O cantor guineense Américo Gomes morreu nesta quarta-feira, em Lisboa, aos 51 anos de idade. Era um dos músicos mais populares da Guiné-Bissau, conhecido pelas músicas de intervenção social e política.
Américo Gomes foi encontrado morto na sua residência em Lisboa, onde estava radicado há vários anos, conforme informa o seu irmão, Elísio Gomes Sá, numa nota publicada nas redes sociais.
Outra fonte familiar indicou à Lusa que estão a aguardar uma autópsia das autoridades portuguesas para determinar a causa da morte do cantor, que era muito querido entre os guineenses.
A morte de “Diguidazz”, como também era conhecido, surge alguns dias depois de o cantor ter divulgado nas suas redes sociais, que o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, não terá legitimidade para continuar no cargo depois de 27 de Fevereiro próximo, data em que termina o seu mandato, segundo a oposição.
Embaló e os seus apoiantes dizem que o mandato só termina a 4 de Setembro, ou seja, cinco anos depois da confirmação da sua vitória pelo Supremo Tribunal de Justiça.
A oposição defende que o fim do mandato deve ocorrer no dia em que se completam cinco anos sobre a sua tomada de posse, a 27 de Fevereiro.
Américo Gomes colocou-se do lado dos opositores de Embaló, notando, em crioulo guineense, que depois dessa data, o Presidente “já não pode assinar nenhum decreto”. “Acabou, ponto final”, sublinhou no vídeo partilhado no Instagram.
Ver esta publicação no Instagram
“Diguidaz” fica para sempre
A ministra da Cultura, Juventude e Desporto da Guiné-Bissau, Maria da Conceição Évora, despediu-se de “Diguidaz” com uma mensagem nas redes sociais, onde sublinhou que “teve uma passagem curta” na terra, mas deixou “um grande legado”.
“Os artistas não morrem. A tua música será tocada e ouvida sempre em todos os cantos do mundo”, escreveu Conceição Évora.
Vários partidos e líderes políticos também expressaram o seu pesar pela morte repentina de Américo Gomes.
As rádios de Bissau e as páginas das redes sociais do guineenses estão a ser inundadas de músicas e fotografias de Américo Gomes, que é considerado um dos mais talentosos músicos do país dos últimos 30 anos.
Radicado em Portugal há vários anos, o cantor visitava o país regularmente para participar em concertos musicais, ou em campanhas políticas.
Quem é Américo Gomes?
Américo Gomes começou a sua carreira nos finais dos anos 1980, tornando-se conhecido por cantar em crioulo guineense, manjaco (o dialecto da etnia manjaca, a que pertence), francês, inglês e wolof (uma língua nativa do Senegal, onde também é popular).
Licenciado em Gestão de Empresas, Américo Gomes publicou sete álbuns musicais ao longo da sua carreira de mais de 30 anos.
Foi uma figura central na música guineense, marcando a sua carreira artística pela originalidade e pela crítica social.
Podemos dizer que era uma espécie de Zeca Afonso da Guiné-Bissau, com as devidas distâncias em termos de estilos musicais, sendo conhecido pela sua intervenção na vida política do país.
Não se coibia de criticar os dirigentes, mesmo aqueles que receberam o seu apoio nas campanhas eleitorais.
“Eu apoio sempre o meu povo“, declarou recentemente num vídeo publicado nas redes sociais.
Deixou um legado musical significativo e é lembrado com carinho pelos seus fãs e pela comunidade guineense. A música “Bissau” é uma das suas canções mais populares, misturando ritmos tradicionais guineenses com influências modernas.
ZAP // Lusa