Líder da oposição moçambicana acusa o atual regime de cometer um “genocídio silencioso”. Chega ao país de Bíblia na mão, colar de flores, e um desafio: “Se eles quiserem tomar posse, vamos ter dois presidentes”. Já houve mortes no local.
Depois de dois meses e meio a liderar fora de Moçambique o movimento de contestação aos resultados eleitorais que consagrou a Frelimo vencedora, Venâncio Mondlane regressa ao seu país.
Nem a chuva nem as balas o impedem, e “morrer e ser preso são coisas pequenas” para o candidato presidencial, que garante que não fugiu por receio da morte ou da prisão.
Foi recebido na manhã desta quinta feira no aeroporto de Mavalane, em Maputo, e diz que vem para “fazer história”. “Quero fazer a luta dentro deste país e vou até às últimas consequências”, afirmou à chegada, num momento em que analistas políticos garantem que o líder da oposição pode correr perigo de vida.
“Mondlane é um homem a abater”, assegura o especialista Fernando Cardoso à DW. O académico disse ainda, em novembro, que o líder devia “resguardar-se”. João Feijó, investigador moçambicano, partilha a mesma opinião na rádio Observador. Considera que o seu regresso é um “um risco muito grande”.
Mas isso não impede Mondlane de descer do avião, de onde sai com um colar de flores e a Bíblia na mão. De seguida simulou uma tomada de posse, com a mão sobre a Bíblia, porque, alega, foi ele o eleito pelo povo de Moçambique.
‼️ No Aeroporto Internacional de Maputo, Venâncio Mondlane fez o “Juramento de Honra” que os presidentes fazem na tomada de posse. pic.twitter.com/eu2qjuaGv0
— Moz Informa 🇲🇿 (@mozinforma) January 9, 2025
E, na verdade, os tiros não tardaram a chegar, disparados para junto da comitiva de Mondlane. Fizeram três mortos, avança a RTP.
A Frelimo deverá tomar posse a 15 de janeiro. “Se eles quiserem tomar posse no dia 15, então vamos ter dois presidentes. Um da Comissão Nacional de Eleições e outro do povo”, diz
“Apercebi-me que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso, as pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, estão a ser executadas extrajudicialmente nas matas, estão a ser descobertas as valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane”, diz o candidato presidencial, citado pela Lusa.
Vai apelando à multidão: “Quem manda? É a CNE, é o Conselho Constitucional”. Os apoiantes dizem que “não”, quem manda é “o povo”.
Passado algum tempo, a polícia dispersou a multidão com disparos e gás lacrimogéneo e provocou a fuga generalizada. Mondlane lançou então um apelo para desmobilização, perante o som dos tiros.
Há quem atribua as mortes à polícia: “quando chegámos aqui a polícia veio com rajadas. Mataram um, dois, três”, diz à Lusa um apoiante do partido de Mondlane, o PODEMOS, Nélson Fumo.
“Que nos matem todos, menos o nosso presidente“, exclama Nélson Abrenjare, outro apoiante, logo após a carga policial, acrescentando o objetivo: “Para repormos a verdadeira liberdade, isto não tem nada a ver com liberdade”.