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Milhares de deslocados e recorde de 46,7ºC: até a NASA viu as chamas de Portugal

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Luís Forra / Lusa

Chamas intensas em Odemira

Quase 1800 bombeiros combatem as chamas de Portugal esta terça-feira. 1400 pessoas já foram retiradas das suas casas em Odemira. Presidente da Câmara de Leiria suspeita de crime e Santarém atinge recorde de temperatura máxima em 2023. O mundo está cada vez mais quente.

Quase 1800 bombeiros combatiam, ao início da manhã desta terça-feira,os incêndios em Portugal, dos quais mais de um milhar lutavam contra os três incêndios em curso mais significativos para as autoridades, em Odemira, Cinfães e Leiria, segundo a proteção civil.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), cerca de 120 concelhos do interior Norte e Centro e da região do Algarve estão em perigo máximo de incêndio esta terça-feira.

Em perigo muito elevado estão cerca de 60 concelhos dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Portalegre, Évora, Beja e Faro.

Já em perigo elevado estão mais de 60 concelhos dos distritos de Faro, Beja, Évora, Portalegre, Santarém, Lisboa, Coimbra, Aveiro, Porto, Braga e Viana do Castelo.

Para esta terça-feira, o IPMA prevê a continuação do tempo quente, com uma pequena subida de temperatura no nordeste transmontano e uma descida da temperatura máxima no litoral, que será acentuada em alguns locais do litoral Centro.

1400 deslocados em Odemira. Incêndio apanhado pela NASA

De acordo com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), o incêndio que começou em São Teotónio (Odemira), no sábado, e que já obrigou deslocação preventiva de cerca de 1.400 pessoas é o que mais meios mobilizava pelas 07:30, com um total de 841 operacionais, apoiados por 284 viaturas.

Este incêndio no distrito de Beja — que se alastrou a Monchique — obrigou a evacuar 19 pequenas povoações, a maioria no concelho de Odemira e uma no de Monchique, além do Parque de Campismo de São Miguel.

O fogo — que já entrou por algumas vezes no Algarve, tendo na segunda-feira à tarde rodeado Odeceixe, no concelho de Aljezur, distrito de Faro — já levou a Câmara de Odemira a ativar o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil, com efeitos desde as 14:30 de domingo. Cerca de 350 pessoas deslocadas já foram acolhidas pela Câmara Municipal.

“Mantemos dois pontos críticos: um a norte, na zona de Delfeira, que inspira muita preocupação, e também a sul, na frente virada a Monchique”, disse o comandante regional de Emergência e Proteção Civil do Alentejo, José Ribeiro, num ponto de situação aos jornalistas cerca das 09:30, no posto de comando em São Teotónio, freguesia onde o fogo teve início, na zona de Baiona.

Estes dois pontos “vão exigir muita atenção e esforço dos operacionais ao longo do dia”, acrescentou, sublinhando as previsões de manutenção de temperaturas elevadas.

O incêndio atingiu tais dimensões que foi visível em imagem capturada pela NASA, captada pelo satélite MODIS da agência.

Leiria: Presidente da Câmara suspeita de fogo posto

Segundo a informação disponibilizada no ‘site’ da ANEPC, depois do incêndio de Odemira, o fogo que eclodiu na segunda-feira à tarde na localidade de Arrabal, em Leiria, e obrigou ao corte da A1 era o que mais meios mobilizava pelas 07:30, com um total de 138 operacionais, apoiados por 43 viaturas. O fogo já está em resolução, mas tarde pode ser complicada devido ao calor.

Depois deste incêndio, é igualmente considerado significativo para as autoridades o fogo que deflagrou na tarde de segunda-feira em São Cristóvão de Nogueira, no concelho de Cinfães, distrito de Viseu. Pelas 07:30, mobilizava ainda 62 operacionais, apoiados por 17 viaturas.

O fogo que tinha deflagrado na localidade de Caranguejeira, em Leiria, está já em resolução, mas pelas 07:30 mantinham-se no local 230 operacionais, apoiados por 68 viaturas. Este incêndio eclodiu perto das 14:00 de segunda-feira, à mesma hora do de Arrabal, também no concelho de Leiria.

O presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, apelou esta segunda-feira a uma “investigação contundente” para encontrar eventuais “criminosos” responsáveis pelos incêndios na freguesia da Caranguejeira.

“Tem de existir uma estratégia de investigação mais contundente para que se consiga apurar os criminosos que estão por detrás deste tipo de incêndio e que haja outro tipo de penalizações para este tipo de crime, se não vai-se repetir”, apelou Gonçalo Lopes (PS).

“Toda a gente diz nestas freguesias, em especial na Caranguejeira, que só poderá ser de origem criminosa e que possivelmente poderá ser só uma pessoa que está na origem deste tipo de acontecimentos, o que nos deixa muito preocupados”, revelou.

Gonçalo Lopes reforçou: “é necessário montar e planear uma estrutura de investigação que consiga apanhar estas pessoas”. As ignições desta segunda-feira à tarde tiveram um minuto de diferença e o presidente da Câmara admite que tal é “estranho”.

Santarém, com 46,4ºC, bate recorde de temperatura máxima de 2023

A massa de ar quente que atravessa Portugal continental — e que fez subir as temperaturas acima dos 40 graus em muitas localidades — terá sido responsável pelo recorde de temperatura máxima de 2023. A estação meteorológica de Fonte Boa, em Santarém, atingiu a temperatura de 46,4 graus Celsius, de acordo com dados do IPMA fornecidos ao Público.

Na segunda-feira, o ministro da Administração Interna, José Luis Carneiro, afirmou que “para já” não vai ser declarada a situação de alerta devido aos incêndios rurais, tendo em conta a resposta do dispositivo ao combate e as condições meteorológicas.

Desde o início do ano, as mais de 5.655 ocorrências de fogo já afetaram 24.914 hectares de espaços rurais.

Julho foi o mês mais quente alguma vez registado na Terra

Julho foi o mês mais quente alguma vez registado na Terra, informou hoje o serviço europeu Copernicus.

O mês passado, marcado por ondas de calor e incêndios em todo o mundo, foi 0,33°C mais quente do que o mês que detinha o recorde até agora (julho de 2019, quando se registou uma média de 16,63°C). A temperatura do ar foi também 0,72°C mais quente do que a média (1991-2020) em julho, indicou o Copernicus.

Um dado que levou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a afirmar que a Humanidade tinha deixado para trás a era do aquecimento global para entrar na da “ebulição global”.

Os oceanos também testemunham esta evolução preocupante, com temperaturas à superfície anormalmente elevadas desde abril e níveis sem precedentes em julho. Em 30 de julho, foi estabelecido um recorde absoluto de 20,96°C e, no conjunto do mês, a temperatura à superfície foi 0,51°C superior à média (1991-2020).

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Lá estão de novos as temperaturas a ser misturadas com a natureza criminosa dos incêndios!
    Ventos e temperatura altas beneficiam a propagação de incêndios florestais, mas não são a causa na sua origem.
    Mato não entra em autoignição a 45ºC, nem lá perto.

  2. Totalmente de Acordo.
    Todos os incêndios são fogo posto.
    Não percebo porque querem lavar isso.
    Quando os incêndios deflagram à noite deve ser do sol da meia noite.
    Para mim há muitos anos que isso é terrorismo.
    Também há aqui muita incompetência à mistura.
    Mais… No tempo da outra senhora não acontecia nada disto.

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