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“O meu marido perdeu uma fortuna”. Van Dunem diz que passagem pelo Governo foi “tragédia” económica

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José Sena Goulão / Lusa

A Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem

A ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, diz que ser ministro não compensa. No seu caso pessoal, foi até “uma tragédia” do ponto de vista económico. “O meu marido perdeu uma fortuna”, lamenta.

“Um ministro não ganha para o que faz.” Quem o diz é Francisca Van Dunem que esteve no Governo de António Costa durante seis anos, a liderar a pasta da Justiça.

Em entrevista ao Expresso, a ex-ministra foi confrontada com a polémica devido ao conflito de interesses pelo facto de o seu marido, o jurista Eduardo Paz Ferreira, ter assinado contratos com o Estado enquanto ela esteve no Governo.

“Ele não ficou diminuído por estar casado comigo e era lógico continuar com a actividade. Exigir que fosse diferente significava eu não aceitar ser ministra, o que os populistas defendem, ou ele morrer na miséria“, defende Van Dunem.

“O meu marido perdeu uma fortuna”, diz ainda no semanário. “Do ponto de vista económico, a minha passagem pelo governo foi uma tragédia“, acrescenta, sublinhando que “enquanto magistrada, ganhava mais”.

Para Van Dunem, o cargo de ministro “é só para pessoas com um grande amor à causa pública ou que estão no desemprego“.

Quanto à questão do conflito de interesses, a ex-ministras defende que é preciso “ter exigência”, mas sem “entrar em delírios radicais e infantis“.

Na entrevista ao Expresso, Van Dunem comenta também a “mediatização da justiça”, lamentando que esteja “de hora a hora” nos noticiários “porque o crime vende”.

Esta mediatização joga contra processos complexos como o do BES/GES que envolve o ex-banqueiro Ricardo Salgado. “Para as pessoas, deixou de ser suportável que estes processos não tenham um desfecho ao mesmo tempo que têm o desfecho nas notícias das nove”, salienta,

“A Justiça só é Justiça se aqueles que praticaram actos criminosos forem condenados. E a Justiça que não é atempada não é Justiça“, diz ainda, recordando que “antes de sair do Governo se fez uma estratégia nacional anti-corrupção”.

Recados a Ivo Rosa e Carlos Alexandre

Van Dunem comenta ainda a guerra entre os juízes Ivo Rosa e Carlos Alexandre, salientando que “parece faltar bom senso”. “Em determinados casos, é preciso ter um comportamento exemplar”, nota, sublinhando que seria melhor se a Justiça funcionasse “num ambiente de maior serenidade, com menos cargo de personalidades”.

A ex-ministra nota ainda que seria bom que “não houvesse tanto” o que diz ser uma “transferência para o exterior daquilo que parecem ser estados de alma, desabafos, reacções intempestivas“.

“A justiça ganharia com maior serenidade quer ao nível da actividade normal dos magistrados, quer ao nível dos pronunciamentos públicos que se fazem a respeito das causas da justiça. Essa cacofonia gera perturbação e incerteza“, conclui.

Racismo sente-se com “os ouvidos nas costas”

Van Dunem fala ainda do racismo e nota que “a circunstância de ter tido determinados cargos gerou alguma perplexidade” por ser uma mulher negra.

“Obviamente abanou aquela estrutura que encontrou o inesperado e que tinha um juízo prévio sobre o que aconteceria com esse inesperado, que se concretizou ou não. Dependendo das cabeças”, constata na mesma entrevista.

Mas o racismo não se sente directamente em “posições de poder”, analisa. “Normalmente tenho consciência desses fenómenos [sobre mim] por aquilo que terceiros me dizem. São os ouvidos nas costas“, considera.

“Inicialmente têm uma expectativa negativa que se convola em positiva, porque depois as coisas não se passam de acordo com os padrões que o preconceito cria. Sinto pena. Vivo com isto há 66 anos. E as coisas não mudam muito”, conclui Van Dunem.

ZAP //

 

13 Comments

  1. Vieram-me as lágrimas aos olhos !!!, depois de esta entrevista será muito mais difícil encontrar alguém que queira ser deputado.
    O que ela se esqueceu de dizer foi quantas portas se abriram de pois de sair de deputada ou quantas fortunas/benesses do estado usufrui por ter sido deputada.

  2. Foram tantas afirmações vergonhosas as desta que só lendo de novo o artigo. Será que ela já terá ouvido a notícia de hoje de que a maioria dos abusadores sexuais de crianças apanham pena suspensa? Quem foi ministra da justiça afinal? O marido ficar na miséria… LOL. Não posso dizer realmente o que quero senão tenho o comentário censurado.

  3. Vamos todos dar as mãos no sentido de apoiar este lar. Donativos para o IBAN PT50 0000 0000 00000000000 00
    Amanhã podes ser tu a precisar!

  4. É uma tristeza verificar que os africanos que foram vítimas das brutalidades da colonização portuguesa e outras são capazes de revelar uma capacidade de tolerância maior do que os agressores que perpetraram os abusos e humilhações. Nenhum presidente africano é recebido em Portugal como o Marcelo é recebido nos mais diversos países africanos. Acho, no entanto, que os africanos não têm que se queixar, têm que desvalorizar e fazerem a sua vida. porque tanto há africanos em Portugal como há portugueses em África. O que é preciso é seguir em frente, cada um na sua vida a fazer o seu trabalho.

  5. Essa lamúria desvaloriza-a e à pretensão de sacrifício pela causa pública. Casais há, e muitos no país, que beneficiam umas vezes e perdem em muitas outras pelas opções que cada um toma ou tem de tomar. São casais e tomam decisões em conjunto, assumindo as consequências. A lamúria que possam fazer não altera nada das regras que existem ou que devam existir por uma questão de transparência. E os casais de ministros não deveriam assumir estar num Olimpo…

  6. Queixas contra o racismo por parte de pessoas como Francisca van Dunem, que foi Ministra de Portugal durante seis anos, não são muito para acreditar. É já só por hábito. E o facto é que nunca ouvi, ao longo desses seis anos, qualquer comentário negativo por causa da origem africana da ex-ministra. Foi figura de estado respeitada, e a esmagadora maioria dos portugueses ficaram satisfeitos por uma mulher africana ter sido nossa ministra. Mas é preciso que os portugueses de origem africana deixem de se estar sempre a queixar de um racismo que, a existir, é extremamente residual. Basta ver a enorme quantidade de casais mistos e a enorme quantidade de crianças mestiças em Portugal, para se perceber que os negros são vistos como pessoas como quaisquer outras. Por favor acabem com lamúrias injustificadas.

  7. Numa coisa ela tem razão: ou não tem ninguém na família que trabalhe para o Estado ou tenha qualquer tipo de ligação ao Estado por mais reles que seja ou estão lixados com f. Chama- se a isso ser mais papista que o Papa quando se sabe que Cavaco Silva, quando ainda PR beneficiou do facto de ser amigo pessoal de Salgado para poder vender as ações do BES antes que o banco fosse á falência. Todos os outros ficaram sem o dinheiro, mas sua excelência ainda vinha defender o banco e a compra das ações;ou tem de deixar de trabalhar mesmo.

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