Motorista que conduziu Marcelo entre Lisboa e Porto mandou um e-mail. Foi investigado como “ameaça ao Estado”

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António Cotrim / Lusa

O Governo recebeu um email a avisar que a greve dos motoristas ia provocar o caos, fazendo parar muitos serviços – e lembrando que assim caiu um governo no Chile.

O executivo receou que fosse uma ameaça ao Estado e participou a situação à Procuradoria Geral da República (PGR) e às Secretas.

“A população vai revoltar-se e está muito iminente uma revolução civil que pode não ser tão civilizada como o 25 de Abril de 1974″, escreveu Fernando Frazão, segundo avança o Expresso.

O email foi enviado por Fernando Frazão, um motorista que, em janeiro deste ano, deu boleia a Marcelo Rebelo de Sousa, de Lisboa ao Porto, porque o Presidente queria conhecer as dificuldades que enfrentavam os profissionais do setor.

Em sete parágrafos, o motorista lembra que foi uma greve deste tipo, há 50 anos, que fez cair o governo no Chile. A greve dos camionistas de 1972 foi uma das paralisações que acelerou a queda do presidente chileno Salvador Allende e terá sido financiada em dois milhões de dólares pela CIA, a mando do presidente norte-americano Richard Nixon. Em 1973, Allende seria substituído pelo general Augusto Pinochet, o candidato preferido dos americanos, pela sua posição abertamente anti-comunista.

O motorista disse ainda que a agricultura e a indústria iam ter problemas, que iam faltar bens de primeira necessidade nos supermercados e que “as centrais termo-elétricas reduzirão a potência energética e dar-se-á um crise energética instalando-se o caos”. “As prateleiras dos supermercados irão estar entre 20 a 30% sem produtos de primeira necessidade”, escreveu ainda o motorista de matérias perigosas.

O Governo queria que o caso fosse investigado para se perceber se era uma ameaça real ou se se tratava de uma tentativa de insurreição. A PGR acabou por não encontrar um crime nas palavras do motorista e os serviços de informação também desvalorizaram o desabafo de Fernando Frazão.

ZAP //

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