Um painel de jurados do Kentucky indiciou esta quarta-feira apenas um polícia por disparar contra apartamentos na vizinhança, mas não avançou com acusações contra nenhum polícia na morte da jovem negra Breonna Taylor.
Imediatamente após o anúncio do painel de jurados ao juiz de um tribunal de Louisville, no Kentucky, nos Estados Unidos, as pessoas que aguardavam com expectativa a decisão expressaram a sua frustração e responsáveis do Until Freedom, uma das organizações que pressionou por acusações contra os polícias, escreveram nas redes sociais que “não se fez justiça”.
Na rede social Twitter, o advogado da família de Breonna Taylor, Ben Crump, classificou a decisão como “escandalosa e insultosa”.
O presidente da Câmara de Louisville, Greg Fischer, já tinha anunciado o recolher obrigatório a partir das 21h até às 6h30 da manhã seguinte, pedindo às pessoas para se manifestarem pacificamente.
Breonna Taylor, uma profissional de saúde negra de 26 anos, foi baleada várias vezes por uma equipa de três polícias que entraram em sua casa, com um mandado de busca no âmbito de uma investigação de tráfico de droga, em 13 de março, provocando comoção e indignação popular, num ano em que os Estados Unidos foram abalados por violentas manifestações contra a violência policial.
O painel de jurados decidiu indiciar o polícia Brett Hankison, que já se tinha demitido, de três acusações de “ação perigosa”, puníveis com pena até cinco anos de prisão, durante a operação em que entrou em casa de Breonna Taylor, mas não apresentou nenhuma acusação contra os outros polícias ou pelo assassínio da jovem negra.
Para além de Hankison, dois polícias e um detetive entraram na casa de Breonna Taylor, tendo sido transferidos para outros serviços, enquanto aguardam decisão judicial.
No tiroteio, o namorado de Taylor, Kenneth Walker, disparou quando a polícia entrou em casa, atingindo um dos polícias, tendo chegado a ser acusado de tentativa de homicídio, mas posteriormente os procuradores retiraram a acusação.
Em 15 de setembro, as autoridades da cidade de Louisville abriram um processo contra os três polícias, a pedido da mãe de Taylor, concordando em pagar-lhe 12 milhões de dólares (cerca de 10 milhões de euros) e em promulgar reformas no sistema policial local.
Manifestantes em Louisville e em várias outras cidades manifestaram-se, ao longo dos últimos meses, exigindo justiça para Taylor e para outros afro-americanos mortos às mãos da polícia, tendo recebido o apoio de algumas celebridades, incluindo a cantora Beyoncé e a apresentadora televisiva Oprah.
Durante os protestos desta quarta-feira, dois polícias ficaram feridos por tiros. Por volta das 20h30 de quarta-feira (1h30 de quinta-feira em Lisboa), dois agentes da polícia foram alvejados e levados para o hospital, encontrando-se fora de perigo, segundo as autoridades.
O chefe interino da Polícia de Louisville, Robert Schroeder, confirmou que o incidente ocorreu pouco antes do recolher obrigatório, decretado para conter os protestos.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu a ajuda do Governo federal para conter os protestos na cidade, que foram replicados em cidades de todo o país. “Rezo pelos dois agentes que foram alvejados esta noite em Louisville, Kentucky. O Governo federal está pronto a ajudar”, escreveu Trump no Twitter, acrescentando que falou com o governador Andy Beshear. “Estamos prontos para trabalhar juntos”, disse.
Também o candidato presidencial democrata, Joe Biden, se pronunciou sobre os protestos, tendo apelado a manifestações pacíficas e defendendo que é necessário resolver os problemas da “utilização de força excessiva” pela polícia, “a proibição de estrangulamentos” e a revisão dos mandados que permitem às forças policiais a entrada em casas sem aviso.