O que causou o naufrágio do iate de luxo na Sicília? Vídeo mostra momento em que foi atingido

EPA / Perini Navi Press Office

O iate de luxo Bayesian em Palermo, Sicília, Itália.

O iate de luxo Bayesian em Palermo, Sicília, Itália, antes do naufrágio.

O naufrágio do iate Bayesian ao largo da Sicília continua a surpreender o mundo. Mas, afinal, o que é que aconteceu nas águas habitualmente tranquilas do mar Mediterrâneo?

O iate naufragou após uma violenta tempestade quando se encontrava ao largo de Porticello, a cerca de 15 quilómetros de Palermo, na ilha italiana da Sicília, segundo informou a guarda costeira daquele país.

Seguiam 22 pessoas a bordo – 11 passageiros e 10 elementos da tripulação.

Quinze pessoas foram resgatadas e já foi confirmada uma morte (será o cozinheiro do barco).

Mas ainda há seis desaparecidos – o empresário de tecnologia Mike Lynch e sua filha adolescente; o presidente do Morgan Stanley International, Jonathan Bloomer, e a esposa; o advogado Chris Morvillo que trabalhou em vários casos de corrupção e participou na investigação dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque, e a esposa.

Mergulhadores estão a fazer buscas no casco do navio afundado que se encontra a cerca de 49 metros de profundidade, enquanto barcos de patrulha e helicópteros procuram os desaparecidos na zona.

Entretanto, foi divulgado um vídeo que mostra o momento em que o iate de luxo foi atingido pela tempestade, acabando por afundar, com as luzes do mastro a desaparecerem na escuridão do mar.

O que causou o naufrágio do iate na Sicília?

O incidente deu-se por volta das 4 ou 5 da manhã, altura em que os passageiros e os tripulantes estariam a dormir nas suas cabines.

A tempestade violenta atingiu o iate com fortes rajadas de vento que o tombaram para o lado. Ainda terá chegado a levantar-se, mas acabou por se afundar e tudo se terá desenrolado em poucos minutos.

A embarcação estava ancorada ao largo do porto de Porticello, a cerca de 15 quilómetros de Palermo, quando se deu uma “tempestade tão violenta que causou trombas de água, ou colunas giratórias de ar e nevoeiro”, no mar, conforme apurou a BBC.

“Em poucos minutos, o navio virou”, contou à BBC um médico que tratou dos sobreviventes do naufrágio.

“O mastro invulgarmente alto”

“O mastro invulgarmente alto do navio pode ter contribuído para o seu naufrágio”, referiu o presidente do Conselho de Busca e Salvamento Marítimo britânico, Matthew Schanck, num programa da BBC.

Este mastro era quase como “uma vela” para o vento forte, “especialmente por ser tão alto” – feito em alumínio, tinha 75 metros de altura.

Assim, com as rajadas fortes de vento a atingirem o mastro, este pode ter derrubado o navio para o lado.

Iates como o Bayesian “não foram concebidos para navegar através de tornados ou trombas de água“, explicou ainda Schanck.

Muito calor

Outro especialista em navegação notou à BBC que as escotilhas e as portas deixadas abertas durante a noite, podem também ter contribuído para o naufrágio.

Como estava muito calor, os passageiros podem ter deixado tudo aberto para que o ar fluísse e fosse mais confortável dormir.

Isso pode ter permitido que o iate “se enchesse de água muito rapidamente e se afundasse”, relatou à BBC o editor Sam Jefferson da revista especializada em navegação Sailing Today.

O iate “encheu-se de água” antes de o mastro poder levar o iate à sua posição natural, acrescentou Jefferson, sublinhando, contudo, que “tudo isto é especulação”, embora pareça ser “a única explicação lógica”.

As altas temperaturas que se têm feito sentir na região do Mediterrâneo podem ter contribuído para a formação das “trombas de água” que afectaram o iate – e podem ser cada vez mais comuns.

Estas “trombas de água” são semelhantes a tornados, mas no mar. “Em vez de poeira e detritos que giram em torno do núcleo dos ventos fortes, é uma névoa de água levantada da superfície”, explica a BBC.

Erro humano?

Há ainda outra hipótese em cima da mesa quanto às causas do incidente e que passa por um eventual erro humano.

O Giornale di Sicília nota que, numa “primeira inspeção exterior”, se verificou que “o casco não apresenta fugas” e que o mastro “está intacto”.

Mas “o que chamou a atenção dos mergulhadores foi o grande painel central móvel da embarcação, parcialmente elevado porque o veleiro estava no porto”, acrescenta o diário italiano. Esse “levantamento da placa central poderá ter favorecido de alguma forma o afundamento repentino do iate”, aponta ainda.

O Ministério Público já abriu um inquérito ao naufrágio que apurará as circunstâncias em que ocorreu o acidente.

“Parecia o fim do mundo”

Outra testemunha do naufrágio que estava em casa quando a tempestade chegou, e que foi ao porto para ver o iate, referiu ao Giornale di Sicília que ainda o viu “a flutuar”, mas que “de repente, desapareceu”.

O afundamento terá ocorrido em cerca de dois minutos, segundo o mesmo jornal.

“Parecia o fim do mundo”, relatou ao jornal italiano La Repubblica uma das sobreviventes, a turista britânica Charlotte Golunski, que conseguiu salvar a filha de um ano.

Durante dois segundos, perdi a minha filha no mar, depois abracei-a rapidamente no meio da fúria das ondas”, relatou ainda Charlotte, sublinhando que conseguiu segurá-la “à tona com todas as forças” e com os “braços esticados para cima para evitar que se afogasse”.

Charlotte diz ainda que gritou por socorro, mas que só conseguia ouvir, à sua volta, “os gritos dos outros”.

As buscas e as investigações quanto às causas do naufrágio vão continuar nos próximos dias. Os mergulhadores de resgate acreditam que os corpos dos desaparecidos devem estar presos dentro do iate.

ZAP // Lusa

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