O cantor e percussionista jamaicano Bunny Wailer, uma lenda do reggae, morreu esta terça-feira, aos 73 anos, no Andrew’s Memorial Hospital de Kingston, o que marca o fim de uma época para este movimento musical.
A notícia foi divulgada pela ministra da Cultura jamaicana, Olivia Grange, que não mencionou as causas da morte deste fundador do grupo The Wailers, com Bob Marley e Peter Tosh, que fizeram do reggae um fenómeno mundial.
Com o nome verdadeiro Neville Livingston, este músico teve um primeiro acidente vascular cerebral (AVC) em 2018 e um segundo em julho de 2020. Era o único sobrevivente daquele histórico trio.
Nascido em 1947, em Nine Mile, no norte da Jamaica, Bunny Wailer conhecia Bob Marley desde a infância, com o qual tinha relações de amizade. Mais tarde o seu pai tornou-se o companheiro da mãe de Bob Marley.
Mudaram-se para Trench Town, um bairro da capital, onde foram influenciados pelo seu encontro com Joe Higgs, considerado por muitos como o ‘pai do reggae’, que os encorajou a formarem um primeiro trio com Peter Tosh.
“Ele tirou tempo da sua própria carreira para nos transmitir o seu conhecimento das técnicas harmónicas”, explicou Bunny Wailer durante uma entrevista, em 2013. Nenhum dos então três adolescentes tinha recebido formação musical.
O grupo mudou de nome algumas vezes, antes do primeiro álbum, que saiu em 1965, com a designação “The Wailing Wailers”, algo como “Os Lamentáveis Wailers”. O álbum marcou a emergência de um som, com um ritmo infernal, marcado pela música americana, nomeadamente o R&B, mas também pela cultura jamaicana.
Personagem carismática, sempre com barba e chapéu, adepto dos princípios do movimento religioso rasta, Bunny Wailer teve um papel determinante na elaboração desta identidade musical.
“Perdemos um ícone”, reagiu Herbie Harris, líder do grupo jamaicano de reggae ATF Band. “Pena que os jovens que fazem parte da cena musical jamaicana não conheçam o contributo de Bunny Wailer”, lamentou.
Durante uma entrevista, também de 2013, o músico tinha explicado que se tinha minimizado voluntariamente quando os Wailers foram constituídos.
“Todos os membros do grupo tinham qualidades de líder”, disse então. “Mas precisávamos de um som que, quando se ouvisse o grupo, se soubesse que eram os Wailers. E com o Bob (Marley) tínhamos esse som“.
Os Wailers conheceram o sucesso logo desde o início, com títulos como “One Love”, ainda com um som ska, género musical antecedente do reggae. O título foi regravado para o álbum “Exodus”, de Bob Marley, de 1977, e tornou-se um êxito mundial. Depois do seu primeiro disco, os Wailers publicaram vários outros antes de começarem a colaborar com o produtor Chris Blackwell.
O fundador da marca Island Records fez evoluir o som do grupo, para lhe dar uma sonoridade mais elétrica, de forma a agradar, dizia, a um público mais internacional.
Bunny Wailer está nos álbuns “Catch a Fire” e “Burnin”, que transformaram o reggae num movimento musical relevante. Mas depois sai do grupo, tal como Peter Tosh, cansado do papel de ajudante de Bob Marley, no qual se sentia fechado.
Lançou então a sua carreira a solo, com o álbum “Blackheart Man”, considerado hoje como um clássico do género. Nos anos 1990, recebeu três Grammy Awards, distinções da indústria musical norte-americana, dos quais dois pelo álbum reggae do ano.
Até ao seu primeiro AVC, atuava regularmente em palco, com a sua voz a tornar-se cada vez mais rouca.
Para Karyl Walker, jornalista jamaicano, “Bunny Wailer era um músico mais completo do que Bob Marley. Tocava vários instrumentos e escreveu canções muito boas”.
Agora, lamentou, “todos os Wailers estão mortos e é a vez de a nova geração de músicos jamaicanos honrar esta herança e elevar o nível”.
ZAP // Lusa