O pintor e arquiteto Nadir Afonso, de 93 anos, faleceu esta quarta-feira, no Hospital de Cascais, onde se encontrava internado.
A cidade de Chaves, terra natal do mestre, vai decretar dois dias de luto e inaugurar, em julho, a Fundação Nadir Afonso, da autoria do arquitecto Siza Vieira, situada numa das margens do rio Tâmega.
Várias personalidades expressaram o seu pesar pela morte do pintor. Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, lamentou a morte do artista, referindo que este criou uma linguagem pioneira na pintura portuguesa do seu tempo.
O artista plástico Júlio Pomar refere-se a Nadir Afonso como “um mito” e um “homem-espetáculo” na altura da sua entrada para a Escola de Belas Artes do Porto.
“Até a sua aura talvez fosse, no Porto no meio da Escola das Belas Artes, superior. Até pela raridade dos fenómenos. Era particular. Hoje com a banalização do ‘personagem artístico’ e das suas diferentes aplicações na sociedade contemporânea, tudo está mais classificável. Nós não no admiramos com o fenómeno Joana Vasconcelos, por exemplo, mas admirávamo-nos como o fenómeno Nadir Afonso, nesse anos, em que durava a segunda Guerra Mundial”, afirmou Júlio Pomar, 87 anos.
Álvaro Siza Vieira veio também expressar o seu pesar, lamentando que Nadir Afonso não possa assistir à inauguração do edifício que projetou para albergar as suas obras, em Chaves: “Para mim foi um desgosto, além do mais esperava vê-lo na abertura da fundação em Chaves, mas aconteceu isto”, afirmou o arquiteto em declarações à agência Lusa que considerou Nadir, “uma pessoa que teve um percurso brilhante”.
“Chaves e o país perderam hoje um homem notável e com uma obra ímpar. Ficamos mais pobres”, disse à Lusa o presidente da Câmara de Chaves, António Cabeleira. “Infelizmente, já não vai poder assistir à inauguração da sua fundação, mas a sua memória continuará presente através dela”, afirmou.
Vida e obra
Nascido em Chaves, em 1920, o pintor, arquiteto e pensador Nadir Afonso Rodrigues tinha completado o 93º aniversário a 4 de dezembro.
Diplomou-se em arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e trabalhou com arquitetos de renome como Le Corbusier e Oscar Niemeyer, mas viria a trocar esta área pela pintura, alcançando reconhecimento internacional.
Foi distinguido em 1967 com o Prémio Nacional de Pintura e em 1969 com o Prémio Amadeo de Sousa-Cardoso, e condecorado com o grau de Oficial (1984) e de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2010).
ZAP/Lusa