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Nariz grande e olhos azuis, todos os dentes, só uma cárie. Revelado o rosto de D. Dinis

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Arlindo Homem / Património Cultural

Rosto do rei D. Dinis

O rosto do rei D. Dinis quando tinha 64 anos, idade com que morreu.

Sete séculos depois da sua morte, foi revelado o rosto do rei D. Dinis, após um longo trabalho de reconstituição facial em 3D.

O rosto do rei é de quando tinha 64 anos, a idade com que terá morrido em 1325, e revela um homem idoso, de cabelos compridos claros e olhos azuis entristecidos, usando uma coroa e uma capa vermelha.

“Trata-se da primeira imagem cientificamente fundamentada de um monarca português da primeira dinastia, que o retrata no final de vida”, refere o comunicado da Património Cultural sobre o trabalho de investigação realizado no Mosteiro de Odivelas.

O Projecto de Conservação e Restauro do Túmulo de D. Dinis começou em 2016, numa iniciativa da extinta Direcção-Geral do Património Cultural em parceria com a Câmara Municipal de Odivelas.

A abertura do túmulo do rei em 2023, foi um passo decisivo para permitir a análise do ADN de D. Dinis.

“Tinha todos os dentes e só uma cárie”

A reconstituição em 3D foi feita na Liverpool John Moores University FaceLab, sob coordenação científica da antropóloga Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra.

“O que aqui temos foi feito com dados científicos sólidos, a partir de um esqueleto muito bem conservado, com todos os ossos faciais preservados”, explica ao Público a antropóloga.

Eugénia Cunha diz ainda que o rei teria “um nariz alongado” e “um queixo ligeiramente recuado”, com “olhos azuis” que “podiam também ter um pouco de verde misturado”.

“Teria entre 1,65 e 1,68 metros”, revela também a cientista, notando que tinha uma “afinidade populacional 71% europeia“.

“Tinha todos os dentes à idade da sua morte e só uma cárie“, aponta também Eugénia Cunha, considerando que era “um adulto com uma grande sobrevivência” e “um resistente”.

“Apesar de haver indivíduos que chegavam a idades avançadas, ter 63 anos há 700 anos seria como ter hoje 90 anos ou mais“, explica a cientista, notando que terá sido beneficiado por pertencer a “uma elite” e por “uma boa alimentação”.

“Segundo os registos históricos, o rei teria estado acamado antes de morrer, o que pode ter levado a que ficasse mais magro na cara“, constata.

“Primeiro retrato comprovado de um rei português”

Eugénia Cunha diz ainda ao Público que este é “o primeiro retrato cientificamente comprovado de um rei português”.

“Esta cara pode comprovar-se cientificamente que era assim. Não foi um artista que imaginou como seria D. Dinis. Foi o crânio dele e a genética que disseram como ele era de facto”, salienta a antropóloga.

A cientista explica ainda que a análise ao ADN foi feita através da raiz de um dente. “Depois pusemos a coroa no sítio. Do dente só destruímos a raiz”, destaca, sublinhando que não andaram “a destruir um fémur nem a arrancar dentes”.

D. Dinis foi responsável por um dos reinados mais longos de Portugal entre 1279 e 1325.

Conhecido como o Lavrador e como o Rei-Poeta ou Rei-Trovador, foi definido por Fernando Pessoa como “o plantador de naus a haver”, sendo associado ao pinhal de Leiria.

O rosto do rei D. Dinis vai ser dado a conhecer ao país numa exposição itinerante que vai começar em Abril.

ZAP //

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