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Proposta de monumento ao general Vasco Gonçalves abre “guerra” em Lisboa

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Henrique Matos / wikimedia

General Vasco Gonçalves

O general Vasco Gonçalves numa manifestação em 1982.

Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, apoia a ideia da Associação Conquistas da Revolução que quer construir um monumento ao general Vasco Gonçalves no ano do centenário do seu nascimento. CDS-PP e Iniciativa Liberal estão contra.

Foi o líder da Associação Conquistas da Revolução (ACR), Manuel Begonha, quem apresentou a ideia de construir um monumento ao general Vasco Gonçalves em Lisboa. A proposta foi feita durante uma reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa (CML) na semana que findou e surge no âmbito do centenário do nascimento do militar que se opôs à ditadura de Salazar.

Vasco Gonçalves foi primeiro-ministro de quatro Governos provisórios depois do 25 de Abril, entre 1974 e 1975.

A ACR considera que o general está “a ser passado para um esquecimento” que não merece, como refere Manuel Begonha em entrevista ao Público. Assim, conta com a colaboração da CML para lhe erguer um monumento. Mas “há muitas coisas que têm de se “negociar”” com a autarquia, refere.

Neste momento, “a bola” está do lado de Moedas, aponta ainda Begonha que fica a aguardar por uma reunião com responsáveis da Câmara para definir “os locais, a disponibilidade, como é que é serão feitos alguns pagamentos, o que é que este monumento implica”.

O arquitecto Siza Vieira já se “prontificou a fazer um monumento”, revela ainda o líder da ACR.

Não é uma estátua, não é um busto, é um monumento“, pelo que tem “um carácter um bocadinho diferente, apela mais à imaginação, tem outra criatividade”, nota, frisando, contudo, que a ideia “depende também do espaço dado pela Câmara e da autorização”.

Para já, Moedas deu “um parecer positivo”, como atesta o Público.

“Para nós, será sempre uma honra continuar a homenagear o senhor general Vasco Gonçalves. Trabalharemos convosco um bocadinho mais na definição desse monumento”, apontou o presidente da CML na reunião pública onde a ideia surgiu, conforme cita o referido jornal.

Iniciativa Liberal diz que “seria um erro gravíssimo”

O grupo municipal da Iniciativa Liberal (IL) de Lisboa já repudiou a intenção do presidente da Câmara, afirmando que o general “não merece uma estatueta que seja” na cidade.

“Uma homenagem por parte do executivo de Carlos Moedas a Vasco Gonçalves é uma homenagem a uma personagem iliberal que tentou colectivizar o país, preferindo uma ditadura de esquerda a uma democracia”, considera a IL que tem três deputados eleitos na Assembleia Municipal de Lisboa.

Assim, o partido “condena veementemente” a intenção de criar um monumento a Vasco Gonçalves, indicando que o general é “responsável por um dos períodos mais conturbados do pós-25 de Abril” e que a sua actuação, enquanto primeiro-ministro, “belisca a democracia ganha no 25 de Abril e reforçada no 25 de Novembro”.

“Qualquer homenagem é uma afronta às vítimas do PREC [Processo Revolucionário em Curso] e do COPCON [Comando Operacional do Continente], que fazia prisões arbitrárias e mandados de captura em branco”, acrescenta a IL em comunicado.

O partido acrescenta que Vasco Gonçalves é também responsável pelo “descalabro da reforma agrária imposta, nacionalizações e aos processos caóticos de descolonizações”.

“Homenagear quem quis uma ditadura de esquerda seria um erro gravíssimo de Moedas e da CML”, acrescenta a IL no seu perfil do Twitter, onde se sublinha que “Lisboa é do povo, não é de Moscovo”.

No seio da IL, há até quem compare o general a Salazar e a Marcello Caetano, salientando que todos foram “importantes, mais que não seja, para percebermos o que a democracia não é“, como nota o investigador e membro do partido João Cascão.

General tentou “instaurar regime ditatorial”, acusa CDS

O CDS-PP de Lisboa também anuncia que está contra qualquer “homenagem, monumento ou evocação” ao general Vasco Gonçalves por simbolizar “o pior” na tentativa de “implantação de um regime totalitário” pela extrema-esquerda após o 25 de Abril.

O ex-líder deste partido Manuel Monteiro critica Moedas por querer contribuir para criar esse monumento e recorda-lhe que não se esqueça que foi eleito “em coligação”.

Para Monteiro é “lamentável que o presidente da CML admita participar numa homenagem a alguém que teve a responsabilidade de quase provocar uma guerra civil em Portugal, que quis instaurar um regime ditatorial totalitário, que é um dos responsáveis pelo atraso económico do país com a vaga de nacionalizações absurdas que provocou em 1975″.

“Acho estranho que um presidente de Câmara, que deveria ter memória, eleito com os votos daqueles que também lutaram contra as ideias de Vasco Gonçalves, se associe ou admita associar-se a homenagens conducentes à feitura de estátuas ou de bustos, ou do que seja, de alguém que representa o oposto ou representou o oposto dos valores dos que votaram no engenheiro Carlos Moedas para ser presidente da CML”, defende ainda Monteiro.

Moedas “foi eleito em nome dos novos tempos, não é para estar agora a fazer homenagens e elogios a velhos tempos e esses velhos tempos que ainda por cima são maus e profundamente negativos”, acrescenta o ex-líder centrista.

“A democracia deve muito ao general”

Vasco Gonçalves foi chefe dos Governos Provisórios entre 18 de Julho de 1974 e 10 de Setembro de 1975.

O seu nome era aclamado nas manifestações e comícios durante o PREC em “slogans” como “Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, de uma canção interpretada por Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz.

O período em que chefiou o Governo ficou conhecido por “Gonçalvismo” e foi marcado, principalmente, pelo combate aos monopólios e aos latifúndios.

A nacionalização da banca e dos seguros, a par da aceleração da Reforma Agrária, foram decisões emblemáticas e são, ainda hoje, vistas pela direita como sinónimo do extremismo de esquerda.

Por tudo isto, Manuel Begonha não estranha a “polémica muito grande” que se está a levantar, como diz ao Público.

“É natural que muitas pessoas não gostem do Vasco Gonçalves, que é uma figura controversa”, frisa o líder da ACR, salientando que “a direita em Portugal não gostava do general“. Assim, entende que “ao ouvirem falar de uma coisa destas, fiquem nervosos”.

“Dentro da democracia as pessoas reagem como entendem. Só lamentamos que muitos tenham uma ideia completamente errada dele. Muitos nem o conheceram, outros nem sabem o que se passou. Há muita má informação e depois as pessoas aproveitam e dizem coisas que não sabem”, considera ainda Begonha.

Em defesa da memória de Vasco Gonçalves, há quem note, nas redes sociais, que a democracia “deve muito” ao general. E quem recorde que o “salário mínimo”, os “subsídios de férias e desemprego” e a “licença de parto” foram “decididos durante os Governos de Vasco Gonçalves”.

ZAP // Lusa

21 Comments

  1. O PCP, com uma fórmula camuflada de tentar sobreviver! Por favor, os portugueses têm mais preocupações. Livrem-nos destes faits divers ridículos.

  2. Num mundo de doidos, um monumento a um louco parece a coisa mais natural possível. Ninguém melhor do que Vasco Gonçalves perceberia a loucura das sanções contra a Rússia e o envio de armas para a Ucrânia para ajudar a matar mais ucranianos.

      • Nem mais. Estão a reavivar as criaturas mais nojentas da nossa enorne História para almejarvo divisionismo que tabto jeito lhes dá!

  3. Para os mais novos não tem grande signiificado. Para que viu Portugal á beira de uma ditadura comunista, é, no mínimo, chocante, ver que o presidente Carlos Moedas apoie uma iniciativa de levantar um monumento ao general Vasco Gonçalves. Com franqueza! Que desilusão!
    Presidente Carlos Moedas, por amor, não queira apoiar tudo e todos. Há limites.
    Era só o que nos faltava! O Vasco Gonçalves gloficado! Já agora, mais uns quantos ditadores ao lado! Foram tempos difíceis e violentos. Não foram só cravos!

    • J. Galvao, Fofinha Helena, nao se deveria chocar com o reconhecimento democrático dos HEROIS em tempo certo, tanto o ZÈ do Telhado, como , António Salazar ou Mário Soares o Homem que passou a ser Doutor quando teve de pisar as capas que os estudantes estenderam no chão a saída de Espanha para os apoiantes a revolução dos cravos em Portugal , ate então “refugiado ” mas que nem se mostrou muito interessado em sair da vida boa, e se nao fosse a insistência de um seu então amigo que estava presente em todas as revoluções com as suas radios piratas, na verdade e porque lhe foi permitido acompanhar Álvaro Cunhal, por a amizade deles ser dever se a luta em conjunto do PCP pela ja desejada LIBERDADE, só que um teve um empurrão para se refugiar no estrangeiro por conta do povo Português, portanto minha FOFINHA Helena seja mais democrática e aceite a historia.

  4. Está tudo doido???? Não têm mais nada para discutir neste país à deriva??? Isto é mesmo para que se discuta o que nem é imaginavel e nãonse dê atenção ao desgoverno que nos está a levar a bom ritmo para uma nova bancarrota… tenham juízo.

  5. Como é possível sequer imaginar uma coisa destas? Anda tudo completamente doido? Uma figura desprezível que quase levou este país à guerea cívil quando os comunas cantavam nas ruas ataques infames sobre Portugal nos territórios ultramarinos com o fito de os deixar, como deixou, aos seus aliados terroristas, com o prejuízo de milhões? Que permitiu a apoiou o roubo de propriedades aos donos destas, para no fim, arruinar todas as explorações falindo-as todas? Que permitiu o roubo de armas pela cambada da extrema-esquerda para possibilitar uma vitória na guerra que tanto desejavam? O meu pai fez a guerra colonial toda, quando voltou, dizia corrermos maior perigo de “uma guerra a sério e nais violenta do que nunca”! Pois, era comum o roubo de armas e a bandalheira, cheia de ideologia comunista no exército. Cheguei a ver militares guedelhudos a com pins do assassino “che” sob a farda, tal era a desfaçatez que nos impunham. Hoje, somos sujeitos a uma espécie de ditadura silenciosa, típica dos regimes comunistas, onde s maioria está sujeita aos ditames de uma reles e detestável minoria. Já agora, recomendo aos “historiadores” de serviço para, efectivamente, verificarem quando foram atribuídos os taus subsídios. Não mintam,ė feio.

    • J. Galvao, Fofinho José . precisa ser mais honesto consigo mesmo, e talvez mais educado, ” quem permitiu e ate obrigou a entrega das referidas propriedades foram os seus amigos fofinhos da ONU, e de outras organizações mundiais que ainda hoje se acham senhoras do mundo e tratam os nossos povos abaixo de ANIMAIS, nao estou a acusar o fofinho JOSE , ja que revelou ter nascido apos a revolução, no entanto a historia esta escrita e gravada com imagens que podem educar onde aparecem os seu referidos “gadelhudos” se vir com atenção, vai reconhecer alguns deles como seus familiares , e todos juntos fizeram um esforço para o seu futuro fofinho ser muito melhor do que foi o deles, quanto a minoria também deveria estar com mais atenção e atualizar-se pois o fofinho em 2022 esta a ser governado por um grupo de !!! que foram eleitos por apenas cerca de vinte e cinco por cento ( 25%) dos eleitores , a democracia permite que o fofinho seja ignorante mas a liberdade conquistada por aqueles ” gadelhudos” permitiu que pudesse optar por uma melhor educação, sem se preocupar com a sua classe social. Vamos la fofinho JOSE, LEIA MAIS.

  6. Texto de 31.12.1974 do Decreto 830/74, Assinado pelo “Democrata” Vasco Goncalves, que transformou pela Via Administrativa os Insitutos Industrias, Cursos de Nivel Médio em Cursos Superiores.
    Transcricao do 830/74:
    “1. A democratização do ensino exige uma remodelação das actuais estruturas escolares que são reflexo de uma situação hierarquizada, antidemocrática e imobilista.
    Exemplo flagrante desta realidade são as escolas médias, em que a uma população escolar, de um modo geral oriunda de classes menos favorecidas do que as que entram na Universidade, era ministrado um ensino intencionalmente destinado a manter os seus diplomados durante a vida profissional numa situação de desvantagem ou subalternidade relativamente aos diplomados pelas escolas superiores. Aliás, e de acordo com tal objectivo, é patente nestas escolas a ausência de uma verdadeira formação cultural, humana e científica, sendo de todo inexistentes as actividades de investigação.

    Assim, e com o propósito de pôr fim a esta situação, julgou-se conveniente a reconversão dos institutos industriais em escolas superiores, que passam a ser designadas por institutos superiores de engenharia.”

    E o Marcal Grilo fez a mesma coisa com os Cursos de Bolonha- eheheheh PT é um PAGODE de gente MALUCA!
    Gente que “Não sabem o que fazem ,nem sabem o que dizem!” aqui está a demonstração

    • J. Galvao , Carolões dos tostões ? andas a ler decretos de 1974 e nao te consegue educar Ó Fofinho mais rigor nas tuas leituras , e valoriza toda a informação que dispões em arquivo, de Cinema, TV, ( hoje uma dúzia ) Jornais , Revistas, Teatro , e comentadores as RESMAS, graças a LIBERDADE que o referido decreto JULGOU CONVINIENTE e resultou na liberdade que hoje consomes.

  7. J. Galvao , Carolões dos tostões ? andas a ler decretos de 1974 e nao te consegue educar Ó Fofinho mais rigor nas tuas leituras , e valoriza toda a informação que dispões em arquivo, de Cinema, TV, ( hoje uma dúzia ) Jornais , Revistas, Teatro , e comentadores as RESMAS, graças a LIBERDADE que o referido decreto JULGOU CONVINIENTE e resultou na liberdade que hoje consomes.

  8. Essas coisas do salário mínimo, subsídio férias, etc, se não fossem criadas no tempo do “camarada” Vasco, seriam naturalmente adoptadas mais tarde, como se verifica olhando para os nossos parceiros europeus. Não vale a pena erigir um monumento ao VG só por causa disso. Não têm mais nada nem ninguém a homenagear? Apesar de não der votante do IL nem do CDS, aqui estou de acordo com eles. Quem quer homenagear o VG deve ser o mesmo tipo de gente que vandaliza ou derruba estátuas do Colombo, do Padre António Vieira, etc.

    • J. Galvao, Fofinho , Biltre, nao devias ficar zangado nas sim preocupado !!!! os EUA e muitos outros paises nao tem as regalias sociais que foram criadas em PORTUGAL e em outros paises, graças a esses heróis que alguns pretendem derrubar, alias a MISERIA SOCIAL mora mesmo naqueles paises, por isso fofinho para alem de HOJE ter em PORTUGAL a LIBERDADE de votar em em quem lhe apetecer, também vai ter uma reforma social.

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