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Na Madeira, BE, PNR, PDR e Chega exigem o fim da maioria absoluta do PSD

Tiago Petinga / Lusa

O Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque

Com as eleições legislativas da Madeira à distância de menos de um mês, o Bloco de Esquerda, PDR, Chega e PNR pedem mais diversidade de forças políticas na mesa da assembleia regional e criticam o poder absoluto do PSD, que está no Governo há quatro décadas.

O partido Chega vai mais longe: diz que quer ser governo na Região Autónoma da Madeira e o cabeça de lista às legislativas de 22 de setembro, Miguel Teixeira, acredita que vai sê-lo “custe o que custar”. “É possível uma maioria absoluta porque quem vai votar em nós são pessoas de fé, de boa índole, com princípios”, afirmou, indicando, por outro lado, que apenas “os ladrões, os bandidos, os corruptos, os subsídios dependentes” não vão escolher o Chega.

Quero desmitificar o bicho que se criou que a direita é muito má. A direita não é má”, disse em entrevista à agência Lusa, lamentando que o país e a Europa estejam a atravessar um período “demasiado socialista”, situação que se repercute na Madeira, pois considera que o PSD, no Governo há quatro décadas, é um partido de “princípios socialistas”.

O seu principal objetivo é “emagrecer o poder político” e “abolir cargos inúteis” na administração pública, onde o Chega já identificou 63 ao nível da região autónoma, nomeadamente cerca de metade dos 47 lugares de deputado no parlamento.

“Eu gostava imenso de ter maioria já nestas eleições, porque na primeira assembleia que houver no dia seguinte vamos já reduzir para 22 deputados”, declarou o empresário na área da floricultura, vincando que “o povo madeirense anda doente da cabeça, anda doente fisicamente porque já não aguenta mais”.

O candidato de 60 anos não se pronuncia, contudo, sobre eventuais coligações com outras forças para viabilizar um governo, remetendo a posição do partido para depois das eleições.

Miguel Teixeira, que é também presidente do Chega no arquipélago, afirmou que pretende estabelecer um partido “forte e diferente”, para dar “voz aos que não a têm”, mas admite que não é a pessoa “mais capacitada” para o liderar.

“Nós temos pessoas mais capacitadas. Só que na região infelizmente é assim: as pessoas têm receio, tem imenso medo de dar a cara”, disse, revelando que a estrutura conta com o apoio, por exemplo, de médicos, enfermeiros e guardas prisionais, que “não podem dar a cara porque têm medo de represálias”.

O candidato, porém, considera que não tem “nada a perder” e por isso avançou para a liderança e agora também como primeiro candidato à presidência do Governo Regional.

Vamos dar voz àqueles que normalmente não a têm, nomeadamente as forças de segurança, que são desprezadas por toda a gente”, referiu, indicando que vão também combater o desemprego e proteger os pequenos empresários que são “espremidos com uma carga fiscal brutal”.

Para o sucesso destas propostas, o Chega considera fundamental “emagrecer” o Estado, pondo-o a “distribuir o dinheiro tanto quanto possível” e, acima de tudo, “acabar com o compadrio e com toda a corrupção”. “Nós vamos ser rígidos”, disse.

E reforçou: “Quem no partido tocar com um dedo em dinheiros públicos fica sem a mão, quem estiver com interesses pessoais, se entrou a 100 à hora, vai sair a 1.000 à hora. Este partido é diferente.”

BE espera obter “mais força”

Já o cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) às eleições legislativas da Madeira, Paulino Ascensão, não está à espera que as perspetivas de crescimento do partido a nível nacional se reflitam na região, mas acredita que vai obter “mais força”.

A expectativa é que consigamos ter mais força para poder impor condições, impor linhas programáticas a uma nova maioria que rompa com este passado [de governo social-democrata]. Isso é fundamental”, afirmou em entrevista à agência Lusa.

Paulino Ascensão sublinhou que dificilmente haverá “mudanças substanciais” na Região Autónoma da Madeira se, das eleições de 22 de setembro, resultar uma “maioria de um só partido”, pelo que, a meta do Bloco de Esquerda é “ter mais força para fazer as coisas”, ou seja, “ter mais deputados e mais votos”. “Estamos apostados em ser parte de uma nova maioria e, obviamente, vamos procurar construir essa maioria com todos aqueles que estejam também dispostos a conversar connosco“, disse.

Nas eleições regionais de 2015, o BE elegeu dois deputados à Assembleia Legislativa da Madeira, num total de 47, sendo que o PSD, partido que governa o arquipélago com maioria absoluta desde 1976, elegeu 24 deputados, o número mais reduzido de sempre.

“Os resultados eleitorais é que vão determinar qual é o papel e o peso de cada um nessa nova maioria, que esperemos seja possível construir”, afirmou Paulino Ascensão, considerando, no entanto, que a perspetiva de crescimento do BE a nível nacional poderá não ter reflexos na região.

As realidades são diferentes e as votações no passado demonstram isso. Já tivemos regionais e nacionais no mesmo ano, com poucos meses de diferença e com resultados bastante díspares”, recordou, vincando que, por isso, o partido está a trabalhar apenas com “propostas orientadas para a realidade regional”.

Emprego, ambiente, combate à pobreza, saúde e educação são os setores onde o BE coloca o foco, realçando a necessidade de criar serviços públicos “acessíveis para todos”. “Entendemos que os recursos que existem [na Madeira] são apropriados por uma elite, um punhado de famílias, e a riqueza que é gerada não chega a toda a gente”, disse, defendendo a urgência de “desmantelar esta teia de interesses” para que haja “oportunidades para toda a gente”.

“Se as coisas correrem mal na Madeira, os senhores podem facilmente continuar os seus negócios fora daqui, mas a esmagadora maioria da população não tem como subsistir”, alertou.

O candidato bloquista destacou, por outro lado, a necessidade de apostar na reflorestação da ilha da Madeira, considerando que o aspeto ambiental da questão, bem como o facto de a floresta, nomeadamente a laurissilva, que é património mundial da UNESCO, ser o “maior ativo turístico” do arquipélago.

Paulino Ascensão é o atual coordenador do Bloco de Esquerda na Madeira e ex-deputado à Assembleia da República, sendo militante do partido desde 2014. Tem 47 anos, é licenciado em Economia e técnico superior na Câmara do Funchal.

PDR diz que está na “altura certa para mudar”

Por seu turno, o PDR tem como objetivo a a eleição de um deputado, mostrando-se também disponível para coligações com qualquer partido exceto o PSD, explicou o cabeça de lista, Filipe Rebelo.

Está na altura certa para mudar, para haver uma mudança positiva. Agora mais vale somar do que subtrair. Aqui é que está o grande ganho”, disse em entrevista à agência Lusa, realçando, como exemplo, que o país registou “mais capacidade económica” com o governo da geringonça (PS, com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e PEV).

O candidato criticou o “currículo de quarenta anos de governação” do PSD no arquipélago da Madeira, considerando que conduziu à “perda da autonomia”. “A Madeira neste momento perdeu a autonomia e a gente tem de ganhá-la. Perdemos a continuidade territorial, perdemos imensa coisa. Temos de ir recuperar tudo o que é nosso, aquilo que conquistámos nos últimos quarenta anos”, salientou.

Filipe Rebelo sublinhou que o objetivo do PDR, partido que integra a coligação Confiança, que governa a Câmara Municipal do Funchal, juntamente com o PS, BE e Nós, Cidadãos!, é agora ter assento na Assembleia Legislativa da Madeira. Nesse caso, o partido está disponível para estabelecer coligações e acordos com qualquer força partidária menos com o PSD.

Basta de ser sempre os mesmos. Temos de mudar. Uma mudança positiva, com ou sem geringonça. Estamos aqui para mudar, mudar para as pessoas”, disse o candidato do Partido Democrático Republicano.

Filipe Rebelo apontou como prioridades a educação, em particular a educação especial, os transportes para pessoas com mobilidade reduzida, a saúde, a necessidade de reabilitar infraestruturas e criar mais lares de terceira idade. O cabeça de lista pretende também estimular a criação de emprego e incentivar o setor do turismo, pois considera que este entrou em fase de queda.

“Estamos a perder a olhos vistos turismo e a gente anda a tapar o sol com a peneira”, disse, realçando a necessidade de acabar com o “monopólio” ao nível dos transportes aéreos e apostar na liberalização das companhias aéreas.

Filipe Rebelo tem 38 anos, é licenciado em Educação Física e Desporto e atualmente desempenha funções de gestor na empresa municipal SocioHabita Funchal.

PNR defende redução de deputados de 47 para 30

A redução do número de deputados no parlamento da Madeira, de 47 para 30, e alcançar cerca de 2.000 votos são objetivos defendidos pelo cabeça de lista do Partido Nacional Renovador nas eleições regionais.

Um bom resultado seria 2.000 votos, porque para nós deixa de fazer sentido concorrer quando as propostas do PNR forem cumpridas”, disse o enfermeiro Álvaro Araújo, que encabeça pela segunda vez as listas do partido neste tipo de ato eleitoral na Madeira.

Em entrevista à agência Lusa, o candidato salientou que o partido defende a redução do número de deputados na Assembleia Legislativa da Madeira de 47 para 30, considerando que “o ideal seria ter 20 a 25” elementos, além da diminuição dos montantes atribuídos aos partidos.

No entender do PNR, estas medidas poderiam contribuir para fazer “uma poupança” para implementar políticas de apoio à natalidade, tema que elege como uma das bandeiras do partido.

Álvaro Araújo também destaca, como proposta “inovadora” do PNR, colocar os deputados eleitos a fazer “um estágio, uma vez por semana, nas instituições públicas, para que estejam mais cientes do que é a realidade dos outros setores e, para quando aprovarem leis, saberem o que estão a aprovar, não se limitando à teoria, mas também à prática”.

Falando sobre os objetivos do PNR, sublinha que “essencialmente é apresentar propostas viáveis, concretas e realizáveis para todos”, argumentando que a principal preocupação do partido não é “eleger deputados, porque isso é uma tarefa que cabe aos cidadãos”.

“A eleição é sempre um ponto que depende dos outros e quando é assim não podemos dizer que perdemos ou ganhámos porque estamos sempre a depender dos outros”, aponta, acrescentando que o mais importante é “divulgar as propostas e ideias” do partido para o futuro.

O responsável do PNR aponta que “existem algumas propostas do partido que já estão a começar a ser implementadas”, adiantando que em relação às outras o PNR vai “batalhar nesse sentido, nem que seja para os outros partidos aproveitarem e fazê-las chegar à generalidade da população”.

Sobre a eventual alteração do cenário político na Madeira, Álvaro Araújo considera “que é bom não haver maiorias, porque uma maioria absoluta é quase passar um cheque em branco a quem vai governar”.

No seu entender, essa conjuntura “não é boa para a população porque dá azo ao monopólio, ao interesse de alguma elite que está ligada ao partido que está a governar”. O fim das maiorias absolutas na região também serviria, na sua opinião, para “eliminar a corrupção” e os “oportunismos”.

Questionado sobre a posição do PNR para viabilizar uma solução de governo caso o PSD perca a maioria absoluta, o candidato refere que “se for para desempatar, o partido não se vê nem à esquerda, nem à direita.

“Defendemos uma política de sustentabilidade futura e, portanto, a fazer coligação após as eleições seria no sentido de tornar realidade muitas das propostas apresentadas pelo partido, porque estamos conscientes que iriam ser fundamentais para o futuro da região e de todos”, sublinhou.

O PNR também vai continuar a defender a “sustentabilidade energética com reforço ao nível da energia renovável”. “Para não estarmos sempre dependentes do petróleo e do preço do petróleo, para sermos autossuficientes”, justificou.

Nas eleições legislativas regionais de 2015, o PNR obteve 1.052 votos (0,82%), não conseguindo eleger qualquer deputado.

// Lusa

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