Mesmo com a pressão dos agricultores, Rio não disse ‘não’ ao PAN, mas recusou estar “refém” do Chega para formar Governo

NUNO VEIGA/LUSA

O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio (C), durante uma arruada no centro histórico de Évora, no âmbito da campanha eleitoral para as Eleições Legislativas 2022

No nono dia de campanha, em que Rui Rio esteve em Beja e em Portalegre — distritos onde o PSD dificilmente conquista os seus resultados mais exuberantes —, ainda assim, e mostrando que é um homem consistente, o líder dos sociais-democratas não deixou de aproveitar a ocasião para reforçar a ideia de que António Costa, o seu principal adversário, deturpa constantemente as suas ideias — em resposta às declarações do secretário-geral do PS, onde insinuava que o programa do PSD continha “maroscas”. Numa sessão programática sobre Agricultura, o tópico que fez Rio atirar aos socialistas foi o do salário mínimo.

“É fácil vender que somos contra o salário mínimo. Mas isso é mentira, quase difamatório. Quem é que consegue viver aceitavelmente com 700 e 800 euros? É politiqueiro, pode funcionar, mas não é sério. Queremos subir os salários, mas temos de ser capazes de produzir mais riqueza. O problema não é trabalhar mais, é trabalhar melhor. Esforço as pessoas já fazem.”

Ao lado de Rio esteve Arlindo Cunha, especialista do partido em Agricultura e que em 2019 chegou a ser apontado como potencial responsável pela pasta num Governo encabeçado pelo partido. Não é por isso de estranhar que tenha sido a principal voz na tarefa de acalmar os agricultores que ao longo do dia pediam a Rio que rejeitasse qualquer tipo de coligação com o PAN. “Coligações com partidos anti agricultura no Governo, não”, podia ler-se nas bandeiras de alguns dos 100 agricultores que esperavam Rio na Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre, mas de quem não obtiveram a resposta inequívoca que ansiavam.

“Negociar não é propriamente chegar à mesa das negociações e pôr em cima da mesa um programa derrotado. Negociar é respeitar o programa que ganhou e, depois, pedir, exigir no quadro de negociação, aspetos que são passíveis de negociação. […] Nós temos de ter o bom senso e o equilíbrio e sabemos quais são as linhas vermelhas de quem temos à nossa frente e, relativamente ao PAN em concreto, naturalmente que assim procederemos”.

O líder dos sociais-democratas, ainda assim, não virou costas sem antes fazer uma promessa. “Se ganhar as eleições, as florestas ficam na Agricultura“, atirou.

Ainda no âmbito do mundo rural, mas com São Bento no horizonte, Rio considerou pouco felizes as declarações de António Costa sobre a necessidade de “tratar bem o gado, alimentar o gado, e acarinhar o gado, para que o gado engorde”. Essas declarações não são muito felizes. Diz que tem de alimentar o gado e fazer mais não sei quê ao gado… não foram declarações muito elegantes“, considerou. Recusou também a possibilidade de estar “refém” da extrema-direita para formar Governo, uma ideia que havia sido deixada por António Costa na entrevista à Rádio Renascença.

“Se nós ganharmos, os deputados do Chega terão de viabilizar um Governo do PSD, que poderá ser com a IL e o CDS ou não, ou se vão juntar os seus votos aos do BE e do PCP contra o nosso Governo. […] A não ser que António Costa ache que há deputados de primeira e deputados de segunda, se vamos eleger 230 deputados, haverá os que votam no meu Governo ou no meu OE e os que não votam. Eu não vou interromper os trabalhos e pedir ao Presidente da AR para tirar os deputados de Chega da sala.”

A linha vermelha de Rio continua a ser a mesma de há meses. “A partir do momento em que o Chega diz que só há entendimento se o Chega participar no governo, e para nós isso não é possível, está para lá da linha vermelha, não há problema nenhum, o problema está resolvido”.

ZAP //

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