Um conjunto específico de neurónios dá a ratos a capacidade de ter noção do passar do tempo. A descoberta pode aplicar-se a humanos e mudar a forma como pensamos sobre ondas cerebrais.
O nosso cérebro é uma peça de maquinaria altamente sofisticada e que quase funciona como uma orquestra. A ação de diferente grupos de neurónios contribui para os nossos processos cognitivos. Como tal, é necessário uma espécie de maestro para coordenar tudo.
Alguns neurocientistas acreditam que as ondas gama — onde cerebrais rápidas que flutuam a uma frequência de aproximadamente 40 ciclos por segundo — desempenham este papel no nosso cérebro. Quase como um relógio, cientistas acreditam que estas ondas transmitem informações entre os vários grupos de neurónios.
Vários estudos já sugeriam a importância destas ondas nos processos cognitivos, associando-os à atenção e à memória de curto-prazo. Outros estudos até indicam que variações na sua frequência podem levar a problemas como esquizofrenia e Alzheimer. Mas ainda não há um consenso na comunidade científica, explica a Scientific American.
Alguns neurocientistas, como Chris Moore, acreditam que estas ondas são apenas um “tubo de escape de computação”, da mesma forma que um carro deita fumo ao trabalhar, mas não significa que este seja uma parte fundamento do seu funcionamento.
No entanto, um novo estudo publicado em julho na revista científica Neuron, identificou um novo grupo de neurónios em ratos que funcionam como a batuta de um maestro. Estas células mantêm um ritmo frequente de ondas gama, independentemente do ambiente externo.
Os cientistas responsáveis pelo estudo acreditam que esta peculiaridade possa estar envolvida com a capacidade destes animais manterem noção do passar do tempo.
Vikaas Sohal, neurocientista da Universidade da Califórnia, que não participou no estudo, diz que este artigo científico “muda a forma como pensamos sobre as ondas cerebrais”.
Jess Cardin, da Universidade de Yale, diz que a “ideia de que existem estas células que geram este ritmo temporal organizado por si mesmas já existe há algum tempo”. No entanto, esta é a primeira que alguém identifica um conjunto de neurónios gama que se gera sozinho e o vinculou ao comportamento de um animal.