Um bebé com o ADN de três pessoas diferentes nasceu na Grécia, após um tratamento de fertilidade controverso. O menino nasceu na terça-feira, pesa 2,9 quilogramas e é saudável.
Os médicos por trás do tratamento, da Grécia e da Espanha, dizem que isso marca um avanço histórico – é a primeira vez que uma técnica de fertilização in vitro que envolvia ADN de três pessoas tem sido usada com o objetivo de abordar problemas de fertilidade.
Mas especialistas britânicos criticaram a decisão de prosseguir com o tratamento que, segundo eles, não era apoiado por evidências científicas e envolvia riscos injustificáveis.
A chamada transferência de fuso materno (MST) foi aplicada a uma mulher grega, de 32 anos, num ensaio clínico piloto. A técnica consiste em extrair do núcleo de um ovócito de uma dadora com mitocôndrias saudáveis, substituindo-o pelo núcleo de um ovócito da mãe do bebé. Depois, fertiliza-se o ovócito com o espermatozóide do pai e implanta-se no útero da mulher com infertilidade, neste caso da mulher grega.
As mitocôndrias são peças que existem dentro de todas as células do corpo humano e que funcionam como pilhas, porque são elas as responsáveis por armazenar a energia. Ora, dentro das células há dois tipos de informação genética: a maior parte dela, 99%, está guardada no núcleo das células; e o restante está dentro dessas mitocôndrias. Acontece que toda a informação genética que temos dentro das mitocôndrias é-nos passada exclusivamente pela mãe.
Tal como o ADN presente no núcleo das células, também a informação genética das mitocôndrias pode trazer mutações que levem ao desenvolvimento de doenças. Era esse o caso desta criança grega: a mãe era portadora de uma mutação na informação genética das mitocôndrias que, se fosse transferida para os filhos, podia comprometer a saúde das crianças. Foi para evitar esse cenário que os pais decidiram entrar no teste da Embryotools, uma empresa espanhola, e dos médicos gregos.
A mulher que deu à luz esta semana na Grécia já tinha passado sem sucesso por quatro ciclos de fertilização in vitro. Ela agora é mãe, mas uma pequena parte da composição genética do filho é da doadora, uma vez que as mitocôndrias possuem ADN próprio.
O bebé veio ao mundo na terça-feira com 2,9 quilogramas. A mãe, grega, tem 32 anos. São os protagonistas do terceiro teste bem sucedido com este procedimento — o primeiro aconteceu em 2016 no México e o segundo em 2017 na Ucrânia.
O centro espanhol Embryotools, que trabalhou em parceria com a equipa grega, anunciou, de acordo com a BBC, que outras 24 mulheres estão a participar na experiência e que oito embriões estão prontos a ser implantados.
Esta nova técnica, que permite que pais com mutações genéticas tenham bebés saudáveis, foi aprovada no Reino Unido em 2015, mas ainda não é legal em vários países. Nos EUA, o procedimento ainda é proibido porque experiências semelhantes feitas em 1990 geraram bebés com doenças genéticas.
Há uma enorme confusão (demasiado habitual) entre “pilha” e “bateria”: ‘bateria’, por definição é que pode armazenar energia elétrica, ou seja, pode ser recarregada; uma ‘pilha’ só fornece energia elétrica até se esgotar e não é recarregável!
No caso concreto deste artigo, penso que seria mais adequado dizer que as mitocôndrias “funcionam como baterias”, pois realmente armazenam energia.
Penso que a causa principal do uso errado destes termos deriva de, em inglês, a expressão “battery” servir para designar quer “bateria” (elétrica) como “pilha” (elétrica). Convinha que na tradução de artigos do inglês para português se tivesse em conta os significados distintos que esta palavra inglesa tem na nossa língua (e em outras).
Caro António,
Sem prejuízo da estrita razão que o rigor técnico possa emprestar ao seu reparo, que muito agradecemos, o uso da expressão “pilha recarregável” não deriva de uma “tradução de artigos do inglês”. O termo é usado há muitos anos pelos principais fabricantes de pilhas a operar no mercado português.
Exemplo:
Pilhas Recarregáveis e Carregadores Duracell
https://www.duracell.pt/products/pilhas-recarregaveis-e-carregadores/
António e ZAP, como biólogo posso dizer-vos que nem uma nem outra das opções fazem sentido, neste caso concreto.
Cada mitocôndria é uma espécie de central de produção de energia – lá decorrem reações químicas que visam aproveitar a energia dos nutrientes orgânicos (essencialmente da glicose), permitindo produzir moléculas de ATP. Podemos dizer que permitem “carregar” as “pilhas” ou “baterias” que são as moléculas de ADP (forma “descarregada”/ ATP (forma carregada). A designação mais habitual para o ATP é a de “moeda energética” da célula, pois intervém nas trocas de energia na célula.
Nas mitocôndrias decorrem passos importantes da respiração celular, que é o nome desse processo de transferência de energia dos nutrientes para poder ser utilizada pela célula (sob a forma de ATP).
No caso das pessoas com mutações no DNA mitocondrial, as mitocôndrias podem ser muito ineficientes, originando uma doença altamente incapacitante. Transmite-se da mãe para todos os filhos, de ambos os sexos. Esta solução imaginativa permite resolver a solução naquele filho ou filha, mas também em toda a descendência (uma filha doente transmitiria à descendência).
O comentário já vai longo, mas espero ter ajudado.
Caro João,
Obrigado pelo seu contributo, com o qual muito nos enriquece.