O líder do PSD garante que será candidato a primeiro-ministro, independentemente do resultado das europeias, e deixa dúvidas sobre um acordo com o Governo para o novo aeroporto de Lisboa.
Luís Montenegro, o presidente do Partido Social Democrata (PSD), concedeu uma entrevista reveladora à TVI/CNN Portugal, onde delineou estratégias e posições políticas visando afirmar-se como alternativa ao Partido Socialista (PS).
Mesmo face a um declínio nas sondagens, Montenegro reiterou a sua intenção de ficar na liderança do partido até 2026 e de ser recandidato, independentemente do resultado das europeias do próximo ano.
“Eu vou recandidatar-me nas próximas eleições dentro do PSD após as europeias, vou recandidatar-me porque faço uma avaliação muito positiva do que temos vindo a fazer. Estou tranquilo, acho que temos muito tempo para crescer nas sondagens. Muitos dos que estiveram sentados nesta cadeira antes de mim tiveram o mesmo problema, uns chegaram ao Governo, outros não”, afirmou.
Este anúncio pode servir como um recado para potenciais rivais internos, numa altura em que se especula sobre um regresso de Passos Coelho ou um avanço de Carlos Moedas para a liderança dos sociais-democratas.
Questionado directamente sobre o que acha sobre uma possível candidatura de Passos Coelho a São Bento, Montenegro não tem papas na língua: “O candidato a primeiro-ministro sou eu”. O líder do PSD acredita ainda que a academia “não está a tirar partido do potencial” que o ex-primeiro-ministro tem enquanto professor.
Já quando confrontado novamente sobre uma possível aliança com o Chega, Montenegro garante que não fará qualquer “coligação ou acordo”, mas deixa a porta aberta à Iniciativa Liberal. O líder laranja também afasta uma geringonça à direita, em que o PSD forme Governo sem ficar em primeiro nas eleições.
Novo aeroporto em xeque
Em relação a propostas mais específicas, Montenegro defende como uma “prioridade” a proposta do PSD para a recuperação integral do tempo de serviço dos professores ao longo de cinco anos. O líder do PSD alerta ainda que “em 2026, mais de 50% dos professores vão ter mais de 50 anos” e que “só se consegue atrair gente para o ensino se se valorizar a função”.
No meio das notícias sobre a privatização da TAP, o ex-líder da bancada laranja considera que a venda à Iberia “é muito perigosa“, dado que a companhia tem um centro de operações em Madrid, o que pode pôr em risco a continuidade do centro da TAP em Lisboa.
Luís Montenegro acusou ainda Costa “incompetência pura” na gestão da companhia portuguesa, considerando que a reversão da privatização de 2015, foi “uma escolha voluntária e consciente que lesa o interesse público”. O líder da oposição defendeu ainda uma “privatização a 100% da TAP”, não descartando uma venda “faseada.”
Já sobre um acordo para a construção do novo aeroporto de Lisboa, Montenegro não garante o apoio do PSD ao plano do Governo e questiona as escolhas dos especialistas que integram a comissão técnica independente, dado que alguns dos peritos já se manifestaram publicamente sobre o assunto.
“Não quero duvidar da independência das pessoas, mas duvidei e alertei o primeiro-ministro para isso quando vi a presidente da comissão técnica independente [Rosário Partidário] dizer que ia decidir onde é que ia ficar o novo aeroporto”, atira.
Montenegro referiu ainda que o PSD exigiu que as obras no aeroporto Humberto Delgado “fossem realizadas de imediato”, salientando que o acordo foi assumido há um ano e essas obras “ainda não começaram”.
“O PSD pôs condições, quem tem de cumprir é o Governo, o PSD não tem capacidade de manobra, nós não gerimos o processo”, sublinha.
No tocante à habitação, o líder do PSD condenou a política de “travão nas rendas”, considerando que esta tem um “efeito perverso” no mercado imobiliário. Montenegro também falou sobre as propostas do PSD para o Orçamento do Estado de 2024, defendendo que a sua abordagem para IRS jovem é “melhor” do que a do Governo.
Já quanto ao IRC, Montenegro explica que uma das prioridades do PSD é descer já dois pontos, de 21% para 19%. O líder partidário admite até ir mais longe e vir ainda a descer mais dois níveis, de 19% para 17% e, mais tarde, 17% para 15%.
Confrontado com sondagens desfavoráveis, Montenegro manteve-se resiliente. Acredita que a confiança e o conforto dos eleitores são conquistados com “tempo, consistência e solidez”, e que seu partido tem vindo a apresentar ideias que conferem essa segurança.