O Governo do Japão denunciou, na terça-feira, uma estátua na Coreia do Sul que parece representar o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, a fazer uma vénia a uma “mulher de conforto”, um eufemismo para mulheres forçadas a trabalhar nos bordéis do Japão durante a guerra.
O secretário-chefe do gabinete do Japão, Yoshihide Suga, disse que, se os relatos da estátua em exibição fossem verdadeiros, seria uma violação “imperdoável” do protocolo internacional. “Se os relatórios forem precisos, haverá um impacto decisivo nas relações Japão-Coreia”, disse Suga em conferência de imprensa em Tóquio.
Por outro lado, o chefe de um jardim botânico de gerência privada que encomendou o trabalho disse que a figura ajoelhada deveria representar qualquer pessoa que possa estar em posição de se desculpar formalmente pelo erro histórico – e não Shinzo Abe em particular.
Em declarações à agência Reuters, Kim Chang-ryul disse que não previu que a estátua inflamaria uma questão diplomática já complicada.
O site do jardim, no condado rural de Pyeongchang, nomeia a estátua “Indemnização Eterna”. As “mulheres de conforto” são um eufemismo utilizado para designar mulheres forçadas à prostituição e escravidão sexual nos bordéis militares japoneses durante a II Guerra Mundial. Calcula-se que entre 50 e 200 mil mulheres tenham sido conscritas, mas ainda existem discordâncias sobre os números exatos.
A maioria delas provinham da Coreia e China, mas mulheres das Filipinas, Tailândia, Vietname, Malásia, Taiwan, Indonésia e outros territórios ocupados pelo Império do Japão também foram usadas nos “postos de conforto”, que se localizavam no Japão, China, Filipinas, Indonésia, Malásia Britânica, Tailândia, Birmânia, Nova Guiné, Hong Kong, Macau, e no que então era a Indochina Francesa.
O Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul disse que pode haver um protocolo internacional a ser considerado, mas recusou fazer mais comentários, dizendo que foi um ato de um cidadão particular.
A questão das “mulheres de conforto” forçadas a trabalhar nos bordéis do Japão antes e durante a II Guerra Mundial e a questão de saber se as vítimas foram adequadamente compensadas não reúne consenso.
O Japão considera o assunto “resolvido de forma irreversível” por um acordo de 2015 alcançado por Shinzo Abe e pelo presidente sul-coreano Park Geun-hye, segundo o qual Abe pediu desculpas e prometeu um fundo para apoiar as sobreviventes. Já o Governo da Coreia do Sul, Moon Jae-in, declarou que o acordo estava defeito, anulando-o.
Os laços entre os dois país têm sido tensos. No ano passado, o Japão impôs restrições à exportação de materiais de alta tecnologia para a Coreia do Sul, após uma decisão sul-coreana que ordenava que as empresas japonesas pagassem uma compensação às coreanas forçadas a trabalhar em bordéis durante a guerra.