Quatro séculos e uma pandemia depois de o Mayflower original ter zarpado do porto de Southampton, numa jornada histórica para a América, outro veículo pioneiro com o mesmo nome partiu para refazer a mesma viagem.
O Mayflower tornou-se famoso por, em 1620, ter transportado os primeiros peregrinos de Southampton, Inglaterra, para o então chamado Novo Mundo, dando origem aos países que hoje conhecemos como Estados Unidos e Canadá.
O navio transportava 102 passageiros, na sua maioria puritanos separatistas, que procuravam liberdade religiosa. Estes foram os primeiros colonos a estabelecer-se nas terras da América do Norte, tendo chegado a Plymouth no dia 11 de novembro.
Agora, um navio robótico, ele próprio pioneiro, vai refazer a viagem do seu homónimo de 1620. O “Mayflower 2.0“, ou Mayflower Autonomous Ship (MAS), tem paragens previstas em Provincetown e Cape Cod, antes de seguir para Plymouth, Massachusetts.
Este novo Mayflower é um navio robótico com traços elegantes, que não leva a bordo nenhuma tripulação humana ou passageiros. É pilotado por uma Inteligência Artificial muito sofisticada, para que a travessia transatlântica seja realizada em apenas 3 semanas.
O projeto Mayflower, que inaugura uma nova era para as pesquisas em navios autónomos, pode revolucionar a forma como a marinha realiza estudos científicos.
Os designers do navio esperam que seja o primeiro da nova geração de veículos de alta tecnologia que conseguem explorar regiões oceânicas de acesso demasiado difícil e perigosas para serem exploradas por pessoas.
O novo navio tem 15 metros e funciona através de um motor elétrico híbrido impulsionado através da luz solar. Possuiu câmaras controladas por Inteligência Artificial e dezenas de sensores a bordo que irão recolher dados sobre a acidificação dos oceanos, microplásticos e conservação dos mamíferos marinhos.
O navio foi construído pela IBM, como parte de uma pesquisa sem fins lucrativos organizada pela ProMare.
O Mayflower 2.0 começou a sua jornada às primeiras horas do passado dia 15, uma terça-feira – ao contrário do seu bisavô, que partiu de Southampton a uma quarta-feira. Se a viagem decorrer como programado, será o maior veículo autónomo a atravessar o Atlântico até agora.
Esta viagem estava marcada para ter lugar em 2020, ano em que se comemorava o 400.º aniversário da viagem realizada pelo navio original. A embarcação leva lembranças de pessoas de ambos os lados da travessia, como pedras, fotografias e livros.
O seu lançamento teve que ser adiado devido à pandemia de covid-19 e, de novo, mais recentemente, devido ao mau tempo, explicou Jonathan Batty, porta-voz da IBM. “É um equipamento completamente novo, nunca foi criado antes”, assegura Batty.
As comemorações estavam preparadas para envolver ingleses, americanos e holandeses, e também a população de Wampanoag, onde os colonos desembarcaram, que foi completamente marginalizada nos aniversários anteriores.
Segundo Batty, o atraso permitiu que se adicionasse uma característica única ao navio – uma “língua” elétrica – que consegue analisar instantaneamente a composição química do oceano.
O navio, que custou 1.3 milhões de libras, deverá demorar cerca de três semanas a concluir a viagem até à América, se as condições meteorológicas se mantiverem boas.
A sua jornada pode ser acompanhada online.