos matemáticos a abordar em cada ciclo devem ser num número relativamente pequeno”.
Outra das novidades é a aposta nas ferramentas tecnológicas como arma para ensinar e aprender. O uso da Internet, por exemplo, deve ser visto como um aliado.
Além da análise do currículo da Matemática, o documento apresenta também recomendações sobre as dinâmicas de desenvolvimento curricular, avaliação das aprendizagens dos alunos e formação de educadores e professores. Para o GMT, os processos de mudança curricular devem ser acompanhados por dispositivos de regulação e apoiados com programas de formação de educadores e professores e com recursos adequados.
Sobre a avaliação das aprendizagens dos alunos, o GMT recomenda práticas de avaliação formativa nas aulas de Matemática, “contribuindo para a aprendizagem matemática e não possibilitando a retenção sem ser nos finais de Ciclo”.
Na avaliação externa, recomenda-se que as provas sejam alinhadas com os focos essenciais da aprendizagem matemática e ainda que sejam comparáveis ao longo do tempo. A garantia dessa comparabilidade deve ser assegurada nas provas de aferição e não nos exames.
Ao Público, o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Filipe Oliveira, que colaborou na elaboração dos programas e metas curriculares de Nuno Crato, reconhece que a situação atual “é insustentável”, mas defende que “sejam revogadas as aprendizagens essenciais e se mantenham os programas e metas curriculares que estão em vigor”.
Já o presidente da Associação de Professores de Matemática, Lurdes Figueiral, concorda que que se avance para um novo currículo nacional, que seja “coerente e progressivo”, defendendo que, em todo o caso, “nunca se parte do zero, porque há sempre muito trabalho já feito”.