Montenegro acredita, mas está de olho em Moreira da Silva, que “não é para subestimar”. Directas podem ser adiadas

ppdpsd / Flickr

O ex-líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro

Jorge Moreira da Silva vai confirmar se avança com uma candidatura à liderança do PSD a 14 de Abril, mas os mais próximos de Montenegro acreditam que este não seria um adversário fácil. Entretanto, um grupo de militantes pediu a impugnação da data das directas porque Rio não se demitiu formalmente.

Agora que Montenegro é oficialmente candidato na corrida à liderança do PSD, o nome de Jorge Moreira da Silva está a ser falado como um possível adversário, isto depois do ex-delfim de Passos Coelho ter revelado que vai anunciar a sua decisão no dia 14 de Abril.

O Expresso avança que a possibilidade de Moreira da Silva avançar apanhou Montenegro de surpresa e que os dois só terão falado já depois do antigo líder parlamentar social-democrata ter confirmado oficialmente que está na corrida.

Os dois pertencem à mesma ala do PSD, e se Montenegro tem a seu favor uma maior notoriedade pública e mais apoio no aparelho do partido, Moreira da Silva pode conquistar alguns votos entre os apoiantes de Rui Rio (cuja liderança Montenegro desafiou duas vezes) e até entre os adeptos de Paulo Rangel que considerem que Montenegro não fez o suficiente para o apoiar nas directas de Novembro.

As fontes sociais-democratas ouvidas pelo Expresso falam numa “paz podre” caso não houvesse mais candidaturas e consideram que o partido está “demasiado dividido” para haver apenas um nome na corrida.

Dentro do círculo de Montenegro, considera-se que uma eventual candidatura de Moreira da Silva não deve ser subestimada, já que o facto deste estar disposto a deixar o cargo na direcção da OCDE para apostar todas as fichas na liderança do PSD indica que virá bem preparado para o confronto.

O anúncio de Montenegro, que foi apontado como o favorito logo após Rio anunciar a intenção de sair, já era antecipado há muito. A demora na confirmação deveu-se à gestão do timing mediático e também dos adversários internos.

Mesmo assim, um apoiante do ex-líder parlamentar diz que “o Luís Montenegro precisava de ser visto como o D. Sebastião, mas isso não aconteceu, não houve uma onda à volta dele”, em grande parte devido aos choques que teve com Rui Rio.

Num sinal de apelo à união, Montenegro já estendeu o ramo de oliveira aos rioístas ao convidar Joaquim Miranda Sarmento, um dos homens fortes de Rio e o responsável pela coordenação do último programa eleitoral do PSD, para dirigir a equipa que vai criar a sua moção estratégica.

Entretanto, o lema da campanha já foi conhecido, sendo apenas “Acreditar“. “Energia, convicção, unidade, responsabilidade. Este é o nosso futuro. Bem-vindos à página Acreditar, um espaço de todos, onde vamos discutir o futuro de Portugal. E vamos fazê-lo a partir do PSD, um PSD, renovado, empenhado e mobilizado”, afirma Montenegro num vídeo na página de Facebook da candidatura.

Na apresentação oficial da campanha, Montenegro defendeu que o partido “tem de voltar a ser a casa mãe das tendências não socialistas”, e avisou que não o assustam “maiorias absolutas ou mandatos longos”, considerando estes um “desafio e um incentivo para nos organizarmos melhor”.

O candidato reforça que perante um Governo maioritário, Portugal precisa “mais do que nunca de uma oposição atenta e implacável com os desvios” do executivo e “pronta a governar a qualquer momento”, ecoando os avisos de Marcelo sobre uma saída antecipada de Costa para Bruxelas, que tornaria “inevitável” um “cenário de eleições antecipadas”.

Montenegro também considera que Portugal “vive há demasiado tempo amarrado ao socialismo”, que é sinónimo de “amiguismo, facilitismo, imobilismo, burocracia e subsidiodependência“.

O político refere ainda que nos últimos 27 anos, os sociais-democratas só governaram sete. “Desde 1995, os portugueses só têm confiado no PSD em alturas de aperto. Não tem de ser assim”, garantiu, prometendo uma reforma fiscal “mais simples e menos asfixiante”, “plano nacional de imigração” para atrair “talento” e o reforço das parcerias entre o sistema público e privado na saúde.

Sobre uma eventual candidatura de Moreira da Silva, Montenegro limitou-se a descrevê-lo como “um amigo” e “uma pessoa muito qualificada“.

Pinto Luz: “Não era o momento de ser candidato ao PSD”

Um dos outros putativos candidatos era Miguel Pinto Luz, que matou os rumores em entrevista ao Observador. “Não serei candidato nestas eleições. Entendo que agora, tendo sido eleito há seis meses para um projeto autárquico, quero dedicar o meu tempo aos munícipes que confiaram em mim e a Cascais. É a única razão pela qual tomei a decisão de não me candidatar”, afirma.

O vice-presidente da autarquia de Cascais acrescenta que o seu compromisso com o actual mandato foi o único obstáculo à sua candidatura à liderança laranja. “Seria natural que fosse candidato ao PSD. Com um percurso que fiz, por aquilo que sinalizei nos conselhos nacionais, no Congresso… seria natural que protagonizasse uma candidatura”, refere.

“Agora, não está escrito nas estrelas que tenho de ser, não tenho uma ambição desmedida e tenho noção clara de qual é o meu papel no PSD. Estou preocupado com o futuro do PSD, mas também entendo que em política temos de saber ser sérios e temos de corresponder às expectativas que depositaram em nós. Estou absolutamente focado e concentrado em Cascais”, garante.

Pinto Luz acredita ainda que esta decisão não diminui “em nada” a sua militância e afirma “sem hipocrisia” que não fecha a porta a uma nova candidatura no futuro, depois de já o ter feito em 2019 e de 2021 ter apoiado Paulo Rangel. “Se entender, num futuro próximo ou mais longínquo, que posso aportar valor, posso representar esse potencial de mudança, irei protagonizar essa candidatura sem receios. Não sou tacticista em nada no que faço dentro do PSD”, declara.

Sobre um possível apoio a Montenegro ou Moreira da Silva, Pinto Luz é claro: “Não me vou imiscuir nestas eleições. Não vou tornar público o apoio a nenhuma das candidaturas”.

Já relativamente ao convite de Montenegro a Joaquim Miranda Sarmento, é um “sinal positivo e é diametralmente oposto aos sinais que Rui Rio tinha dado nos últimos quatro anos”. “Sinaliza de uma forma muito clara que pretende unir o partido”, considera Pinto Luz.

Moreira da Silva tem também “sem dúvida nenhuma” argumentos para disputar a liderança com Montenegro. “É um homem que está na OCDE, já esteve no Parlamento Europeu, já foi ministro, já foi secretário de Estado, já foi vice-presidente do PSD. São dois homens que hoje só enaltecem o PSD, só elevam o debate político. Tenho pena que não surjam mais”, atira, lamentando ainda que Carlos Moedas não tenha avançado com uma candidatura.

Com a grande maioria dos nomes mais falados já de fora, como Ribau Esteves, Paulo Rangel, Poaires Maduro, Ricardo Batista Leite, Carlos Moedas, Pedro Rodrigues e, agora já confirmado, Miguel Pinto Luz, antecipa-se, por enquanto, um duelo entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva.

Directas podem ser adiadas

Segundo avança a Visão, um grupo de mais de 20 militantes entregou ao Conselho de Jurisdição Nacional do PSD um pedido de impugnação da marcação das eleições directas, previstas para 28 de Maio porque Rui Rio não apresentou formalmente a sua demissão e também não esteve presente no Conselho Nacional em Ovar, onde foi decidida a data, visto estar com covid-19.

O CJN só deve tomar uma decisão na próxima semana, mas uma fonte próxima avança à Visão que a queixa está “muito bem formulada”. Recorde-se que Rui Rio deixou o seu lugar à disposição depois da derrota na noite das legislativas, mas sem  falar directamente na palavra demissão.

“O cargo de presidente do partido não está vago. Só estará vago no final do termo do mandato; e o doutor Rui Rio foi eleito até dezembro de 2023. Como o atual líder não fez um pedido de demissão; não esteve presente, sequer, no Conselho Nacional extraordinário, em que uma declaração sua pudesse ter ficado em ata; e também não votou favoravelmente aquela data [28 de Maio], porque terá de estar de acordo com a sua substituição; então, na prática nada do que foi feito e decidido é válido”, defende Henrique Cruz, o líder do pedido de impugnação.

Adriana Peixoto, ZAP //

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