Moedas é uma ameaça para o PS? “Ele só é má moeda para Montenegro”

Os socialistas estão a manter o autarca lisboeta debaixo de olho, mas apontam que Luís Montenegro é quem deve estar mais preocupado com a ascensão de Carlos Moedas.

O protagonismo que Carlos Moedas teve às custas da Jornada Mundial da Juventude não passou despercebido no PS, com fontes do partido a dizerem que nunca viram “um ateu tão beato” e com rumores de que António Costa ficou “furioso” com o destaque mediático que o autarca de Lisboa obteve.

Com o Papa de volta em Roma, os socialistas estão agora a estudar o que é que Moedas pretender fazer com este reforço no seu perfil público e há quem ache que o ex-Secretário de Estado de Passos Coelho é uma ameaça maior do que o actual líder social-democrata.

“É evidente que é um líder com muito mais força, credibilidade e afabilidade do que Luís Montenegro. Temos necessidade de o irmos mantendo debaixo de olho”, aponta um dirigente lisboeta ao Observador.

Depois de ter sido a principal surpresa nas autárquicas de 2021 — tendo derrotado um peso-pesado do PS em Fernando Medina e ditado a viragem da presidência da Câmara de Lisboa à direita — Moedas promete ser um obstáculo complicado nas esperanças socialistas de recuperar a capital em 2025, especialmente tendo em conta que geralmente é mais difícil derrotar um incumbente.

A escolha do candidato ideal no PS está a ser ponderada cuidadosamente, com rumores de que a ex-Ministra da Saúde Marta Temido está na dianteira, especialmente após ter vencido a corrida à liderança da concelhia socialista de Lisboa com 99% dos votos.

Dentro do partido, há quem saliente a sua “notoriedade imbatível” e o “fenómeno” de popularidade que Temido é como os seus principais atributos, prometendo ser uma candidata à altura de chutar com Moedas para canto.

Há outro cenário que está na cabeça do PS. Se o PSD tiver um mau resultado nas europeias do próximo ano, é provável que Montenegro seja contestado internamente e Moedas pode decidir sair da Câmara para entrar na corrida à liderança do partido. Neste caso, talvez as vereadoras Filipa Roseta ou Joana Almeida assumissem o leme de Lisboa, prometendo ser adversárias teoricamente mais fáceis para os socialistas.

Uma recente sondagem da Intercampus para o Correio da Manhã pode dar um empurrãozinho a Moedas neste sentido, já que 47,3% dos inquiridos consideram que o autarca saiu reforçado da JMJ. Questionados sobre quem seria um melhor líder para o PSD, 35,7% preferem Moedas, contra 23,9% que optam por Montenegro.

É por esta razão que no PS se diz que Moedas “só é má moeda para Montenegro” e que a sua afirmação no partido estimula “mais nervos” entre os sociais-democratas do que entre os rivais partidários.

Mas há socialistas que acreditam que ainda não é a hora de Moedas e o calendário eleitoral indica porquê. Se Montenegro não conseguir bater o PS nas europeias e Moedas avançar no PSD, estaria a dar um grande presente a Marta Temido ao abandonar a Câmara a meros meses das autárquicas de 2025.

No entanto, há também problemas se Moedas sair da Câmara de Lisboa só depois das autárquicas de 2025. Se sair após ser derrotado, terá pouco capital político para convencer os militantes do PSD. Já no cenário de sair após vencer, seria autarca durante poucos meses e estaria a trocar a visibilidade que tem enquanto Presidente da Câmara de Lisboa por uma situação onde tem menos exposição mediática, na antecipação das legislativas de 2026.

É por isto mesmo que um dirigente socialista acredita que “este não é o tempo dele“.