Nigéria reduz produção de gás para Portugal. Mas Governo diz que “não há escassez no mercado”

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O maior fornecedor de gás à Galp alertou para uma redução substancial da produção devido às cheias na Nigéria. Galp admite mais disrupções.

A Nigéria avisou a Galp que vai sofrer mais falhas na entrega de gás natural liquefeito (GNL), devido às cheias no país. A empresa portuguesa indica que foi alertada de que as cheias vão provocar uma redução substancial na produção e fornecimento de GNL, segundo um comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.

A Galp afirma não ter informação suficiente para avaliar o impacto, mas pode no entanto, “resultar em mais disrupções nas suas fontes de fornecimento”.

Os contratos de compra de gás à Nigéria são os responsáveis pelo abastecimento do mercado regulado de gás natural em Portugal, segundo avança o Observador.

Para além do abastecimento aos clientes do mercado regulado, o contrato da Nigéria é também responsável pelo fornecimento à Turbogás, que produz energia elétrica para o mercado regulado.

Desde o ano passado que a Nigéria tem vindo a falhar entregas de gás natural à Galp por questões operacionais. O risco de perturbações já levou o Governo e os gestores da empresa a deslocarem~se ao país.

No entanto, o que está em causa agora são motivos de força maior, invocados pela empresa Nigeria LNG, devido às inundações que estão a afetar a produção de gás.

As cheias já provocaram a morte de mais de 600 pessoas e desalojaram cerca de 1,4 milhões de habitantes, de acordo com o Expresso.

O corte do abastecimento de gás não está, por isso, relacionado com outras perturbações dos últimos meses, como as motivadas pelos roubos de petróleo e gás em território nigeriano e o desvio de navios metaneiros para outros mercados que não os inicialmente previstos nas entregas da Nigeria LNG.

A Nigeria LNG é uma empresa criada em 1989 para operar centrais de liquefação de gás natural (centradas na região de Bonny) de modo a facilitar o seu transporte por via marítima para diversos destinos internacionais.

A empresa é detida em 49% pelo Governo da Nigéria, tendo ainda como acionistas a Shell (25,6%), a TotalEnergies (15%) e a Eni (10,4%). Detém 16 contratos de longo prazo para a venda de gás a 10 compradores (a Galp é um deles), controlando cerca de 6% das vendas mundiais de GNL, segundo o seu site.

A situação ocorre num momento de grandes dificuldades na diversificação de fontes de fornecimento de gás natural, com cortes nas entregas à Europa pela Rússia.

As falhas no abastecimentos coincidem também com um período de grande dependência do sistema elétrico das centrais a gás, como consequência da seca que travou a produção hidrolétrica em 15 barragens.

Portugal desligou o Pego, a última central a carvão, há um ano. Ficou dependente da produção das centrais a gás e das importações de eletricidade de Espanha para cobrir a procura que não é abastecida por fontes renováveis.

As ações da Galp estavam hoje a cair 6,55% para 9,45 euros, depois da petrolífera ter informado sobre as falhas na entrega de gás natural.

Às 10h00, tinham mudado de mãos mais de dois milhões de ações da Galp, depois das mesmas terem encerrado a 10,11 euros na segunda-feira, com o valor das transações a atingir cerca de 20,5 milhões de euros. À mesma hora, o PSI acentuava as perdas em relação à abertura e caía 0,72% para 5.386,78 pontos.

Alternativas mais difíceis e mais caras

Portugal tem vindo a sublinhar que a dependência do gás russo é bastante reduzida, mas o país não consegue evitar o impacto nos preços.

O preço do gás que substituir o GNL da Nigéria será sempre mais caro, por estar exposto ao mercado spot, enquanto os contratos de take or pay com este fornecedor garantem preços mais baixos.

A Argélia, outro fornecedor de Portugal, interrompeu a venda do gás via gasoduto no ano passado, devido às tensões com Espanha.

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entre março e agosto de 2022 — o período da guerra na Ucrânia — os quatro principais fornecedores da gás foram os EUA (peso de 40,3%), Trindade e Tobago (22,8%), Nigéria (19,6%) e Guiné Equatorial (12,9%). No entanto, a Nigéria foi o maior fornecedor de gás no ano passado.

Governo não confirma redução de gás

O Governo já reagiu ao anúncio das falhas na entrega de gás liquefeito, sublinhando que, neste momento, não tem indicações de quebra nos fornecimentos da Nigéria.

O Ministério do Ambiente e da Ação Climática salienta que “mesmo que tal acontecesse, não há escassez no mercado“, numa nota em reação à informação dada pela Galp sobre a queda de produção de gás na Nigéria.

O ministério acrescenta ainda que “qualquer informação alarmista é desadequada, ainda mais em tempos de incerteza global”.

Na semana passada, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, manifestou a expetativa de que a Nigéria ia cumprir as entregas, mas admitia o risco.

Ainda em setembro, Duarte Cordeiro admitiu que queria “acreditar” nos fornecedores, “mas é evidente que estamos num contexto de enorme turbulência no mercado”.

“E não podemos dizer, no atual contexto, que não temos risco. Temos riscos. De hoje para amanhã, podemos ter um problema. Pode não ser fornecido o volume de gás que tínhamos previsto que ia ser fornecido e isso pode significar que passamos a ter outro fornecimento, com outro preço, o que vai alterar os preços do mercado”, afirmou o ministro, citado pelo jornal Público.

“O Governo nigeriano diz que vão cumprir com os contratos, mas, obviamente, existe o risco de não se cumprir. No passado, já aconteceu não entregarem a totalidade do gás que estava contratualizado. Se isso acontecer, significa que haverá alterações e pode significar que o gás ficará mais caro”, acrescentou na altura.

Alice Carqueja, ZAP //

3 Comments

  1. Quando o governo diz que está tudo bem é motivo para preocupação…
    Já houve cortes antes das cheias e agora as cheias são mais uma justificação para não cumprir os contratos. Se podem vender a 40 ou 50 no mercado atual porque estar a cumprir contratos onde se vende a 10 ou a 15???

    Vemos um governo a dizer que devemos mudar para o mercado regulado com preços mais baratos e assim evitar tomar medidas como a redução ou mesmo a eliminação do iva nas faturas ainda que temporáriamente e, depois, esse mesmo governo já anuncia aumentos no mercado regulado e já começa a não ter garantias para abastecer esse mesmo mercado.

  2. Isto :

    “Portugal desligou o Pego, a última central a carvão, há um ano. Ficou dependente da produção das centrais a gás e das importações de eletricidade de Espanha para cobrir a procura que não é abastecida por fontes renováveis.”

    Há cerca de um ano o ministro do ambiente veio congratular-se por Portugal ser o primeiro pais da Europa livre de carvão…

    A Merckl fechou quase todas a centrais nucleares, agora zee germans estão à rasca.

    É bom que o povo comece a usar o cérebro… É que não usar, fica mais caro

  3. É mais fácil fechar as centrais para agradar aos ambientalistas . Esta onda de políticos é apenas quer que digam que se vangloriam com as reduções de emissões , só que depois ficamos a depender daquilo que precisamos. O Cordeiro é ministro do ambiente vem com a história do mercado regulado , mas sem gás da argélia e da nigéria mesmo dizendo que está tudo no melhor , vamos ficar sem gás. O gasoduto que inicialmente era para ser abastecido no porto de sines fica fechado até que surjam novas ideias. A borrada do gás natural empurrou os portugueses para o telefone , bichas e horas de espera. Só que o Cordeiro como não tem gás diz que aumentar o preço. É preciso ter paciência com este melro. Porque não exploramos aquilo que temos algarve com outro países fazem ?

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