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Martin Luther King foi assassinado há 50 anos. Mas o “sonho” não morreu

robert_trudeau/ / Flickr

Martin Luther King em 1958

Esta quarta-feira, 4 de abril, completam-se 50 anos do assassinato de Martin Luther King Jr., um dos principais líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos EUA.

“A última campanha de Martin Luther King Jr. foi a ‘Campanha dos Pobres’. É muito importante eliminar a pobreza e isso ainda não foi conseguido”. Quem o diz é Tom Houck, ativista que trabalhou como assistente pessoal de um dos principais líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos EUA e que, há 50 anos, foi assassinado no Tennessee.

Filho e neto de pastores protestantes batistas, Martin Luther King Jr. formou-se em teologia e foi pastor em Montgomery, capital do Alabama. Lá, iniciou a sua luta pela igualdade de direitos para negros e brancos nos Estados Unidos.

Caso disso foi o boicote aos serviços de transportes que liderou, em 1955, quando a costureira negra Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar no autocarro a um branco e foi presa. O boicote durou quase um ano e King também foi preso.

Na década de 60, durante os boicotes aos transportes públicos, Houck, ainda estudante, decidiu seguir o reverendo e, desde então, nunca mais abandonou a sua luta pela igualdade racial.

Houck conta que conheceu o líder norte-americano na entrada da Conferência da Liderança dos Cristãos do Sul (SCLC), a organização presidida por Martin Luther King que mobilizava as igrejas negras para protestos não-violentos. “Era um rapaz branco, de cabelos longos e castanhos, sentado no passeio à espera de boleia. Foi quando o Dr. King me viu e perguntou se eu queria almoçar em casa dele”.

No mesmo dia, Coretta, a esposa do reverendo, tinha comentado sobre a necessidade da família em ter um motorista. Houck aceitou o desafio: nos nove meses seguintes, transportou os seus quatro filhos da casa para a escola e até mesmo o casal.

Nascido em Massachusetts, o ativista recorda as históricas marchas de Selma a Montgomery, em 1965. No dia 7 de março, 600 manifestantes saíram às ruas para exigir o direito ao voto para os negros daquele estado. O dia ficou conhecido como “Domingo Sangrento”, com os manifestantes a serem violentamente reprimidos pela polícia.

A transmissão ao vivo das imagens de violência chamou a atenção do povo norte-americano. Duas semanas depois, King liderou uma nova marcha a partir de Selma. Foram três as manifestações que enfrentaram a resistência branca. Os protestos eram organizados por estudantes negros com apoio do reverendo. Meses depois, o Presidente Lyndon Johnson assinou a lei que permitia o direito de voto para os cidadãos negros.

Houck conta que a participação nas marchas de Selma provocaram a expulsão da escola que frequentava na altura. “Fui considerado um subversivo. Um rapaz branco a marchar em defesa do movimento negro”, diz, lembrando que a segregação racial sempre o tinha incomodado. “Quando tinha seis anos, ia para escola e questionava-me por que motivo as casas-de-banho dos negros e brancos eram separadas”.

Benedict J. Fernandez / Wikimedia

Martin Luther King Jr.

“I have a dream”

Hoje, aos 70 anos de idade, Houck criou um passeio turístico especializado em direitos civis em Atlanta, na Geórgia, cidade em que Martin Luther King nasceu e viveu e onde conta histórias e experiências vividas com o reverendo.

Uma das paragens do passeio, por exemplo, é a casa onde o ativista viveu com a família os seus últimos anos de vida, no sudoeste de Atlanta, um dos bairros mais pobres e violentos da cidade, maioritariamente habitado por negros.

Houck tenta sempre mostrar que Martin Luther King Jr. era uma pessoa real. “Não era perfeito mas tinha o sonho e teve a visão que conhecemos e que seguimos”, afirma.

Outro local é o cemitério para onde o corpo do ativista foi levado inicialmente. Em 1984, o corpo teve de ser transferido para o parque nacional, situado no centro de Atlanta. Segundo Houck, o motivo foram as sucessivas tentativas de saque ao jazigo da família.

Sobre a lição mais importante aprendida com o ícone da luta contra o racismo, Houck afirma que, sem dúvida, foi a resistência, a não-violência e o amor.

A 28 de agosto de 1963, Martin Luther King Jr. fez o seu discurso mais emblemático para mais de 200 mil pessoas que marcharam, em Washington, pelo fim da segregação racial. “Eu tenho um sonho. O sonho de ver os meus filhos julgados pelo caráter e não pela cor da pele”, afirmou.

No ano seguinte, recebeu o Prémio Nobel da Paz e, a 4 abril de 1968, foi baleado e assassinado num hotel na cidade de Memphis. A luta de King levou à implantação da lei dos Direitos Civis e dos Direitos de Voto, em 1964 e 1965, que colocaram um ponto final nas normas estaduais de segregação racial nos EUA.

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