Não comer para pagar contas ou não pagar contas para comer? O dilema que se agrava em Portugal

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Os pobres em Portugal estão mais pobres. Há quem passe fome para pagar as contas (e quem faça o contrário também). Portugal tem 2,1 milhões de pobres.

Segundo uma análise da Pordata, divulgada esta quinta-feira, houve uma subida da taxa de risco de pobreza pela primeira vez em sete anos, ao passar de 16,4% em 2021 para 17% em 2022.

Foi no grupo de crianças e jovens que a taxa de risco de pobreza mais se agravou, bem como nas famílias com crianças dependentes, refere a Pordata, sublinhando “o maior aumento da taxa de intensidade de pobreza da última década”.

A taxa de intensidade de pobreza mede a distância do rendimento mediano da população em risco de pobreza, face ao valor do limiar da pobreza, ou seja, a profundidade da pobreza.

“Em Portugal, metade dos pobres tinham, em 2022, um rendimento monetário disponível 25,6% abaixo da linha de pobreza e esta profundidade aumentou face a 2021”, lê-se no documento divulgado, no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

No entanto, o Público, numa reportagem publicada esta quinta-feira, denuncia uma das fragilidades do cálculo do limiar da pobreza: Deixa de fora pessoas que passam fome.

Como explica o matutino, o Instituto Nacional de Estatística (INE) mede o limiar da pobreza calculando 60% da mediana do rendimento por adulto equivalente do país – 591 euros. Quem ficar abaixo é pobre.

Amélia Oliveira Paula, de 80 anos, por exemplo, não faz parte do “grupo” que vive abaixo do limiar da pobreza, uma vez que recebe uma pensão de 592 euros. No entanto, confessa: “Passo fome para pagar as contas”.

Inverso é o caso de Ana Maria Teixeira Dias, 10 anos mais nova, que confessou que, no passado, , até à recente chegada do complemento solidário para idosos (CSI) já teve de deixar contas por pagar.

“Eu já fui ao médico e já não paguei a medicação. Antes, às vezes, não comprava tudo. Às vezes, deixava as contas para pagar”, contou ao Público.

Portugal tem 2,1 milhões de pobres

A incidência da pobreza no grupo dos desempregados, que tinha diminuído entre 2020 e 2021, voltou a subir: 3,3 pontos percentuais, face a 2021. De acordo com a Pordata, trata-se de “uma das subidas mais elevadas da última década”, com exceção do ano de pandemia.

Quase 40% da população vive em agregados sem capacidade para substituir mobiliário ou pagar uma semana de férias.

Da mesma forma, 30,5% da população não tem capacidade para fazer face a uma despesa inesperada, sem recorrer a empréstimo.

O conforto térmico das habitações continua a ser um ponto crítico, uma vez que no contexto europeu, Portugal se destaca pela negativa, reportando, a par de Espanha, “a mais elevada proporção” de pessoas a viver em agregados sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida: 20,8%, ou seja, uma em cada cinco pessoas. No extremo oposto do ranking europeu está o Luxemburgo, onde apenas 2,1% dos habitantes reportam esta dificuldade económica.

Quase um terço das famílias monoparentais com crianças dependentes vive com menos de 591 euros por mês.

Numa análise à evolução da pobreza e fatores associados, a Pordata sublinhou também que em 2023, Portugal viu mais do que duplicar o preço de compra das casas, comparativamente a 2015, muito acima do valor registado a nível da União Europeia, de 48%.

“Confrontando este aumento com a variação da remuneração média dos trabalhadores por conta de outrem, verificamos que, face a 2015, os salários em Portugal aumentaram 35%, muito aquém do aumento de 105% das casas”, constataram os estatísticos.

A avaliação da Pordata teve por base os dados mais recentes disponibilizados pelo INE.

ZAP // Lusa

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5 Comments

  1. Conversa da treta!
    é transito por todo o lado por isso ha dinheiro para ter carro e muito dinheiro para o sustentar ao preço que está o combustivel.
    ninguem abdica de mordomias! Carros novos é uma loucura na estrada e tudo bons carros! Férias no estrangeiro! Gozar a vida é o lema mas depois vêm as dificuldades e é pedir ajuda a tudo e todos! Comecem a deixar de viver para as aparencias e a dar valor ao que importa que é a barriga e a familia. Em 2011/2012 caiu tudo e mesmo assim não aprenderam? Ainda voltamos a ver pessoal de mercedes novo a ir fazer o avio de mercaearia ao banco alimentar ou á igreja.
    Pareço o velho do restelo mas chateia ver tudo á grande e a gozar á grande sem pensar no futuro e outros a amealhar e a abdicar para amealhar, depois a economia cai e ninguem ajuda o que amealhou ( até os bancos o roubam) mas para os incautos abrem linhas de apoio e solidariedade e até insolvencias pessoais.

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    • Além disso, basta ver a quantidade de gente que acha um bom negócio comprar um VW ou um Fiat Punto de 1990 com 300 mil kms… pela módica quantia de 9000€. Este tipo de carros vndem.se tipicamente entre 200€ a 800€ noutros países em que se ganha bem mais que Portugal.

      Se há tanta gente a pagar carros sucata ao preço de ouro, não me parece que a crise no país seja por aí além.

    • Está aqui o resultado de um estudo da Pordata, mas tu sabes melhor ao olhar pela janela do teu carro. Lol vai estudar para deixar de dizer asneira. É por causa de incultos destes que este país no a da para frente.

  2. Acho que a base do problema continua a ser um povo brando, que come e cala, cuja Liberdade foi conquistada não pelo povo mas por um exército descontente. É um problema cultural que não sei se alguma vez será ultrapassado. Não pode faltar futebol nem concertos de verão, de resto, sempre se arranja alguma coisa, quanto às reformas miseráveis, será que são os idosos, alguns doentes, que vão lutar por direitos fundamentais?
    Custa-me a crer que seja possível um governo conhecer a miséria em que vive um povo e continue de cabeça erguida e sorridente a assobiar para o lado.

  3. O tretas poderá ter sido um pouco exagerado em alguns dos seus pontos de vista, mas observada a questão no seu conjunto ele não deixa de ter razão. A gente nova desconhece o que era poupar, fazer sacrifício em tempos que já lá vão para andar de cara levantada. Naqueles tempos havia quem, com rendimento equivalente aos 591 euros de hoje, juntasse o seu pé de meia.
    Não estou a querer dizer que aquele tempo é que era bom,, porque NÃO ERA. Mas o de hoje, que é sobretudo enganador, habituou o povo muito mal , impedindo-o de definir prioridades e de saber até onde pode ir em cada momento. Naqueles tempos havia quem, mesmo analfabeto, soubesse fazer cálculos e valorizar o que efectivamentre valia alguma coisa. Hoje, apesar de toda a gente escolarizada e com tantas facilidades a vários níveis, vai-se na onda de tudo e mais alguma coisa sem se saber bem porquê. E, no entanto, parece que ninguém é feliz.

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