O fadista Vicente da Câmara morreu esta manhã em Lisboa, aos 88 anos, disse à Lusa o filho, José da Câmara.
Patriarca de uma família desde sempre ligada ao fado, e sobrinho da fadista Maria Teresa de Noronha, Vicente da Câmara contava com mais de 65 anos de carreira – que iniciou na extinta Emissora Nacional – da qual faz parte o célebre tema “A moda das tranças pretas”.
O velório do fadista, que nasceu em Lisboa, no seio de uma família aristocrática, realiza-se hoje a partir das 16:00, na Igreja da Graça, onde será celebrada missa, disse a mesma fonte.
O funeral sai no domingo às 15:30 da Igreja da Graça em direção ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Entre outros prémios, Vicente da Câmara foi distinguido em 2013 com o Prémio Amália Rodrigues Carreira e tinha um percurso artístico com mais de 60 anos.
Em 1948, incentivado pela tia, concorreu a um concurso da então Emissora Nacional.
A vitória no concurso radiofónico, que no ano anterior tinha sido conquistada por Júlia Barroso, deu-lhe o passaporte para atuar aos microfones da rádio oficial em programas de grande popularidade, como “Serão para trabalhadores”.
O fado “A moda das tranças pretas” que o celebrizou, foi composto na década de 1950, quando assinou o primeiro contrato discográfico para a Valentim de Carvalho. Gravou, em 78 rpm, temas como “Fado das Caldas”, “Uma oração”, “Varina” (de sua autoria) ou “Os teus olhos”, com uma letra sua.
Do seu repertório constam ainda temas como “Sino”, de sua autoria, “As cordas de uma guitarra” ou “Outono”, com letra de seu pai, “Triste mar”, “Maldição” e “Menina de uma só trança”.
O seu percurso inclui outros fados como “Fado Lopes”, “Era mais que simpatia”, “Milagre de St.º António”, “Fado do Pão-de-Ló”, ou “Fado do João”, “Guitarra soluçante”, “O fado antigo é meu amigo” e “Há saudades toda a vida”.
Em 1964 estreou-se no cinema, em “A última pega”, de Constantino Esteves, protagonizado por Fernando Farinha, no apogeu da carreira, e contracenando com Leónia Mendes, Júlia Buisel e José Ganhão.
Voltou ao cinema em 2007, sob a direção de Carlos Saura, em “Fados”, e ao lado de Carminho, Ricardo Ribeiro, Mariza, Camané e Carlos do Carmo, entre outros.
O fadista, um dos fundadores da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), integrou o elenco do espetáculo de inauguração do Museu do Fado, em 1998.
Atuou na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Países Baixos, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Coreia do Sul, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola.
Em 1993, gravou com José da Câmara e Nuno da Câmara Pereira o CD “Tradição” (EMI/VC), em homenagem à tia Maria Teresa de Noronha.
“O rio que nos viu nascer” (2006) é o mais recente álbum de Vicente da Câmara (Ovação).