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“Não se esqueçam de nós”, diz arcebispo sobre massacres na Nigéria

Aid to the Church in Need

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Em meio à comoção gerada pelos atentados terroristas em Paris, um arcebispo nigeriano acusou países ocidentais de ignorarem a ameaça representada pelo grupo extremista Boko Haram.

O Arcebispo da cidade de Jos, Ignatius Kaigama, pediu que a mesma atenção dada aos atentados em França seja dada aos militantes que atuam com cada vez mais violência no nordeste do país africano.

Segundo Kaigama, o mundo precisa agir de forma mais determinada para conter o avanço do Boko Haram na Nigéria.

Neste fim de semana, 23 pessoas foram mortas por três mulheres-bomba, uma das quais tinha apenas 10 anos de idade.

Outras centenas de mortes foram registadas na semana passada, durante a captura pelo Boko Haram da cidade de Baga, no Estado de Borno, no nordeste do país. Os números divergem, mas alguns relatos afirmam ter havido dois mil mortos  na tomada da cidade.

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Ignatius Kaigama, arcebispo de Jos, na Nigéria

Ignatius Kaigama, arcebispo de Jos, na Nigéria

Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, o arcebispo nigeriano disse que o massacre em Baga é a prova de que o Exército do país não consegue conter o grupo extremista.

“É uma tragédia monumental que deixou todos na Nigéria muito tristes. Mas parece que estamos desamparados. Se fossemos capazes de deter o Boko Haram, já o teríamos feito. Eles continuam a atacar, matar e a tomar territórios impunemente”, disse Kaigama.

Segundo o arcebispo de Jos, a luta contra o extremismo no país requer o mesmo apoio internacional e espírito de unidade que foi demonstrado após os ataques de militantes islâmicos em França.

“Precisamos que este espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou nos Camarões.”

Mulheres-bomba

No domingo passado, duas mulheres-bomba mataram quatro pessoas e deixaram mais de 40 feridas na cidade de Potiskum.

Um dia antes, uma menina realizou outro ataque suicida em Maiduguri, a principal cidade do nordeste do país, matando pelo menos 19 pessoas.

No último mês, mais de 30 pessoas foram mortas em ataques suicidas simultâneos na cidade de Jos, que tem cristãos e islâmicos na sua população.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, condenou os ataques do Boko Haram, que classificou como “atos depravados”.

Em junho, o Reino Unido disse que intensificaria a sua ajuda ao país nas áreas militar e de educação para conter o Boko Haram, uma ajuda que também inclui treino das tropas do país, assim como têm vindo a fazer os EUA.

No entanto, a Nigéria criticou o governo americano por se recusar em vender armas ao país, alegando que as tropas nigerianas estavam a cometer abusos de Direitos Humanos.

Uma iniciativa liderada pelo governo francês pediu que Nigéria, Níger, Camarões e Chade contribuíssem com 700 soldados cada para uma força internacional contra o Boko Haram, mas nenhum país implementou o plano.

Violência chocante

O Exército nigeriano informou que está a tentar retomar a cidade de Baga, que está sob o controle do Boko Haram, mas não forneceu detalhes sobre a operação.

No último sábado, o Exército terá conseguido impedir que o Boko Haram assumisse o controle de Damaturu, outra grande cidade do nordeste nigeriano.

Will Ross, correspondente da BBC em Lagos, a principal cidade da Nigéria, descreve que a violência no país não tem fim e é cada vez mais chocante, recordando o uso de uma criança como bomba num dos ataques do último fim de semana.

“As Forças Armadas nigerianas tiveram algumas vitórias, mas têm uma tarefa muito difícil, de proteger civis de homens-bomba e atiradores que estão espalhados por uma grande área no nordeste do país. Por isso, com frequência, são dominadas pelos militantes e falham na sua missão. As autoridades do país não gostam de ouvir isso, mas é verdade”, afirma Ross.

“O mundo está lentamente a começar a manifestar indignação com a violência recente, mas, além disso e de uma ajuda limitada, não parece haver vontade de se envolver mais profundamente no conflito.”

O Boko Haram, que luta desde 2009 para instaurar um estado islâmico no norte da Nigéria, maioritariamente muçulmano, ao contrário do sul, de maioria cristã, causou cerca de 13 mil mortos e 1,5 milhões de deslocados nos últimos cinco anos.

ZAP / BBC

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