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A nossa memória a curto prazo gosta de nos enganar (por um bom motivo)

Cientistas descobriram que a nossa memória a curto prazo está preparada para nos enganar propositadamente, sendo uma espécie de truque que nos permite reconhecer melhor o que vemos à nossa volta.

Pense, por exemplo, no momento em que atravessa a rua. Olha para a esquerda e vê um carro e um ciclista a aproximar-se, depois olha para a direita. Então, olha outra vez para a esquerda e vê o mesmo carro e o mesmo ciclista, só que numa posição diferente.

Segundo o site Science Alert, este exercício pode parecer simples, mas o nosso cérebro precisa mesmo de fazer alguma ginástica mental para dizer-nos que é o mesmo carro e o mesmo ciclista.

“À primeira vista, não parece uma coisa boa o facto de a nossa memória a curto prazo refletir algo diferente do que vemos fisicamente. Mas a verdade é que se não conseguisse fazer isso, veríamos uma situação completamente nova quando olhássemos para a esquerda pela segunda vez”, explica o psicólogo Christoph Bledowski, da Universidade Goethe, na Alemanha.

“Isso seria bastante confuso, porque um carro e um ciclista diferentes apareceriam subitamente do nada”, acrescenta o investigador, um dos autores do estudo publicado, no final de abril, na revista científica Nature Communications.

A equipa pediu a 109 voluntários para rastrear o movimento de pontos vermelhos e verdes num monitor, ao longo de quatro experimentos separados. Os testes variaram a posição e a velocidade dos pontos, algumas vezes combinando-os na mesma tela e outras vezes mantendo-os separados.

A análise mostrou que o que os participantes “viram” da segunda vez foi influenciado pelas suas primeiras observações – “não muito, mas sistematicamente”, segundo Bledowski.

De acordo com o estudo, o que a nossa memória a curto prazo faz é usar pistas da direção do movimento, cor e posição espacial para introduzir erros deliberados (parece que o espaçamento dos objetos e a ordem em que são exibidos são particularmente importantes).

“As informações contextuais ajudam-nos a diferenciar entre objetos diferentes e, consequentemente, a integrar informações do mesmo objeto ao longo do tempo”, explica Cora Fischer, outra das autoras do estudo.

Voltando à analogia de atravessar a rua, os testes também mostraram que a memória a curto prazo é capaz de processar as perceções do carro e do ciclista separadamente — com base no local onde estes deveriam começar, não no local em que estavam em relação um ao outro.

“O leve ‘embaçamento’ da nossa perceção pela memória leva-nos a perceber o nosso ambiente, cuja aparência muda constantemente devido a mudanças de movimento e de luz”, diz Bledowski.

ZAP //

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