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“Mulheres tratadas como gado” e “homens acéfalos”. Novos programas da SIC e TVI motivam queixas

As estreias dos novos reality shows da SIC e da TVI, “Quem quer namorar com o agricultor?” e “Quem quer casar com o meu filho?”, geraram um turbilhão de críticas, apelos de boicote e queixas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com as mulheres do PS a pedirem a intervenção da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

SIC e TVI estrearam neste domingo os seus novos programas que, não por acaso, coincidem na temática “casamenteira” numa altura em que a guerra de audiências entre os dois canais está ao rubro.

“Quem Quer Namorar com o Agricultor?” (SIC) e “Quem Quer Casar com o Meu Filho?” (TVI) giram em torno da ideia de mulheres que se candidatam a conquistar os concorrentes seleccionados.

À Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) já chegaram várias queixas e o Departamento Nacional de Mulheres Socialistas do PS reclama uma intervenção da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, conforme nota a presidente da estrutura, Elza Pais, em declarações à TSF.

Os dois reality shows merecem o “mais veemente repúdio das mulheres socialistas” por passarem a ideia de “mulheres submissas” e de “homens que as escolhem”, como nota Elza Pais, lamentando que estão a contribuir para transmitir “imagens estereotipadas de género que contrariam o princípio da igualdade constitucionalmente garantido”.

A associação feminista Capazes já veio apelar ao boicote aos dois programas, lamentando que, “dois dias depois de assinalarmos com estrondo o Dia Internacional das Mulheres e a importância da luta pela Igualdade, a TVI e SIC apresentam dois formatos absolutamente degradantes para as mulheres“.

“Programas em que as mulheres são postas a competir pelo macho Alfa e pelo seu dote, sujeitando-se às maiores humilhações e fazendo-nos, a todas e todos, recuar ao Século passado”, acrescenta a Capazes.

“As mulheres são tratadas como gado que fala“, na análise do professor universitário e crítico televisivo Eduardo Cintra Torres que, em declarações ao Público, refere que “a imagem que passa é a das mulheres expostas para o agricultor escolher [na SIC] e a da mulher que sabe cozinhar [do concurso da TVI]”.

Por outro lado, a Capazes realça que os reality shows “também são graves para os homens, pois retratam-nos como acéfalos, incapazes de cumprir tarefas domésticas, dependentes, submissos às mães, amorfos, apenas interessados em escolher uma pessoa com base no tamanho do rabo e nos dotes para a cozinha”, conforme nota enviada ao Público.

Para a investigadora Felisbela Lopes da Universidade do Minho, os dois programas exemplificam o “modelo de televisão-espelho” que temos que “reflecte o que está na sociedade”. “Somos uma sociedade dominada pelos homens em que há papéis estereotipados atribuídos às mulheres”, constata no Público, frisando que os dois canais “estão a exacerbar traços que a sociedade deve combater”.

Pelas redes sociais e por diversos blogues há também muitas críticas, bem como muita sátira à mistura, com humoristas como Bruno Nogueira a não conseguirem evitar abordar o assunto.

Quanto à guerra das audiências, a versão com agricultores levou a melhor, com a SIC a conseguir o programa mais visto do dia, com uma média de 1.434.600 espectadores. O programa da TVI teve uma assistência de 1.113.660 espectadores.

SV, ZAP //

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