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As noivas chinesas usam até cinco vestidos. Ainda assim, fornecem inspiração para uma “moda sustentável”

aurea-avis / Flickr

Noiva chinesa com um vestido tradicional

As noivas chinesas podem usar até cinco vestidos no casamento. Esse consumo, despoletado pelo aumento da capacidade de compra, pode parecer exagerado. No entanto, a prevalência de uma cultura de aluguer permite manter os níveis de sustentabilidade na indústria da moda do país.

Do outro lado do Hemisfério Norte, as flores desabrocham, os dias são mais quentes e os pássaros cantam. Mas na China há outro indicador altamente visível da estação: os casais finamente vestidos para o casamento, tirando fotografias nos lugares mais pitorescos do país, com um fotógrafo a tiracolo.

De acordo com um artigo do Conversation, divulgado na quarta-feira, os casamentos na China sempre foram opulentos – com elaborados vestidos e uma série prolongada de rituais -, mas, nas últimas décadas, à medida que o país se posiciona como um dos líderes mundiais e a receita aumenta, os mesmos tornaram-se ainda mais sofisticados.

O aumento da consciencialização popular chinesa sobre o traje de noiva e as tendências culturais aumentaram essa opulência, com uma mistura cada vez maior entre as tradições ocidentais e locais.

Os casamentos são agora tão importantes para a cultura chinesa que o pequeno distrito de Tiger Hill, em Suzhou, tornou-se o centro da indústria de vestidos de casamento, produzindo até 80% dos vestidos de noiva do mundo. Esse aumento na indústria foi alimentado por uma nova geração de noivas chinesas, que se tornaram não apenas conscientes da marca, mas também dependentes da marca.

Num momento em que a sustentabilidade é encarada como uma meta fundamental para a indústria global da moda, essa tendência chinesa é uma preocupação. No país, os problemas de ‘fast fashion’ vistos em todo o mundo – desde o desperdício na produção até a produtos de baixo custo, produzidos com tecidos sintéticos de pouca qualidade -, são ampliados. E os vestidos de casamento são um símbolo apropriado para os excessos da indústria: geralmente um item excessivamente caro, utilizado apenas uma vez.

No entanto, apesar do crescente consumo nessa área, a China oferece alguma esperança para um mundo e uma indústria cada vez mais preocupados com a sustentabilidade.

Por todo o país, Suzhou é conhecida, há séculos, como a cidade da seda e do bordado. Mas com a evolução da cultura de casamentos, a área do mercado nupcial de Tiger Hill desenvolveu-se: primeiro como centro para estúdios de fotografia de casamento e, depois, como centro de produção e distribuição de vestidos de noiva.

Segundo o artigo, situado a apenas algumas centenas de metros de um dos famosos destinos turísticos de Suzhou, o Tiger Hill (Hu Qiu, em chinês) transformou-se num tesouro de renda, tafetá e contas.

Nesse local, as lojas oferecem todo tipo de vestidos de noiva. Enquanto muitas lojas cingem-se a clientes particulares, as lojas digitais representam uma grande parte da clientela da região.

O distrito, como muitos no país, sofreu uma rápida transformação desde a passagem de milénio, impulsionado por um número crescente de consumidores, com uma disponibilidade financeira crescente. O Tiger Hill Wedding Market é agora visto como o local para comprar vestidos de noiva na China, com os preços a variar entre os 10 e os 10 mil euros.

Mas uma diferença fundamental entre Suzhou e outros mercados de vestidos de noiva é a prevalência de uma cultura de aluguer, semelhante à prática ocidental de aluguer de ‘smokings’ para noivos e padrinhos.

No Reino Unido, assim como noutros países ocidentais, é cada vez mais popular as noivas usarem dois vestidos no dia do casamento: um na cerimónia formal e outro na festa, à noite, concebido para que a mesma possa dançar.

Na China, contudo, as noivas usam até cinco vestidos. Enquanto o padrão nas décadas anteriores era de usar dois ou três, esse número aumentou nos últimos anos. A noiva chinesa ideal usa vestidos que representam não apenas diferentes seções da programação do dia do casamento, mas também diferentes níveis do “eu”, lê-se no artigo.

Há um para a manhã, quando a noiva é apanhada pelo noivo depois de uma série de desafios e jogos verbais. Um para o passeio no salão e outro para a cerimónia. Depois, um para os brindes e, talvez, um quinto para as últimas horas da noite.

Isso pode soar exagerado e um desnecessário. E, de fato, aumentar a demanda do consumidor por um número maior de vestidos para cada evento significativo do dia do casamento pode colocar uma maior pressão sobre a indústria, tendo essa que produzir um volume maior para atender aos pedidos.

Mas não precisa de o fazer, especialmente se o país não perder a tradição de alugar os vestidos. E com o preço dos vestidos a custar até dezenas de milhares de yuans (moeda chinesa), o aluguer ainda é comum entre as noivas chinesas, devido às dificuldades económicas e à natureza da cerimónia.

Apesar disso, a prática de possuir os próprios vestidos de noiva, ao invés de os alugar, cresceu nas últimas décadas. A nova geração de noivas chinesas procura cada vez mais demonstrar o seu ‘status’ social por meio do casamento.

Então, agora, mais do que nunca, um vestido de casamento de uso único representa um desafio para a indústria do casamento, tanto na China quanto em todo o mundo. Reavivar a cultura do aluguer é uma das opções para manter esse mercado sustentável. Outra, pode estar relacionada com o material utilizado nos vestidos. As noivas podem, ainda, optar por vestidos adaptáveis para outras ocasiões. Estas ideias “podem ser o caminho a seguir pelas noivas que buscam a sustentabilidade”, concluiu o artigo.

TP, ZAP //

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