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Escavações com mais de 10 anos permaneciam um enigma. Até uma equipa de investigadores juntar as peças (literalmente).
Sutton Hoo, um local do National Trust em Suffolk, Inglaterra, é conhecido pelos fãs de mistério por conter um “navio-fantasma” anglo-saxónico do século VII, enterrado num monte e descoberto nos anos 30.
O conteúdo do navio tem permanecido uma incógnita desde então… até agora. Investigadores descobriram por acaso nos anos 80 um vaso bizantino do século VI que se encontrava dentro da embarcação, e agora novas escavações realizadas no verão passado desenterraram mais um bloco de terra que continha pedaços desse balde.
E vinham com uma surpresa: dentro do balde, estavam restos cremados de animais e de seres humanos. Tanto os ossos humanos como os de animais estão a ser estudados e datados por radiocarbono para apurar um contexto adicional, mas as descobertas são já reveladoras. As análises iniciais também sugeriam a existência de objetos de sepultura no interior do balde (incluindo um curioso pente feito a partir de um chifre).
Vários enterramentos de cremação em Sutton Hoo foram colocados em recipientes como vasos de cerâmica e taças de bronze, no entanto, nunca tinham sido encontrados os restos mortais preservados em qualquer vaso.
Agora, a equipa acredita que estes baldes serviam para transportar as cinzas de alguma personalidade importante. “Sabíamos que este balde teria sido uma posse rara e valiosa nos tempos anglo-saxónicos, mas sempre foi um mistério a razão pela qual foi enterrado”, disse Angus Wainwright, arqueólogo do National Trust, citado pela CNN.
“Agora sabemos que foi usada para conter os restos mortais de uma pessoa importante da comunidade de Sutton Hoo. Tenho esperança de que uma análise mais aprofundada possa revelar mais informações sobre este enterro tão especial”, diz.
“Não sabemos ao certo como é que este balde, fabricado a centenas de quilómetros de distância no Império Bizantino, veio parar a este canto de Suffol”, admite, mas “ao reutilizar este objeto de luxo como recipiente de cremação, está-se a assinalar algo sobre o estatuto do indivíduo enterrado (como era visto em vida e na morte) e as suas ligações. Estas últimas descobertas ajudaram a redefinir o balde de um possível achado isolado para parte de um contexto de enterro”.
“Resolvemos finalmente o enigma do balde de Bromeswell — agora sabemos que é o primeiro destes objectos raros a ser utilizado num enterro de cremação. É uma mistura notável — um recipiente do mundo clássico do sul contendo os restos de uma cremação muito setentrional e muito germânica“, disse Helen Geake, especialista anglo-saxónica.
Mas o mistério do navio mantém-se: há ainda muito para descobrir, admite a investigadora. “Quem sabe o que mais poderá ainda conter?”